O Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (UNDP na sigla em inglês) divulgou recentemente o
ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é um indicador sintético
usado para estimar o grau de desenvolvimento humano de uma determinada
sociedade com base na avaliação de três áreas fundamentais: saúde, educação e
renda. O IDH é um indicador numérico que varia entre 0 e 1.
Quanto mais próximo de zero,
menor é o nível de bem-estar e quanto mais próximo de 1, maior é o nível de
bem-estar e progresso nacional. O ranking global de 2022 apresenta o nível do
IDH por ordem decrescente de 193 países do mundo.
O gráfico abaixo mostra o IDH
do Brasil, Venezuela e Tailândia de 1990 a 2022. Nota-se que, em 1990, a
Venezuela tinha o maior IDH (0,657), seguido pelo Brasil (0,620) e pela
Tailândia (0,581) em terceiro lugar. Nos 25 anos seguintes, em 2015, a
Venezuela (0,766) continuava à frente do Brasil (0,752), mas a Tailândia (0,789)
já havia passado os dois países sul-americanos. Entre 2015 e 2019, a Venezuela
caiu para um IDH de 0,720 e a Tailândia (com 0,801) entrou na categoria de
muito alto IDH.
O gráfico abaixo, com base nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), mostra a evolução da renda per capita, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp), para os 3 países entre 1980 e 2024. Nota-se que, em 1980, a Venezuela tinha uma renda per capita de US$ 20,3 mil, quase o dobro dos US$ 11,4 mil do Brasil e 5 vezes maior do que os US$ 3,9 mil da Tailândia. Mas nas duas últimas décadas o ritmo de avanço foi desigual. Em 2024, o FMI estima uma renda per capita de US$ 19,2 mil na Tailândia, de US$ 15,4 mil no Brasil e de somente US$ 6,9 mil na Venezuela. O país de Simon Bolívar tem hoje em dia uma renda per capita 3 vezes menor do que a da Tailândia, que, inclusive, está deixando também o Brasil para trás.
O avanço da renda per capita e do IDH da Tailândia ocorreu paralelamente ao avanço da transição demográfica. O gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU, mostra que a Tailândia tinha a maior taxa de fecundidade total (TFT) no início dos anos de 1970, mas promoveu uma transição da fecundidade muito rápida. Em 1950, a TFT era de 6,64 filhos por mulher na Venezuela, de 6,34 filhos na Tailândia e de 6,12 filhos por mulher no Brasil. Mas em 224, a TFT ficou em 1,31 filho por mulher na Tailândia, 1,62 no Brasil e 2,15 filhos por mulher na Venezuela.
A queda mais rápida da fecundidade na Tailândia possibilitou uma mudança na estrutura etária e o país asiático conseguiu aproveitar o 1º bônus demográfico para alavancar o seu desenvolvimento econômico e social. Concomitantemente houve avanços na longevidade. Em 2024, a expectativa de vida ao nascer está estimada em 73,1 anos na Venezuela, 76,4 anos no Brasil e 80,1 anos na Tailândia. Portanto, o país asiático possui melhores indicadores demográficos.
Mas somente a demografia não explica o melhor desempenho da Tailândia. O gráfico abaixo, também com dados do FMI, mostra que a Tailândia tem taxas de investimento, consistentemente, superiores ao apresentado pelos 2 países latino-americanos. Na média do período, a Tailândia teve uma taxa de investimento próxima a 30% do PIB e o Brasil e a Venezuela abaixo de 20% do PIB. O investimento é o motor da geração de emprego, renda e avanços tecnológicos.
Sem dúvida, para vencer a pobreza e avançar no IDH é preciso aproveitar o 1º bônus demográfico, como mostrei no artigo “Os países com menor fecundidade possuem maior IDH” (Alves, 11/03/2022), publicado aqui no Ecodebate. Todos os países com IDH muito alto ou alto avançaram na transição da fecundidade e passaram por uma mudança na estrutura etária com redução da razão de dependência demográfica.
Mas não basta a mudança na
estrutura etária, para haver desenvolvimento é necessário que os países
mantenham taxas de investimento acima de 25% do PIB, para garantir empregos de
qualidade e maior produtividade da força de trabalho. A Tailândia conseguiu
manter taxas de investimento além daquela necessária para a simples reposição
da depreciação produtiva.
A combinação da transição demográfica com a maior complexidade do modelo de produção tem garantido que a Tailândia ofereça melhor qualidade de vida para a sua população do que o Brasil e a Venezuela. (ecodebate)
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