Este chegou ao ponto
de o planeta entrar num processo de ebulição, dada a incúria dos processos
humanos, especialmente do industrialismo e produtivismo capitalista (incluída a
China) que usam abusivamente de energia fóssil, carvão e outros elementos
produtores de efeito estufa.
O clima normal médio
da Terra é de 15°C. Mas esta média começou a subir tanto que ultrapassou em
julho/2023 a mais de 17°C.
Isso tudo se deve ao
fato de por ano serem lançadas na atmosfera cerca de 40 bilhões de toneladas de
CO2 que permanece na atmosfera por mais de 100 anos, acrescido ainda
do ácido nitroso e do metano que é 28 vezes mais danoso que o CO2,
embora fique na atmosfera por uns 9-10 anos.
As consequências
deste aumento se mostra por secas prolongadas, por inundações de inteiras
regiões e cidades, furacões, ciclones extratropicais como no Sul do país,
queimadas em quase todo o planeta.
As inflexões sobre as
vidas humanas são de grande monta. A conhecida revista Nature Medicine calculou
que o alto calor de 2022 provocou só na Europa 61 mil mortes. Nem falemos de
África e da Ásia ou de países mais pobres que vitimaram milhares de crianças e
de pessoas idosas, particularmente na parte central da Índia, onde a
temperatura chegou a 50°C.
A observar o pouco que as grandes corporações e os estados fazem para deter essa lenta, mas permanente ascensão da temperatura, tudo indica que já atingimos o ponto de não retorno.
A ciência e técnica chegaram atrasadas, não conseguem deter o aumento, apenas ajudam a minorar os efeitos danosos que serão inevitáveis.
Mas nem tudo é fatal.
Cabe lembrar que o improvável pode acontecer: os seres humanos sob a percepção
do risco de desaparecer, deem um salto de consciência, rumo à noosfera como
projetava Teilhard de Chardin ainda em 1933, vale dizer, unindo coração e mente
(noosefera) para mudar a forma de produzir, de consumir e particularmente de se
relacionar com a natureza, sentindo-se parte, não seus senhores e cuidando
dela.
Se observarmos a
biografia da Terra, constatamos que o aquecimento pertence à evolução de nosso
planeta. Quando ainda não existíamos como espécie sobre a Terra, há 250 milhões
de anos, o clima chegou e permaneceu por milhares e milhares de anos a 32°C.
Ocorreu uma massiva
extinção de espécies de seres vivos. Mais tarde, há 50 milhões e anos a Terra
chegou a 21°C; os crocodilos e as palmeiras adaptaram-se a esse aquecimento,
mas houve também grande extinção de organismos vivos.
Mais perto de nós, há
130 mil anos, a Terra alcançou a temperatura que neste momento estamos
verificando, de 17°C. Muitos seres desapareceram e o mar subiu entre 6-9
metros, o que teria encoberto toda a Holanda e as partes baixas do
norte-europeu.
Esse aumento do clima terrestre pertence à geoevolução. Mas o atual é causado pelos próprios seres humanos, não tanto pelas grandes maiorias pobres, mas pelas populações dos países opulentos, sem a justa medida em suas ações seja no assalto sobre a natureza seja nas formas de consumo suntuoso e nada solidário.
Fala-se que inauguramos uma nova era geológica, o antropoceno. Por este conceito se quer identificar que a grande ameaça à vida do planeta e ao futuro da natureza depende dos seres humanos. Estes, na expressão do biólogo da biodiversidade Edward Wilson, se comportaram como o Satã da Terra e transformaram o Jardim do Éden num matadouro.
Alguns vão mais longe
ainda e referem-se ao necroceno, dado o crescente processo de morte (necro) de
espécies de seres vivos na ordem de 70-100 mil por ano. Ultimamente se tem
falado do piroceno, quer dizer, da era do fogo. Este é causado também pelos
seres humanos, mas particularmente porque o solo ficou mais seco, as pedras se
terem aquecido; basta folhas secas e gravetos sobre elas para produzirem
grandes e devastadores incêndios por quase todo o planeta, mesmo na úmida
Sibéria.
Que cenários
poderemos enfrentar? São todos sombrios, caso não ocorrer um salto quântico que
defina outro caminho e outro destino para o sistema-vida e o sistema-Terra. Não
se pode negar que o planeta, dia após dia, está se aquecendo.
Os órgãos da ONU que
acompanham a evolução deste evento desastroso nos alertam que entre os anos
2025-2027 teremos ultrapassado os 1,5°C, previstos para 2030 pelo acordo de
Paris em 2015. Tudo se antecipou e nesta data, entre 2025-2027, chegaremos ao
que está ocorrendo atualmente, um clima que poderá se estabilizar acima de
35°C, chegando a 38-40°C em algumas regiões do planeta.
Milhões deverão
emigrar por não poderem mais viver em suas pátrias queridas e safras serão
totalmente perdidas. O Brasil, atualmente, um dos maiores exportadores de
alimentos, verá sua produção profundamente reduzida. Segundo James Lovelock,
(Veja, Páginas Amarelas de 25/10/2006), o Brasil, por causa de sua vasta
extensão ensolarada, será um dos mais atingidos pelo aquecimento global e pelas
mudanças climáticas.
Os do agronegócio deveriam estar atentos a estas advertências, pois como escreveu o Papa Francisco na encíclica Laudato Si: como cuidar da Casa Comum, dirigida a toda a humanidade e não apenas aos cristãos: “As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia; deixaríamos para as próximas gerações demasiadas ruínas, desertos e lixo” (n.161).
Ebulição Global: altas temperaturas tornam julho de 2023 o mês mais quente da história.
É o que ninguém quer para seus filhos e netos. Mas para isso devemos nos munir de coragem e de ousadia para mudar de rumo. Só uma radical mudança ecológica nos poderá salvar. (ecodebate)
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