A ciência há décadas alerta
para desastres climáticos como no Rio Grande do Sul.
Basicamente, a ciência
alertou e continua alertando de que é fundamental reduzirmos as emissões de
gases de efeito estufa para que esses eventos climáticos extremos não aumentem
ainda mais de intensidade e de frequência.
Tragédia do Rio Grande do
Sul. Um desastre previsto. Entrevista especial com Paulo Artaxo
• Não há menor dúvida de que
não temos “plano b” em relação à questão das mudanças climáticas. Nós temos, o
mais rápido possível, eliminar a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento
de florestas tropicais e construir uma nova sociedade com muito menos consumo
do que temos hoje;
• A sociedade tem que
perceber que estamos indo para um cenário de um aumento médio da temperatura da
ordem de 3ºC, até o momento tivemos um aumento de 1,3º a 1,4ºC. E 3ºC de média
de aumento da temperatura global significa que em áreas continentais e
tropicais, como o Brasil, podemos ter um aumento de temperatura de 4º a 5ºC.
Isso é um aumento brutal no clima que não aconteceu nem ao longo dos últimos 50
milhões de anos.
Faltam adjetivos para
descrever a situação dos gaúchos. Além daqueles que perderam tudo, há um grande
contingente da população sem abastecimento de água desde que as enchentes
começaram e outro tanto também sem energia elétrica. Há escassez de água nas
prateleiras dos supermercados, gás de cozinha, medicamentos e a população,
desesperada, deixou as gôndolas vazias. Não obstante ao drama, começam a
ocorrer assaltos e saques ao que sobrou e, até mesmo, aos desabrigados.
Boa parte da tragédia poderia
ter sido evitada ou mitigada se os políticos dessem ouvidos aos cientistas do
clima, é o que explica o professor Paulo Artaxo, em entrevista por telefone ao
Instituto Humanitas Unisinos – IHU. “Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972,
a ciência alerta claramente à sociedade e aos nossos governantes sobre os
riscos e os perigos das mudanças climáticas globais”, fundamenta o físico.
“Bom… 50 anos se passaram sem que nenhuma medida de grande porte fosse feita
para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. E o resultado estamos vendo
aí no Rio Grande do Sul, com as ondas de calor, com as secas imensas na Região
Amazônica e assim por diante”, descreve Artaxo.
Para o cientista, os prognósticos de aumento de temperatura para os países tropicais, como o Brasil, preveem um “aumento de 4º a 5ºC”, o que deve ocasionar “o aumento na frequência e na intensidade dos eventos climáticos extremos de maneira muito, muito grave, impactando o agronegócio brasileiro, a capacidade de sobrevivência nas nossas cidades e toda a nossa sociedade”, observa.
Vista aérea das ruas alagadas em Porto Alegre
Rio Grande do Sul ainda vai
viver muitos eventos extremos, dizem cientistas brasileiras que colaboraram com
IPCC.
Em relatório publicado em
2023, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas apontou uma relação
entre as fortes precipitações observadas na região que engloba o Rio Grande do
Sul e as alterações climáticas provocadas pela ação humana.
“A ONU estruturou os 17
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS exatamente para evitar que nossa
sociedade entre em colapso completo, como a atual trajetória está levando a
gente a uma emergência climática sem precedentes nos últimos milhões de anos no
nosso planeta”, lembra o pesquisador que é integrante do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, na sigla em inglês.
(ecodebate)
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