A Grécia já foi um exemplo de
pioneirismo de democracia e filosofia no mundo. Porém, a tão decantada
democracia de Atenas estava restrita aos homens livres nascidos na cidade e
excluía as mulheres, os trabalhadores (escravos) e os metecos (imigrantes).
Portanto, o conceito de democracia era muito restritivo e deixava a maioria da
população de fora dos direitos políticos e sociais.
Nesta concepção limitada de
democracia, os tempos de glória da Grécia aconteceram há 2.500 anos, quando a
civilização helênica incluía Grécia, Egito, Mediterrâneo e boa parte do Oriente
Médio. A guerra do Peloponeso (431 a 404 a.C.), por exemplo, foi um conflito
armado entre Atenas e Esparta que enfraqueceu o país, sendo que os tempos de
glória terminaram em conflitos, na condenação de Sócrates, no fim da democracia
e no aumento da pobreza.
Nos dois milênios seguintes,
a Grécia perdeu sua identidade e tem sido dominada ou ameaçada por diversas
potências estrangeiras. No ano de 197 a.C. os romanos conquistaram as primeiras
vitórias sobre a Grécia. A partir de 168 a.C., Roma conquistou o território
grego, embora tenham recebido a influência da cultura helênica. Com a divisão
do Império Romano, a Grécia ficou sobre o domínio do Império Bizantino. Depois
sofreu vários ataques dos Persas, Lombardos, Ávaros e Eslavos. Durante séculos
a Grécia ficou dividida entre distintas dinastias. O ano de 1.453 marca o
início da hegemonia do Império Otomano na região.
Com a chegada dos Otomanos
(liderados pela atual Turquia), parte da população mais intelectualizada migrou
para a Europa e parte saiu das planícies migrando para as montanhas. A Igreja
Ortodoxa Grega foi uma instituição de ajuda (e dominação) da população. Em 1824
houve uma brutal repressão promovida pelos Otomanos contra a população grega.
Entre 1821 e 1829, houve uma insurreição popular até a conquista da
Independência.
Durante os séculos XIX e XX,
a Grécia lutou para defender suas fronteiras até alcançar sua configuração
atual em 1947. Durante a Primeira Guerra Mundial a Grécia ficou junto aos
aliados e contra a Alemanha, a Itália e os Turcos-Otomanos.
Após o fim da 2ª Guerra, a
Grécia passou por um período de guerra civil (entre comunistas e realistas/
monarquistas), que durou 3 anos (1946-1949), ocasionando milhares de mortes.
Nas décadas seguintes a Grécia viveu um período de baixo crescimento econômico,
ficando cada vez mais distante do padrão de vida europeu.
Em 1967, houve um golpe militar e o início da ditadura grega. Em 1973, a monarquia grega foi abolida. Somente em 1975 houve o processo de redemocratização (Portugal, Espanha e Grécia venceram as ditaduras). Daí em diante o cenário político foi dominado pelo partido socialista – PASOK – que ganhou as eleições em 1981, promoveu a entrada da Grécia na União Europeia (1981) e adotou o Euro como moeda única em 2001.
Em 2004, Atenas sediou as primeiras Olimpíadas do terceiro milênio. Com a moeda única e o acesso ao crédito farto e barato a Grécia experimentou o maior aumento do padrão de vida de toda a sua tumultuada história. A renda média per capita da Grécia ultrapassou em três vezes a renda per capita da Turquia. Nunca a distância entre gregos e turcos foi tão grande e a favor dos gregos. A Grécia, vivendo de turismo, chegou a ter uma renda per capita quatro vezes maior do que a da China.
Portanto, a entrada da Grécia
na União Europeia e no Euro foi um impulsionador do padrão de vida da população
e aumentou a importância do país no mundo. Porém, houve erro dos dois lados
neste processo de integração da Grécia na União Europeia. Os gregos erraram ao
promoverem um padrão de vida acima das suas capacidades e os europeus erraram
em financiar déficits crescentes nos primeiros 10 anos do século XXI.
A Grécia acumulou déficits
orçamentários e déficits comerciais crescentes. O montante da dívida pública
ultrapassou 2 vezes o tamanho do PIB. O governo grego promoveu uma orgia de
gastos para favorecer as grandes empresas, os setores religiosos e os
funcionários públicos. Existem relatórios que mostram que um deputado grego ganhava
mais do que um deputado alemão e cada representante legislativo da Grécia tinha
dezenas de funcionários à disposição, além de empréstimos ilimitados e sem
juros nos bancos oficiais.
