Reverter
o desmatamento e a degradação da floresta amazônica vai exigir que o Brasil
fortaleça políticas públicas já existentes, como a expansão de áreas protegidas
e a punição ao desmatamento ilegal.
Mas
é preciso ir além, de modo a incorporar à agenda pública incentivos à
regeneração de florestas e o combate à degradação florestal.
As
recomendações constam no estudo “Políticas Públicas para Proteção Florestal – o
que funciona e como melhorar”, da economista Clarissa Gandour. No trabalho,
parte do projeto Amazônia 2030, a pesquisadora passa em revista as políticas
públicas de combate ao desmatamento adotadas pelo Brasil a partir de 2004. A
partir daquele ano, e até 2014, mudanças tecnológicas, ações de fiscalização e
a atuação integrada de diversos ministérios contribuíram para que a taxa de
desmatamento na Amazônia regredisse. Depois disso, a situação se deteriorou.
Análise demonstra que o Brasil conseguiu, ao longo daqueles anos, implementar instrumentos eficientes para conter a perda de floresta nativa. Eles foram enfraquecidos e, hoje, não bastam mais. “Para além de aprimorar seus esforços de combate ao desmatamento, o Brasil deve incorporar novas dimensões de proteção da vegetação nativa à sua agenda de políticas públicas para a conservação tropical”, diz o estudo.
O trabalho mostra que é preciso atuar em três frentes:
•
Combate à degradação florestal
Hoje,
o desmatamento não é o único dano ambiental que assola a Amazônia brasileira. A
perda gradativa de floresta – conhecida como degradação florestal – desponta
como um problema cada vez mais grave, mas ainda negligenciado no âmbito das
políticas públicas. Há indícios de que a degradação florestal representa um
estágio inicial do processo de desmatamento. Geralmente, ela está associada à
extração madeireira e a queimadas.
Segundo
o estudo, é preciso atuar para deter a perda de florestas em estágio inicial,
de modo a otimizar os esforços de políticas públicas de conservação.
Hoje, a degradação florestal afeta uma área da Amazônia maior que o desmatamento. Em média, são 11 mil km2 de floresta degradada por ano, o dobro da área desmatada anualmente. A maior parte dela – 75% – se concentra nos estados do Mato Grosso e do Pará.
•
Regeneração florestal
Restauro e a proteção de florestas tropicais captura carbono da atmosfera e são ações importantes para mitigar os efeitos do aquecimento global.
Com vasta quantidade de áreas degradadas e desmatadas em regiões tropicais, o Brasil está em posição única para contribuir para esse esforço. Contudo, suas políticas de conservação florestal tendem a focar no combate ao desmatamento primário e não enfatizam a promoção e a proteção de áreas regeneradas – aquelas que já foram desmatadas, mas que, aos poucos, voltam a crescer. Atualmente, o país nem sequer monitora essas áreas de forma sistemática.
Segundo
estudo, é imprescindível que o Brasil aja agora para incorporar o restauro de
ecossistemas em sua agenda de políticas públicas de conservação. Ao assumir um
firme compromisso com a promoção da regeneração tropical e sua conservação, o
país simultaneamente avançaria no cumprimento de suas metas ambientais,
promoveria melhorias no bem-estar humano em escalas local e global e ainda
caminharia em direção à retomada da sua posição como pioneiro de ação climática
global.
Há,
na Amazônia brasileira, vastas áreas de vegetação secundária – aquela que
cresce em regiões já desmatadas. Os formuladores de políticas públicas precisam
compreender que essa vegetação deve ser protegida.
•
Foco em áreas prioritárias
O desmatamento na Amazônia não é homogêneo. Entre 2016 e 2019, ele esteve concentrado em 24 municípios. Parte significativa – um terço do total – ocorreu em terras públicas não designadas. Num cenário de recursos limitados, o Brasil deve focar seus esforços de combate ao desmatamento nessas áreas prioritárias, onde o problema é mais grave.
Além disso, afirma o estudo, é preciso fortalecer o ambiente institucional de modo a punir quem desmata. O Brasil dispõe de tecnologia capaz de monitorar a perda de floresta. Sem respaldo institucional, ela é insuficiente. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário