Em 30/03/24 celebramos, pelo
segundo ano, o DIA INTERNACIONAL DO LIXO ZERO, com o objetivo de despertar a
consciência coletiva mundial quanto `a importância de combatermos a geração
irracional de resíduos sólidos/lixo que contribui para a degradação do meio
ambiente/ecologia integral.
Todavia, precisamos colocar
este tema, um dos maiores ou talvez o maior desafio socioambiental que a
totalidade dos países, principalmente as cidades vem enfrentando ultimamente,
com problemas de coleta e destinação final dos resíduos sólidos/lixo nas
últimas décadas em um contexto global, tendo em vista, como enfatiza o Papa
Francisco de que “tudo está interligado, nesta Casa Comum”.
Há uma semana foi celebrado o
DIA MUNDIAL DA ÁGUA, sendo que um dos destaques em relação à água é que a mesma
além de estar cada dia mais escassa, também está sendo contaminada, suas fontes
em processo de degradação contínuo, cada dia de forma mais intensa,
principalmente por lixo urbano, industrial e agrícola, comprometendo o
abastecimento humano e também a própria economia.
A questão do aumento da
produção, geração de resíduos sólidos faz parte de um círculo vicioso que, como
paradigma precisa ser quebrado e substituído por novos paradigmas no que
concerne as relações da humanidade com a natureza.
O desafio de combater a
geração de lixo precisa ir mais a fundo, bem além da reciclagem, que é
importante, com certeza, mas, na verdade, é apenas uma forma mitigadora para
combatermos a irracionalidade humana em termos de utilização de bens e
serviços, base de todos os sistemas econômicos, principalmente do sistema
capitalista “selvagem”, irracional que só tardiamente está acordando e
percebendo que se destruirmos a natureza, provocarmos o desequilíbrio
ambiental, com certeza destruiremos o planeta.
A consequência do consumismo,
do desperdício e da economia do descarte é o aumento cada vez em quantidade e
tipo de lixo, resíduos sólidos que produzimos, principalmente o lixo plástico
que permanece gerando impactos no meio ambiente e na saúde humana por centenas
de anos. O Brasil já é o quarto país em produção de lixo plástico do planeta,
apesar de ser o sexto país em tamanho de população.
Assim, o consumismo, o
desperdício, a economia do descarte ao aumentar a produção de mais lixo e não
darmos a destinação correta ao mesmo, só levam `a degradação ambiental, `a
mudança climática/crise climática, fruto do aquecimento global, ao aumento das
catástrofes “naturais”, mas que em suas origens são geradas pelas ações
humanas, `a fome e a morte.
Parece que o ritmo do
processo de degradação ecológica ou socioambiental está contribuindo, se bem
que de forma extremamente vagarosa, para um despertar mundial quanto `a loucura
que tem sido a destruição de biomas, ecossistemas, enfim, a destruição irracional
da biodiversidade em todos os continentes e países, em que o lixo é apenas uma
parcela deste desastre anunciado.
Ao logo de séculos, inclusive
nos últimos 50 ou 70 anos, desde meados do século passado quando o ritmo de
crescimento econômico se tornou mais rápido, diante do esgotamento e escassez
de diversos “recursos naturais”, que até então ou até mesmo na cabeça de alguns
cegos, ambientalmente ou ecologicamente falando, imaginavam e ainda imaginam
que tais recursos, ou seja, que a natureza é inesgotável, jamais pode acabar.
Diante de tantos estudos, debates, conferências internacionais, repetindo, aos poucos o mundo vai acordando de uma letargia que tem ajudado no agravamento da crise climática, do aquecimento global, enfim, da destruição do planeta.
Inúmeros desses estudos conduzidos por cientistas de renome em diversas áreas do conhecimento tem demonstrado que o planeta, que os biomas, enfim, os ecossistemas têm “um ponto do não retorno”, ou seja, a partir de um nível de destruição, a natureza, a biodiversidade dificilmente consegue se recuperar. Daí o avanço da desertificação, do aquecimento das águas dos mares e oceanos, da erosão, do desmatamento e queimadas que estão colocando inúmeras, milhares de espécies animais e vegetais em processo de extinção.
Neste contexto, desde a
primeira conferência mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento realizada em
1972, em Estocolmo, na Suécia, passando por tantas outras conferências
internacionais, inclusive as “famosas” Conferências do Clima, as “COPs”, que
são realizadas anualmente, sob a coordenação da ONU, com dezenas de milhares de
participantes, inclusive representantes oficiais e dirigentes de diversos
países, onde são celebrados os famosos acordos, que acabam apenas sendo
documentos de papel, bem distantes do cumprimento de tais acordos, repito, é
neste contexto que também o movimento ambientalista mundial, constituído,
basicamente por organizações não governamentais e também por cientistas e
estudiosos das questões socioambientais, tem buscado alertar a população
mundial quanto aos riscos que , nós, humanos, estamos correndo.
Destruindo a natureza na
busca de um lucro imediato que acaba ampliando o fosso entre uma minoria
poderosa política, econômica e socialmente, em detrimento da grande maioria da
população e, também, das gerações futuras, na verdade o que estão sendo
destruídas são todas as formas de vida existentes no planeta, inclusive e ou
principalmente a vida humana.
Diante desses alertas desde a
ECO 92, realizada no Rio de Janeiro em 1992 e ao longo desses 32 anos, as
discussões e reflexões acontecidas nessas conferências e outros eventos
especiais, tem demonstrado que só existe um caminho para salvarmos o planeta
desta destruição insana. Este caminho tem nome: SUSTENTABILIDADE ou DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL, que nada mais significa do que o uso parcimonioso e racional dos
“recursos naturais”, a grande maioria que não são renováveis.
