Governo Bolsonaro termina com aumento de 60% da taxa de desmatamento na Amazônia.
Desmatamento flagrado pelo IBAMA
INPE divulga estimativa de
11.568 km2 para 2022; mesmo com queda no último ano, mandato atual
teve o maior aumento da devastação desde o início das medições por satélite.
Após 4 anos “passando a
boiada” e metendo a “foice no IBAMA”, o governo de Jair Bolsonaro termina com
um aumento de 59,5% da taxa de desmatamento na Amazônia em relação aos quatro
anos anteriores (governos Dilma e Temer). É a maior alta percentual num mandato
presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988. Bolsonaro
superou até mesmo o aumento visto no primeiro governo FHC, quando o forte
aquecimento da economia no início do Plano Real causou o maior desmatamento da
série histórica, de 29 mil km2, em 1995.
Em 30/11/22, o INPE
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou a estimativa para o ano de
2022: 11.568 km2 devastados, área equivalente à da Jamaica. Apesar
da queda de 11% em relação a 2021, há 13 anos não era registrada uma taxa tão
alta nos nove Estados da Amazônia Legal. A média anual sob Bolsonaro foi de
11.396 km2, contra 7.145 km2 no período anterior
(2015-2018).
“O regime Bolsonaro foi uma máquina de destruir florestas. Pegou o país com uma taxa de 7.500 km2 de desmatamento na Amazônia e o está entregando com 11.500 km2. A única boa notíca do governo atual é o seu fim“, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
4 anos de Bolsonaro: 60% de alta no desmatamento da Amazônia.
O dado do INPE está pronto
desde 03/11/22, antes do início da COP27, a conferência do clima de Sharm
El-Sheikh, no Egito. O governo, porém, optou por escondê-lo por 3 semanas. É o
segundo ano consecutivo em que o ministro do Meio Ambiente vai à conferência do
clima com os dados e deixa para divulgá-los depois.
No ano passado, na COP26, na
Escócia, o ministro Joaquim Leite silenciou de forma constrangedora diante de
perguntas de jornalistas sobre os dados do INPE — a pasta já sabia que a
estimativa mostrava a maior alta em 15 anos. Neste ano, o governo se antecipou
e vedou completamente qualquer debate sobre florestas no pavilhão oficial do
Brasil. Governadores da Amazônia, que queriam falar do assunto, precisaram
montar um stand próprio na COP.
Os dados de 2022 revelam uma
explosão do desmatamento no Amazonas, o único a ter aumento no corte raso neste
ano. Foram derrubados 2.607 km2, um incremento de 13% em relação a
2021. O Pará, mesmo com a redução de 21%, ainda lidera o ranking, com 4.141 km2
desmatados em 2022.
Além da inação do IBAMA, o
aumento do corte raso no Amazonas é explicado pela expectativa de asfaltamento
da BR-319 (Manaus-Porto Velho), rodovia que corta o maior bloco de florestas
intactas da Amazônia. Em julho, o governo Bolsonaro concedeu licença prévia
para a obra, atropelando pareceres de técnicos do próprio IBAMA.
A tendência atual no
Amazonas, caso nada seja feito, é que se repita no eixo da BR-319 a tragédia
ocorrida no entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), no Pará, que se transformou no
epicentro do desmatamento no começo do século, após o anúncio de sua
pavimentação.
A taxa divulgada 30/11/22 é do sistema Prodes, que calcula o dado oficial de desmatamento a cada 12 meses (medidos sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte). Outro sistema do INPE, o Deter, que vigia as motosserras em tempo quase real, produz dados de alertas de desmatamento para orientar a fiscalização (que ficou essencialmente inoperante neste governo). De janeiro a meados de novembro a área de alertas já é 9% maior do que em todos os 12 meses do ano de 2019, então recordista da série do Deter. Os dados do Deter de agosto a outubro, que comporão a série de 2023, mostram um aumento de 45% na área de alertas em relação a igual período do ano passado. É também o recorde da série histórica iniciada em 2015.
“Números recentes do Deter indicam que a devastação continua fora de controle. Jair Bolsonaro deixará para seu sucessor uma herança maldita de desmatamento em alta e uma Amazônia conflagrada. Se quiser ver os números de destruição florestal diminuírem em 2023, Lula terá que ter tolerância zero com o crime ambiental desde o primeiro dia de seu governo. E isso inclui responsabilizar judicialmente aqueles que sabotaram a governança ambiental no país enquanto ocuparam o governo nos últimos quatro anos “, afirma Astrini.
Ele alerta que a situação
pode ficar ainda pior caso o Congresso aprove ainda neste ano uma série de
projetos de lei conhecidos como “Pacote da Destruição”, que visam a anistiar a
grilagem de terras e a eliminar o licenciamento ambiental. “O governo Bolsonaro
acabou, mas a aliança entre o bolsonarismo e a banda podre do ruralismo
permanece no Congresso e no chão da floresta”, observa Astrini.
“Parte dessa redução pode ser
explicada por ações de controle de órgãos estaduais de meio ambiente, mas parte
também pode ser explicada pelo aumento das chuvas em Mato Grosso e Pará”,
comenta Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima. “O
consórcio MapBiomas encontrou indícios de ilegalidade em 98% dos desmatamentos
em 2021, e os órgãos de controle só atuaram em 27% da área desmatada. A
impunidade ainda predomina e precisa ser enfrentada com determinação no novo
governo.”
Tabela: índices de
desmatamento por mandato presidencial
|
Média anual período anterior/km2 |
Média anual mandato/km2 |
Variação |
Itamar* |
12.415 (1991-1992) |
14.896 |
20% |
FHC 1 |
13.652 (1991-1994) |
19.457 |
42,5% |
FHC 2 |
19.457 (1995-1998) |
18.825 |
-3,2% |
Lula 1 |
18.825 (1999-2002) |
21.617 |
14,8% |
Lula 2 |
21.617 (2003-2006) |
9.756 |
-54,8% |
Dilma 1 |
9.756 (2007-2010) |
5.473 |
-43,9% |
Dilma 2** |
5.451 (2013-2014) |
7.050 |
29,3% |
Temer |
7.050 (2015-2016) |
7.241 |
2,7% |
Bolsonaro*** |
7.145 (2015-2018) |
11.396 |
59,5% |
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