A população de Porto Alegre
cresceu 30 vezes nos últimos 150 anos da Independência do Brasil. Em 1872, no
quinquagésimo aniversário do Grito do Ipiranga, a cidade de Porto Alegre era a
5ª maior capital, com 44 mil habitantes, sendo maior que a cidade de São Paulo
que ficava em 9º lugar e tinha somente 31,4 mil habitantes. Em 1872, Porto
Alegre estava atrás apenas do Rio de Janeiro (275 mil), Salvador (129 mil),
Recife (116,7 mil) e Belém (62 mil).
No século XX o crescimento
populacional foi significativo e a população porto-alegrense ultrapassou 1
milhão de habitantes em 1980 e fechou o século com 1,26 milhão de pessoas.
Chegou a 1.409.351 em 2010 e caiu para 1.332.570 habitantes em 2022, segundo as
informações do último censo demográfico.
Em 2022, a cidade de Porto
Alegre era a 11ª capital em tamanho populacional, ficando atrás de São Paulo
(11,5 milhões), Rio de Janeiro (6,2 milhões), Brasília (2,8 milhões), Fortaleza
(2,43 milhões), Salvador (2,42 milhões), Belo Horizonte (2,32 milhões), Manaus
(2,1 milhões), Curitiba (1,77 milhão), Recife (1,49 milhão) e Goiânia (1,44
milhão).
O ritmo de crescimento populacional da capital gaúcha já estava diminuindo desde 1980, em função do avanço da transição demográfica. Mas a queda apresentada no censo 2022 foi uma surpresa e não estava prevista sequer nas projeções e estimativas do IBGE.
A estimativa populacional, do IBGE, para 2021 para a cidade de Porto Alegre foi de 1.492.530 habitantes, valor bem superior à cifra registrada no censo 2022. Todavia, como eu já vinha alertando nos últimos anos, as projeções populacionais do IBGE, divulgadas em 2018 e as estimativas municipais divulgadas em 2021 (mas calculadas com base nas projeções de 2018) estavam sobrestimadas, pois não levaram em consideração adequadamente a epidemia de Zika, a crise econômica da década passada e, principalmente, não incorporou o excesso de óbitos e a redução dos nascimentos que ocorreu durante a pandemia da covid-19 no Brasil.
Por conseguinte, o número de
1,49 milhão de habitantes estava exagerado, mas o número de 1,33 milhão de porto-alegrenses
encontrado no censo 2022 ficou muito aquém do esperado. Uma forma para se
avaliar o tamanho da capital gaúcha é utilizar os dados de nascimentos e óbitos
do Ministério da Saúde e somar o crescimento vegetativo do período
intercensitário à população de 2010.
A tabela abaixo, com dados do
Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informações sobre
Nascidos Vivos (SINASC), do Ministério da Saúde, mostra que a cidade de Porto
Alegre teve 213,7 mil nascimentos e 146,9 mil óbitos entre agosto de 2010 e
julho de 2022.
Desta forma, houve um crescimento vegetativo (nascimentos – mortes) de 66,7 mil pessoas no último período intercensitário. A população da capital gaúcha era de 1.409.351 habitantes em 2010 e com o crescimento vegetativo teria passado para 1.476.098 habitantes em 2022.
Evidentemente, o crescimento vegetativo não leva em consideração o movimento migratório. Mas a conta é útil para estimar quanto seria a população com um saldo migratório zero. Isto significa também que o número de 1,33 milhão em 01 de agosto de 2022, indicado pelo censo, só se justifica se tiver havido uma emigração de 143.528 pessoas que deixaram a cidade no período intercensitário. É difícil justificar uma emigração tão grande.
A cidade de Porto Alegre foi
muito atingida pela pandemia da Covid-19 e chegou a ter o número de óbitos
superando o número de nascimentos. Mas isto ocorreu basicamente em 2021, pois
nos demais anos os nascimentos superaram os óbitos.
O crescimento vegetativo era
esperado se analisamos a distribuição da população por sexo e idade. A figura
abaixo mostra a pirâmide populacional da cidade de Porto Alegre para 2010.
Nota-se que a população porto-alegrense tem uma estrutura etária mais
envelhecida do que a população brasileira (pirâmide cinza), mas ainda não
possui uma percentagem muito alta de idosos.
Portanto, o período de decrescimento demográfico só estava previsto para a década de 2030. Neste sentido, precisamos aguardar novas informações do censo 2022 para analisar com mais detalhes o que aconteceu com a população da capital gaúcha.
Indubitavelmente, o censo demográfico é a mais profunda e abrangente pesquisa do país, sendo fundamental para a formulação das políticas públicas e para a decisão de investimentos da iniciativa privada. Mas é preciso reconhecer que houve muita dificuldade para se realizar o recenseamento 2022.
O governo passado restringiu
os recursos para o IBGE se equipar e se preparar para realizar o levantamento
em 2020. As dificuldades já eram grandes quando veio a pandemia da covid-19 que
inviabilizou a realização da pesquisa no segundo semestre de 2020.
Em 2021, novamente, faltou
dinheiro e vontade política. A questão foi judicializada e o Supremo Tribunal
Federal obrigou o Governo Federal a liberar os recursos e fazer o censo em
2022.
O recenseamento foi a campo com a sociedade dividida e em meio a uma eleição extremamente polarizada. Houve atraso na coleta dos dados e não foi fácil aplicar os questionários nos inúmeros domicílios brasileiros. Desta forma, não tivemos um censo perfeito, mas sim um censo possível.
Todavia, com modelos estatísticos, dados secundários de registros administrativos e uma boa dose de criatividade os demógrafos e demais cientistas sociais poderão corrigir as eventuais falhas e desvendar a realidade da sociedade brasileira. Muitas dúvidas poderão ser dirimidas quando o IBGE divulgar as demais informações do censo 2022. (ecodebate)
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