A crise econômica que atingiu
o mundo em 2008 foi particularmente danosa para a Grécia, pois afetou o turismo
e provocou uma recessão (e redução da arrecadação de impostos) num momento em
que as dívidas gregas continuavam aumentando. Portanto, o país enfrenta
desafios econômicos, ambientais e demográficos.
A população grega cresceu na
segunda metade do século XX, mas deverá decrescer durante todo o século XXI. O
gráfico abaixo (painel do lado esquerdo) mostra a evolução da população total
da Grécia de 1950 a 2100. A população grega era de 7,45 milhões de habitantes
em 1950, chegou ao pico populacional no início do século XXI, com 11 milhões de
habitantes e já diminuiu para 10 milhões de habitantes em 2022.
As projeções da Divisão de
População da ONU mostram diversos cenários demográficos para o restante do
século. Na projeção média (a mais provável), a população grega vai decrescer
para 6,5 milhões de habitantes em 2100. Podendo ser de 9,5 milhões na projeção
alta ou de 4,5 milhões na mais baixa.
O outro gráfico abaixo (painel do lado direito) mostra a evolução da população de 15 a 59 anos. A população em idade ativa era de 4,5 milhões de pessoas em 1950, chegou a 7 milhões na primeira década do atual século e deve ficar pouco acima de 3 milhões de pessoas em 2100 (na projeção média). Desta forma, a Grécia deve ter uma redução pela metade na força de trabalho e terá de aumentar a produtividade do trabalho para manter a economia com aumento da renda per capita.
Os gráficos abaixo mostram a evolução da taxa de fecundidade total (TFT) e a expectativa de vida. A Grécia tinha uma TFT de cerca de 3 filhos por mulher em meados do século passado e caiu para abaixo do nível de reposição na década de 1980, ficando abaixo de 1,5 filho por mulher nas últimas 3 décadas. A Divisão de População da ONU prevê uma pequena recuperação até o final do atual século (como mostra o gráfico abaixo, painel da esquerda).
A expectativa de vida ao nascer da Grécia estava acima de 60 anos na década de 1950 e chegou a 80 anos na década passada (acima da expectativa de vida dos EUA que até hoje não chegou aos 80 anos). A expectativa de vida caiu durante a pandemia, mas já está se recuperando e deve ultrapassar 90 anos em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, painel da direita).
Os gráficos abaixo mostram a evolução da taxa de fecundidade total (TFT) e a expectativa de vida.
O aprofundamento da transição demográfica implica diminuição dos grupos jovens e de aumento da proporção dos grupos mais idosos. O gráfico abaixo (da esquerda) mostra que a população grega de 0 a 14 anos estava em torno de 2,2 milhões de jovens entre 1950 e 1990, já caiu para 1,4 milhão e deve chegar 800 mil jovens em 2100. O número de idosos (gráfico da direita) era de menos de 1 milhão de pessoas de 60 anos e mais de idade em 1950, deve ultrapassar 3,5 milhões de pessoas em meados do atual século e deve diminuir para 3 milhões de idosos em 2100.
O decrescimento populacional é o resultado do aprofundamento da transição demográfica e da transformação da estrutura etária. Os gráficos abaixo mostram o estreitamento da base e o alargamento do topo das pirâmides populacionais da Grécia entre 1950 e 2100.
A pirâmide etária de 1950
tinha uma base larga e um topo estreito, devido às altas taxas de natalidade e
mortalidade. Algumas entradas da pirâmide são resultado do aumento da
mortalidade e redução da natalidade ocorrido durante as duas Grandes Guerras da
metade do século XX.
A pirâmide populacional de 2022 mostra uma redução do tamanho dos grupos etários abaixo de 50 anos, refletindo a rápida queda nas taxas de fecundidade que ocorreu a partir da década de 1970, especialmente após o fim da ditadura grega. Já a pirâmide de 2100 apresenta uma base estreita e um topo largo em decorrência da manutenção secular de taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição. Portanto, a principal característica demográfica grega no atual século é o envelhecimento populacional.
