sábado, 1 de junho de 2024

A ciência há décadas alerta para desastres climáticos como em RS

A ciência há décadas alerta para desastres climáticos como no Rio Grande do Sul.

Basicamente, a ciência alertou e continua alertando de que é fundamental reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa para que esses eventos climáticos extremos não aumentem ainda mais de intensidade e de frequência.

Tragédia do Rio Grande do Sul. Um desastre previsto. Entrevista especial com Paulo Artaxo

Segundo o cientista, há 50 anos a ciência alerta sobre os riscos e perigos das mudanças climáticas, sem que fossem adotadas medidas eliminar os combustíveis fósseis; o resultado estamos vendo agora.
• Não há menor dúvida de que o agronegócio, os políticos do nosso Congresso e os banqueiros em geral, basicamente, estão preocupados com o maior lucro possível no prazo mais curto possível, deixando para a sociedade pagar preços altíssimos em vidas e prejuízos materiais e esta situação tem que mudar;

• Não há menor dúvida de que não temos “plano b” em relação à questão das mudanças climáticas. Nós temos, o mais rápido possível, eliminar a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento de florestas tropicais e construir uma nova sociedade com muito menos consumo do que temos hoje;

• A sociedade tem que perceber que estamos indo para um cenário de um aumento médio da temperatura da ordem de 3ºC, até o momento tivemos um aumento de 1,3º a 1,4ºC. E 3ºC de média de aumento da temperatura global significa que em áreas continentais e tropicais, como o Brasil, podemos ter um aumento de temperatura de 4º a 5ºC. Isso é um aumento brutal no clima que não aconteceu nem ao longo dos últimos 50 milhões de anos.

O Rio Grande do Sul vive sua maior catástrofe climática há uma semana. Conforme o último relatório da Defesa Civil, divulgado em 06/05/24, 385 dos 497 municípios foram atingidos, 1,1 milhão de pessoas afetadas, 201,5 mil pessoas fora de casa, sendo 47,6 mil em abrigos, 153,8 mil desalojados, 85 mortos e 134 desaparecidos. A tragédia segue em curso, com o aumento da área alagada em Porto Alegre e a chegada da enchente à metade Sul do Estado.
Sistema de alertas sobre tragédia no Rio Grande do Sul falhou, dizem especialistas.

Faltam adjetivos para descrever a situação dos gaúchos. Além daqueles que perderam tudo, há um grande contingente da população sem abastecimento de água desde que as enchentes começaram e outro tanto também sem energia elétrica. Há escassez de água nas prateleiras dos supermercados, gás de cozinha, medicamentos e a população, desesperada, deixou as gôndolas vazias. Não obstante ao drama, começam a ocorrer assaltos e saques ao que sobrou e, até mesmo, aos desabrigados.

Boa parte da tragédia poderia ter sido evitada ou mitigada se os políticos dessem ouvidos aos cientistas do clima, é o que explica o professor Paulo Artaxo, em entrevista por telefone ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. “Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, a ciência alerta claramente à sociedade e aos nossos governantes sobre os riscos e os perigos das mudanças climáticas globais”, fundamenta o físico. “Bom… 50 anos se passaram sem que nenhuma medida de grande porte fosse feita para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. E o resultado estamos vendo aí no Rio Grande do Sul, com as ondas de calor, com as secas imensas na Região Amazônica e assim por diante”, descreve Artaxo.

Para o cientista, os prognósticos de aumento de temperatura para os países tropicais, como o Brasil, preveem um “aumento de 4º a 5ºC”, o que deve ocasionar “o aumento na frequência e na intensidade dos eventos climáticos extremos de maneira muito, muito grave, impactando o agronegócio brasileiro, a capacidade de sobrevivência nas nossas cidades e toda a nossa sociedade”, observa.

Vista aérea das ruas alagadas em Porto Alegre

Rio Grande do Sul ainda vai viver muitos eventos extremos, dizem cientistas brasileiras que colaboraram com IPCC.

Em relatório publicado em 2023, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas apontou uma relação entre as fortes precipitações observadas na região que engloba o Rio Grande do Sul e as alterações climáticas provocadas pela ação humana.

“A ONU estruturou os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS exatamente para evitar que nossa sociedade entre em colapso completo, como a atual trajetória está levando a gente a uma emergência climática sem precedentes nos últimos milhões de anos no nosso planeta”, lembra o pesquisador que é integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, na sigla em inglês. (ecodebate)

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