O texto final “salienta a urgência
de pactuar metas comuns para 2030 para combater o desmatamento”, mas tem como
“ideal” alcançar o desmatamento zero na região. O ponto era defendido pelo
governo brasileiro, que recuou para encontrar consenso com países mais pobres,
com dificuldades para se comprometer com a meta, como a Bolívia.
A declaração lança a Aliança
Amazônica de Combate ao Desmatamento, a partir das metas nacionais como a de
desmatamento zero até 2030 do Brasil. Foi a maneira de acomodar as diferenças
entre as legislações florestais dos países e os interesses.
Há contudo, sinalizações positivas. A principal delas é citar que é preciso evitar o ponto de não-retorno da floresta, quando o bioma fica empobrecido diante da incessante pressão do desmatamento e dos incêndios. É uma vitória da ciência, principalmente do pesquisador brasileiro Carlos Nobre, que cunhou o conceito em pesquisas sobre a resiliência da Amazônia com o norte-americano Thomas Lovejoy, na década de 90.
Se a Amazônia for desmatada em mais de 20% a 25%, pode transformar-se em uma savana, perdendo suas características de floresta tropical. O Brasil, segundo o MapBiomas, desmatou 21% da floresta. A região amazônica, contudo, já perdeu 17% de sua cobertura nativa.
O texto cria o Painel
Intergovernamental Técnico-Científico da Amazônia, na OCTA, com pesquisadores
da região e participação permanente de povos indígenas e comunidades
tradicionais.
Menciona a criação de Centro
de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, com sede em Manaus. A ideia
está no plano de segurança à Amazônia do ministro da Justiça Flavio Dino e a
intenção é coordenar ações e trocar informações com outros países, numa espécie
de Interpol amazônica. Trata-se de um esforço para erradicar as atividades
ilegais e o crime organizado.
Outro ponto é a criação de um sistema de controle de tráfego aéreo. A intenção é conseguir monitorar e combater o narcotráfico e a exploração ilegal de recursos naturais na região.
O avanço foi tímido na exploração de petróleo, tema que o Brasil bloqueava e a Colômbia impulsionava. Em seu discurso, o presidente Gustavo Petro foi eloquente em relação aos hidrocarbonetos. “Estamos às margens da extinção da vida. E, nesta década, nós políticos temos que tomar decisões”, disse. Reprovou o que chamou de “negacionismo progressista”, que não consegue se descolar dos interesses econômicos e do lobby dos combustíveis fósseis.
A Colômbia defendia que não
se abram novas frentes de exploração de petróleo na floresta, a contradição
mais evidente da agenda climática do governo Lula e dos Estados amazônicos. Em
rascunhos do texto, a citação era genérica. Na declaração final inicia-se um
diálogo entre os países sobre a sustentabilidade da mineração e da exploração
de petróleo. Foi uma vitória colombiana.
O texto cita 64 vezes os
povos indígenas, abrindo espaço ao tema. O tópico mais forte é o que garante os
direitos dos povos indígenas, comunidades locais e tradicionais, incluindo o
direito aos territórios e terras habitados por eles, “sua posse plena e efetiva”.
Menciona os processos de definição, delimitação ou demarcação, e titulação de
territórios e terras, de acordo com as diferentes legislações nacionais.
Nos parágrafos iniciais, a
declaração condena a “proliferação de medidas comerciais unilaterais que, com
base em requisitos e normas ambientais, resultam em barreiras comerciais”. O
texto diz que estas barreiras comerciais “afetam principalmente os pequenos
produtores em países em desenvolvimento, a busca do desenvolvimento
sustentável, a promoção de produtos amazônicos e os esforços de erradicação da
pobreza e de combate à fome, e ameaçam a integridade do sistema de comércio
internacional”.
A Declaração tem 113 artigos.
É longa e abrangente e foi celebrada como um ponto de partida para articulação
regional. O fortalecimento institucional da OCTA é um longo capítulo.
Institucionaliza o Observatório Regional da Amazônia (ORA), um painel de
monitoramento online de vários parâmetros da região, do desmatamento ao
surgimento de garimpos.
- O esperado compromisso
transnacional de desmatamento zero para a Amazônia em 2030 ficou de fora do
documento, mencionada como um objetivo a ser perseguido;
- A sugestão de barrar novos
campos de exploração de petróleo no bioma ficou de fora da declaração; há um
indicativo de que a questão tenha uma agenda de discussão;
- O texto é incisivo em
reafirmar o direito de indígenas à "posse plena e efetiva" de suas
terras, seja por "definição, delimitação ou demarcação, e titulação";
- A declaração menciona
quatro vezes que a floresta não pode ser destruída até chegar a um "ponto
de não retorno", a partir do qual cientistas estimam que ela não se sustenta
sozinha;
- Os países amazônicos usam o
texto para atacar países ricos que ameaçam impor barreiras comerciais a
produtos de áreas desmatadas, alegando que pequenos produtores são punidos.
(biodieselbr)
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