A mudança na estrutura etária gera efeitos diferenciados na razão entre a população em idade ativa e inativa ao longo do tempo. O gráfico abaixo mostra a razão de dependência da população grega de 1950 a 2100. Nota-se que havia 60 pessoas consideradas dependentes para cada 100 pessoas em idade produtiva na segunda metade do século XX. A razão subiu e voltou para o mesmo patamar na virada do milênio. Este foi o período mais favorável ao aproveitamento do 1º bônus demográfico.
Porém, a razão de dependência já começou a subir e aumentará rapidamente nas próximas décadas, passando a ter mais pessoas em idade dependente do que pessoas em idade ativa. Nesta nova configuração, para avançar nos indicadores de desenvolvimento humano, a Grécia terá que aproveitar o 2º bônus demográfico (relacionado ao aumento da produtividade) e o 3º bônus (relacionado à longevidade).
O PIB da Grécia cresceu mais do que o PIB mundial logo após a redemocratização da década de 1970, mas iniciou um processo de longo declínio, passando de 0,6% no início dos anos 1980 para cerca de 0,25% na atual década (gráfico abaixo, do lado esquerdo). A renda per capita grega (em preços correntes em poder de paridade de compra) se manteve acima da renda média mundial e tem se beneficiado de ter uma moeda comum da União Europeia (gráfico do lado direito). Mas nos últimos 15 anos a renda per capita grega está estagnada e a diferença tem diminuído para a renda per capita global.
O crescimento demoeconômico, em geral, tem impacto negativo sobre o meio ambiente, pois um volume maior da produção e consumo de bens e serviços significa maior extração de recursos ecossistêmicos, com o consequente aumento da poluição e das emissões de gases de efeito estufa. Promover o desenvolvimento socioeconômico conjuntamente com a sustentabilidade ambiental continua sendo uma meta utópica ainda distante de ser colocado em prática.
O crescimento econômico da
Grécia de 1960 a 2007 aumentou a sobrecarga ambiental. Segundo o Instituto
Global Footprint Network, a Grécia tinha, em 1961 uma Pegada Ecológica per
capita de 1,92 hectares globais (gha) e uma Biocapacidade per capita de 1,46
gha.
Portanto havia déficit de
0,46 gha. Mas com o crescimento econômico a Pegada Ecológica per capita passou
para mais de 6 gha, mas com a crise econômica caiu para 4,1 gha e a
Biocapacidade se manteve aproximadamente no mesmo patamar, 1,17 gha em 2018.
Assim, o déficit ecológico per capita passou para 2,93 gha, o que representa um déficit relativo de cerca de 200%, conforme mostra a figura abaixo.
A dinâmica demográfica da Grécia vai apresentar decrescimento populacional no século XXI e vai chegar em 2100 com uma população menor do que aquela de 1950. Há quem diga que a Grécia vai enfrentar um “colapso demográfico”.
Mas, na verdade, a chamada
crise demográfica é um mito propagado pela ideologia pronatalista,
antropocêntrica e ecocida. O crescimento demográfico infinito é impossível de
ocorrer em um Planeta finito. Um dia o crescimento tem que chegar ao fim.
Evidentemente, o
decrescimento demográfico traz desafios e oportunidades. O maior desafio
decorre do envelhecimento populacional e do aumento da razão de dependência
demográfica. Mas com o aumento da produtividade da força de trabalho (2º bônus
demográfico) e a maior inserção da população idosa no processo produtivo (3º
bônus demográfico) pode existir prosperidade social na Grécia.
Porém, os gregos estão enfrentando
desastres naturais de proporções sem precedentes neste verão de 2023. Já foram
cerca de 600 incêndios florestais que ocorreram em todos os lugares e os
bombeiros continuam lutando contra as chamas em todas as ilhas.
Em Atenas, com temperaturas
acima de 40°C, as autoridades fecharam temporariamente a Colina da Acrópole,
lar do templo do Partenon, visitado por milhões de turistas todos os anos. As
queimadas atingiram um depósito de munição que explodiu. Milhares de pessoas
foram evacuadas devido a incêndios florestais que ameaçavam casas e hotéis na
ilha grega de Rodes.
O aquecimento global é uma grande ameaça para a habitabilidade grega. Com esforço, concomitantemente ao decrescimento demográfico, possa haver um florescimento do meio ambiente, com menor Pegada Ecológica, incrementos na Biocapacidade do país e maior adaptação à crise climática.
A Grécia terá com certeza uma população menor, mas poderá também ter uma população com maiores níveis de bem-estar populacional e ambiental. (ecodebate)
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