Para atingirmos a
SUSTENTABILIDADE, o Desenvolvimento Sustentável é fundamental rompermos com a
lógica capitalista perdulária e insana, baseada no “marketing” que alimenta um
CONSUMISMO doentio, que por sua vez também estimula um enorme DESPERDÍCIO que
observamos em todos os setores da economia e da sociedade em nível mundial,
ambos, CONSUMISMO e DESPERDÍCIO contribuem para o aumento vertiginoso da
geração de resíduos sólidos, enfim, o que chamamos de LIXO, afetando
negativamente os biomas e ecossistemas e a vida humana.
`A medida que continuamos
assistindo um crescimento demográfico significativo em geral e uma verdadeira
explosão da urbanização, ou seja, as migrações rurais com destino `as cidades e
a constituição de grandes centros urbanos, as chamadas megalópoles, com mais de
um, cinco, dez ou até trinta milhões de pessoas nas chamadas regiões metropolitanas
é um fato em todos os países, inclusive no Brasil. Este processo teve uma
aceleração absurda nesses últimos 70 anos e, tudo leva a crer que vai ser
intensificado ainda mais nas próximas três ou quatro décadas.
A geração ou produção de lixo tem aumentado rapidamente nas áreas urbanas, principalmente nas grandes cidades e nas áreas metropolitanas, em ritmo muito superior ao crescimento populacional mundial, inclusive ao crescimento da urbanização e, também, `a capacidade financeira e de gestão das administrações públicas locais e regionais, tornando a questão dos resíduos sólidos ou do que popularmente denominamos de lixo em um problema quase insolúvel, afetando tanto a qualidade de vida da população em geral quanto das camadas mais pobres e excluídas, quanto a própria economia dessas regiões, países e cidades.
Inúmeros estudos têm demonstrado cabalmente que o consumo, o consumismo e o desperdício, que contribuem para o aumento da geração de resíduos sólidos/lixo está diretamente relacionado com o nível de renda tanto individual quanto de países. As pessoas das camadas de renda mais elevadas e os países com os maiores PIBs são os que geram mais lixo, em detrimento da grande maioria da população nacional e mundial que acabam sendo as maiores vítimas deste processo de degradação ambiental/ecológica, enfim, da destruição do planeta.
É comum, ainda, países
desenvolvidos descartarem seu lixo exportando-o para países de baixa renda,
principalmente na Ásia e na África, além de contaminarem os oceanos e mares. Os
20 países que tem as maiores economias do planeta são responsáveis por
praticamente 50% do lixo produzido no mundo.
É neste contexto de um
despertar ecológico lento que em 2015 a ONU aprovou alguns marcos
significativos para orientar o desenvolvimento socioeconômico mundial tendo por
base os 17 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL e suas 169 metas,
destacando dois desses objetivos que estão diretamente relacionados com a
questão dos resíduos sólidos, principalmente do LIXO ZERO.
O Objetivo 11 estabelece
“Cidades e comunidades sustentáveis” e o de número 12 “Consumo e produção
responsáveis/sustentáveis”, em ambos a questão do uso racional dos recursos
naturais está bem explicita a ideia de que precisamos reduzir o nosso consumo,
principalmente a volúpia consumista ou seja o consumismo e o desperdício que
contribuem para o aumento exagerado de lixo e seus impactos, consequências
tanto para o meio ambiente natural quanto e principalmente para a saúde
individual e coletiva e a dignidade humana.
Em 2015 também o Papa
Francisco publicou a Encíclica Laudato Si, onde enfatiza a responsabilidade
tanto de cristãos (católicos romanos, ortodoxos e evangélicos), quanto adeptos
de outras religiões para melhorarmos o cuidado com a “casa comum”, o planeta terra,
enfatizando que “o grito da terra é também o grito dos pobres”, que precisamos
passar por uma conversão ecológica, tanto individual quanto
comunitária/coletiva, para atingirmos a cidadania ecológica.
Para tanto é preciso “realmar
a economia”, que é a proposta contida na “Economia de Francisco e Clara”, em
que as nossas relações, ou seja, a relação da humanidade com a natureza não
pode ser apenas de uma forma utilitarista e perdulária, mas sim, de respeito a
natureza como obra da criação e que temos também um compromisso com as gerações
futuras (justiça intergeracional) e não podemos deixar uma herança maldita de
um planeta que será uma grande lixeira para as gerações futuras.
Estamos às vésperas das
eleições municipais no Brasil, quando os eleitores irão escolher neste ano
prefeitos e vereadores de todos os municípios, de todas as cidades do país.
Esta deveria ser uma ótima oportunidade para questionarmos os candidatos e partidos em
relação `as suas propostas, políticas públicas, planos e programas voltados ao
meio ambiente, principalmente para enfrentar os problemas e desafios dos
resíduos sólidos/lixo e do saneamento básico.
Todavia, precisamos ficar atentos para que tais propostas não fiquem apenas no papel para enfeitar gabinetes e longe de serem instrumentos para transformarem está triste e vergonhosa situação que é a questão socioambiental, principalmente o saneamento básico (cuidado com a água, com os esgotos, com a limpeza urbana e com a gestão e destinação correta dos resíduos sólidos). Só assim, poderemos pensar em uma sociedade, uma economia e um mundo com LIXO ZERO.
Esses são aspectos que deveriam fazer parte de nossas reflexões neste segundo ano em que “celebramos” o LIXO ZERO, que ainda está muito mais próximo de uma UTOPIA do que de uma realidade concreta! (ecodebate)
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