domingo, 19 de maio de 2024

O papel das tecnologias de captura de carbono no combate à crise climática

Neste contexto, a captura de carbono emerge como uma das soluções viáveis para mitigar as emissões de CO2, principalmente provenientes de setores com mais dificuldade em substituir por energias renováveis, como transporte, siderurgia, cimento e aviação.

Engenheiro aponta caminhos a curto prazo para viabilizar operações mais sustentáveis e responder à emergência climática.
No atual cenário, tomar decisões em relação às iniciativas de sustentabilidade tornou-se uma urgência complexa e crucial para impulsionar as práticas empresariais em direção aos melhores padrões de produção, em qualquer área. Desde a compensação de emissões por meio do plantio de árvores até a implementação de processos de eficiência energética, diversas são as rotas possíveis para operações mais sustentáveis, em termos de carbono.

Essa preocupação faz-se necessária e urgente, uma vez que, segundo o relatório Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas de 2021, é preciso limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, o que requer uma redução de 45% das emissões de CO2 até 2030 e a neutralidade de carbono até 2050.

É inegável e perceptível como as alterações climáticas influenciam o mundo dos negócios: mais de seis em cada dez organizações em todo o mundo (62%) afirmam que os recentes incêndios florestais, inundações e tempestades durante 2023 terão um impacto nas suas iniciativas ambientais, de acordo com a quinta edição do Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI, na sigla em inglês) da Honeywell.

Neste contexto, a captura de carbono emerge como uma das soluções viáveis para mitigar as emissões de CO2, principalmente provenientes de setores com mais dificuldade em substituir por energias renováveis, como transporte, siderurgia, cimento e aviação. Além disso, ela pode contribuir para a remoção do gás já presente na atmosfera, empregando técnicas como a captura direta do ar ou a utilização de biomassa associada ao armazenamento de carbono (BECCS). Essas abordagens podem retirar mais gás do que o emitido, elemento chave para atingir a neutralidade de carbono.

Para além dos benefícios ambientais, a captura de carbono pode acarretar vantagens econômicas e sociais, criando oportunidades de emprego, fomentando a inovação e o desenvolvimento tecnológico, além de fortalecer a competitividade e a sustentabilidade das indústrias que adotam essa tecnologia. Essa tecnologia também pode favorecer a cooperação internacional e a integração regional, por meio de projetos conjuntos de transporte e armazenamento.

Soma-se a isso, também, a sua importância para a redução das emissões de CO2 no setor de energia. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), as geradoras podem usar usinas a gás com captura de carbono como “backup” para a intermitência das energias eólica e solar, para que tenhamos avanços significativos na transição energética para matrizes cada vez mais limpas, uma das megatendências que acreditamos serem mais relevantes para os próximos anos.

Já há empresas investindo intensamente em tecnologias capazes de auxiliar na redução das emissões de CO2, como os sistemas de captura de carbono pós-combustão. Estes sistemas, aplicáveis em usinas termelétricas a carvão ou gás natural, dentre outras, utilizam solventes químicos para absorver o gás e, posteriormente, liberá-lo sob pressão para transporte e armazenamento. Com a capacidade de capturar até 90% do CO2 gerado por essas fontes, viabilizando uma opção mais sustentável em curto prazo.

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Os Estados Unidos, por exemplo, têm se destacado com o Inflation Reduction Act (IRA), programa de incentivo que destina recursos para o combate às mudanças climáticas e para a transição energética, especialmente com as expansões de créditos com este fim por grandes usinas, o que permitiria às instalações de combustíveis fósseis continuarem funcionando desde que capturem 75% ou mais de sua produção de carbono.

Termoelétricas de carvão ainda são comuns na Europa.

O governo brasileiro lançou, em janeiro deste ano, uma nova política industrial com foco na bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas. Uma das metas é a ampliação em 50% da participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira – esse número não chega a 22% atualmente. Outro ponto de destaque é reduzir em 30% a emissão de carbono da indústria.

Apesar dos avanços tecnológicos e do crescente reconhecimento da importância da captura de carbono por alguns países, ainda existem desafios significativos a serem superados.  Para uma adoção em grande escala desta tecnologia, é imprescindível que governos, empresas e organizações internacionais colaborem para criar um ambiente propício, com regulamentações e incentivos que promovam investimentos em tecnologias de baixa emissão do CO2.

Ainda assim, apesar destes desafios, a captura de carbono tem um imenso potencial para mitigar os impactos das mudanças climáticas por meio da criação de inovações e soluções tecnológicas, enfrentando esse desafio global de maneira decisiva.

Ações climáticas mais ambiciosas salvariam milhões de vidas.

Este artigo foi escrito por Leon Melli, Diretor de Vendas da Honeywell UOP, e reflete as percepções do executivo sobre a captura de carbono e o seu papel rumo à sustentabilidade corporativa. Leon Melli tem 18 anos de experiência nos setores químico, petroquímico, de petróleo e gás e de combustíveis renováveis. Leon é formado em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo, Brasil, tem MBA em Economia de Engenharia e MSC em Petróleo e Gás, bem como em Energias Renováveis.

Leon Melli (ciclovivo)

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