segunda-feira, 17 de junho de 2024

China e Índia lideram o crescimento das emissões de CO2 no século XXI

As emissões globais de carbono dispararam 46% desde 2000, com China e Índia liderando o aumento (212% e 190%, respectivamente). Em contraste, a UE-27 e os EUA reduziram as emissões em 16% e 23%. Nos últimos 30 anos, as emissões de CO2 superaram as dos 142 anos anteriores.

“A evidência à qual não podemos escapar é que em nossa civilização, a criação de valor econômico provoca, na grande maioria dos casos, processos irreversíveis de degradação do mundo físico” (1974, p. 17) - Celso Furtado (1920-2004).
Países mais populosos lideram a emissão global de CO2

Celso Furtado (1920-2004) publicou o livro “O mito do desenvolvimento econômico”, em 1974, há 50 anos, mostrando a impossibilidade de crescimento econômico ilimitado em um Planeta finito. Influenciado por autores da escola da Economia Ecológica, Celso Furtado chamava a atenção para a impossibilidade de generalização do crescimento econômico com preservação ambiental. Na passagem abaixo ele alerta para a possibilidade de um colapso ambiental:

(…) que acontecerá se o desenvolvimento econômico, para o qual estão sendo mobilizados todos os povos da terra, chegar efetivamente a concretizar-se, isto é, se as atuais formas de vida dos povos ricos chegam efetivamente a universalizar-se? A resposta a essa pergunta é clara, sem ambiguidades: se tal acontecesse, a pressão sobre os recursos não renováveis e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou alternativamente, o custo do controle da poluição seria tão elevado) que o sistema econômico mundial entraria necessariamente em colapso (Furtado, 1974, p. 19).

O gráfico abaixo, com dados do Global Carbon Project, mostra que a China e a Índia – as duas nações mais populosas do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes cada uma – são também os dois territórios que apresentam as maiores taxas de crescimento das emissões de CO2 no século XXI.

As emissões globais de carbono cresceram 46% entre o ano 2000 e 2022. Na China o crescimento foi de 212% e na Índia de 190%. No mesmo período, houve uma redução de 16% nas emissões da União Europeia (EU-27 países) e de 23% nos Estados Unidos da América (EUA).

Estes dados mostram uma nova realidade nas tendências das emissões de CO2. De 1850 a 1992 (ano da Conferência do Meio Ambiente do Rio de Janeiro) o total das emissões globais de carbono foi de 232 milhões de toneladas de carbono e de 1993 a 2022 foi de 251 milhões de toneladas de carbono. Ou seja, nos últimos 30 anos houve mais emissões de CO2 do que nos 142 anos anteriores. E os países de renda média superaram as emissões dos países ricos.

Como mostrei no texto, “Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico” (Alves, 2022), os países em desenvolvimento superaram as emissões dos países desenvolvidos. Em 1960, os países da OCDE (países com elevada renda per capita) eram responsáveis por 66% das emissões globais e o restante do mundo (não OCDE) emitia 34%. Em 2004 houve a virada com os países em desenvolvimento superando as emissões dos países desenvolvidos. Em 2020, os países da OCDE emitiram 32% das emissões globais e o restante do mundo emitiu 68% das emissões globais.

Portanto, os países em desenvolvimento – liderados por China e Índia – apresentam atualmente as maiores taxas de emissões de CO2. E como previu Celso Furtado, a poluição do meio ambiente seria de tal ordem que ameaçaria a ordem econômica internacional.

Os países mais populosos lideram a emissão global de CO2 no século XXI.

De fato, a concentração de CO2 na atmosfera que se manteve abaixo de 280 partes por milhão (ppm) durante milhares de anos começou a subir após a Revolução Industrial e Energética, atingiu 300 ppm em 1920, chegou a 310 ppm em 1950, alcançou 350 ppm em 1987, registrou 400 ppm no ano do Acordo de Paris, em 2015, e marcou o recorde de 422 ppm em 2023, conforme dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. A taxa de crescimento anual estava abaixo de 1 ppm na primeira metade do século XX, passou para cerca de 1,5 ppm na segunda metade do século passado e atingiu 2,4 ppm na última década. Em 2023, o recorde foi ainda maior, com aumento de 3,36 ppm na concentração de CO2 na atmosfera.

Em consequência houve aumento do efeito estufa e os últimos 10 anos (2014-2023) foram os mais quentes do Holoceno (últimos 12 mil anos). Os meses de janeiro a abril de 2024 foram os mais quentes já registrado para esta época do ano. O limite mínimo do Acordo de Paris, de 1,5ºC, foi ultrapassado nos 12 meses de maio/2023 a abril/2024.

100 empresas são responsáveis por 71% das emissões de gases de efeito estufa do mundo

A emergência climática é uma ameaça existencial à civilização humana. Quanto maiores forem as emissões, maior será o efeito estufa e maiores serão as temperaturas. As consequências do desequilíbrio climático serão catastróficas, como se tornou evidente nas enchentes do Rio Grande do Sul neste mês de maio/2024. Os países desenvolvidos – que já apresentam um desacoplamento entre crescimento da economia e as emissões de carbono precisam ajudar os países em desenvolvimento a fazer a transição energética e implementar uma economia de baixo carbono. (ecodebate)

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