quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Julho 2023: o mês mais quente dos últimos 120 mil anos

O mês de julho de 2023 registrou a maior temperatura já registrada no Planeta desde o início da civilização humana e os climatologistas estão assustados com o ritmo de avanço do aquecimento global.

Nunca a concentração de gelo da Antártida foi tão baixa para esta época do ano. Há um grande temor de um descontrole climático. O Secretário-geral da ONU, António Guterres, em 27/07/2023, disse: “acabou a era do aquecimento global e começou a da ebulição global”.

O gráfico abaixo, da página online Climate Reanalyzer, da Universidade de Maine, nos Estados Unidos, apresenta as curvas médias da temperatura global para cada dia do ano, desde 1979. Nota-se que a temperatura global média jamais havia excedido a marca de 17ºC.

Mas este limiar foi ultrapassado em julho de 2023. Em 03/07/23 a curva atingiu o pico de 17,01°C. Em 04 e 05/07/23 a temperatura chegou a 17,18°C. Em 06/07/23, novo recorde foi atingido com a temperatura média chegando a 17,23°C. Nos dias seguintes a temperatura oscilou ligeiramente para baixo e em 10/07/23 ainda estava em 17,12ºC. Em 14/07/23 ficou em 16,94ºC, mas voltou para a casa de 17,17ºC em 18/07/23. No restante do mês se manteve acima de 17º C e estava em 17,04ºC em 29/07/23.

Portanto, a temperatura de julho/2023 entrou em um terreno desconhecido e não registrado em milhares de anos. A meta de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial estabelecida no Acordo de Paris foi ultrapassada em julho. Segundo a climatologista Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig: “As chances são de que julho seja o mês mais quente de todos os tempos: desde ‘sempre’ significa desde o período Eemiano, há cerca de 120.000 anos”, declarou a cientista em reportagem da rede britânica BBC (04/07/2023).

Também o climatologista-chefe da NASA, Gavin Schmidt, disse no dia 20/07 que julho de 2023 será provavelmente o mês mais quente em “centenas, senão milhares, de anos”. Os últimos 9 anos foram os mais quentes da série histórica e para o ano de 2024, a agência espacial americana prevê temperaturas ainda mais elevadas.

Outro recorde ocorreu no Hemisfério Norte, quando a temperatura diária da superfície do mar atingiu a temperatura mais alta já registrada nos dias 29 e 30/07/2023, várias semanas antes de seu pico anual habitual que é no final de agosto ou início de setembro, conforme mostra o gráfico abaixo. A temperatura média recorde da superfície do mar no Oceano Atlântico Norte chegou a 24,98°C no dia 29/07/23, superando o recorde anterior que foi registrado em setembro/2022, a 24,89°C.

Os dados da ERA5, do Copernicus Climate Change Service (C3S*), mostram que, após o junho mais quente já registrado, as três primeiras semanas de julho/23 já quebrou vários recordes significativos. O gráfico abaixo indica que dos 30 dias mais quentes já registrados, 21 dias ocorreram em julho/2023 (e o mês ainda não tinha acabado na data da publicação do artigo da Copernicus). Indubitavelmente, neste ritmo, o ano de 2023 será o mais quente da era observacional.

As consequências da crise climática já se fazem sentir em todos os locais e a população mundial enfrenta desastres extremos e simultâneos, como queimadas, secas, inundações, furacões e ondas letais de calor que estão se tornando uma nova pandemia que ameaça os avanços seculares do aumento da expectativa de vida. Estudo publicado na revista acadêmica Nature Medicine, indica que 61 mil morreram em onda de calor de 2022 somente na Europa.

O Canadá e a Sibéria que sempre foram vistos como locais frios e congelantes enfrentam grandes queimadas, com a fuligem se espalhando por vários países. As enchentes atingem países de todos os continentes e provocam muitas mortes e deslocamento das pessoas. No Brasil, as tempestades ficaram muito mais fortes e frequentes nos últimos dois anos e as violentas tempestades que devastaram o litoral norte de São Paulo e o Nordeste estão longe de ser um fenômeno isolado. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina enfrentaram ciclones extratropicais. Desde outubro de 2021 foram registrados, oficialmente, 11 desastres causados por temporais no país e mais de 500 pessoas morreram.

A temperatura do segundo semestre de 2023 deve aumentar muito por conta do efeito El Niño que gera muitos prejuízos econômicos e reduz a produção de alimentos. Modelos econômicos constaram que os períodos anteriores do El Niño adicionaram quase 4 pontos percentuais aos preços das commodities não energéticas e 3,5 pontos percentuais aos preços do petróleo, enfraquecendo a segurança alimentar global.

O gráfico abaixo, da Organização Meteorológica Mundial (OMM) mostra que o limite de 1,5ºC já foi ultrapassado em vários dias em 2023, especialmente no mês de julho. A perspectiva é que o limite estabelecido no Acordo de Paris seja novamente ultrapassado no segundo semestre de 2023, aumentando a pressão para que a comunidade internacional adote ações para o corte de gases de efeito estufa e adote medidas de adaptação diante das ondas letais de calor e fogo.
O mundo vive, atualmente, uma “tempestade perfeita”, pois a combinação de uma emergência sanitária global, com a invasão da Ucrânia pela Rússia e o agravamento da crise ambiental e climática tende a jogar o preço dos alimentos para as alturas. Fica cada vez mais distante a possibilidade de se alcançar a meta número 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), no sentido de acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhorar a nutrição até 2030.

Os danos causados pelo aquecimento global são, cada vez mais, abrangentes e a recuperação dos desastres climáticos e ambientais estão cada vez mais caros. Os custos ultrapassam centenas de bilhões de dólares. Os recordes de calor de julho de 2023 devem servir de alerta para a governança global, pois está ampliando as áreas inabitáveis do Planeta e revertendo conquistas sociais históricas. Quando se fala de crise ambiental e climática, a única certeza que se tem é que o que está ruim vai piorar no longo prazo.

As ondas de calor de verão generalizadas como as que atualmente atingem o Hemisfério Norte, com temperaturas acima de 40 graus celsius simultaneamente na América do Norte, Ásia e Europa, serão comuns em apenas algumas décadas, a menos que as emissões de gases de efeito estufa sejam imediatamente reduzidas. Como a concentração de CO2 na atmosfera continua aumentando, as ondas letais de calor deverão ser a grande pandemia do século XXI.

Neste sentido, autoridades de energia do G20 deveriam emitir um comunicado conjunto no final de sua reunião de quatro dias em Bambolin, uma cidade no Estado costeiro indiano de Goa, em julho/2023. Mas não se chegou a um acordo sobre corte de combustíveis fósseis e foi descartado a triplicação pretendida das capacidades de energia renovável até 2030. A consultoria Deloitte revela que a inação sobre a mudança climática pode custar à economia mundial US$ 178 trilhões até 2070, mas, por outro lado, a economia global poderia ganhar US$ 43 trilhões nas próximas cinco décadas, acelerando rapidamente a transição energética para emissões líquidas zero.

A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra. Não dá para continuar ampliando o déficit ambiental. A alternativa do decrescimento demoeconômico precisa ser levada a sério ou teremos uma grande crise epidemiológica global.

A civilização humana precisa diminuir a Pegada Ecológica, restaurar o meio ambiente e aumentar a prosperidade.

Mas o esforço e o planejamento para tanto tem que começar imediatamente. (ecodebate)

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