As enchentes, intensificadas pelas
mudanças climáticas, expõem falhas na gestão urbana: lixo nas vias,
impermeabilização inadequada, drenagem deficiente e ocupação desordenada.
Prevenir é crucial!
Início escrevendo que também
abalado com as graves consequências das fortes chuvas no Rio Grande do Sul,
como disse um amigo, lembro de quatro situações em que vivi próximo de áreas
alagadas por enchentes, por causa de chuvas excepcionais, em pelo menos quatro
décadas. Entretanto, nenhuma delas é comparável com a tragédia das enchentes
por que passam os gaúchos e gente que vive no Estado do Rio Grande do Sul, aos
quais me solidarizo.
A primeira que passei foi em 1966. O Rio Tamanduateí transbordou e a água chegou perto das ruas Vasco da Gama e Piratininga, que desembocam na Avenida Rangel Pestana, no bairro do Brás, em São Paulo. Morávamos no 10º andar do Edifício Piratininga e houve corte de energia elétrica e de gás de rua (COMGAS) por umas duas semanas. Fiz o sobe e desce no prédio para comprar mantimentos e o cozimento dos alimentos foi na base da espiriteira a álcool. A “parte boa” foi que fiquei esse tempo sem ir ao Colégio Nossa Senhora do Carmo. Férias forçadas.
A segunda foi por volta de 1970. O mesmo Rio Tamanduateí transbordou e fui com um primo mais velho, com água acima da cintura, ver como estava minha avó paterna que morava no primeiro andar de um pequeno prédio na Avenida do Estado, no bairro do Ipiranga. Ela estava relativamente segura, mas a água demorou para baixar. Sobreviveu, assistida, também, nesse episódio por outros primos e filhos que lhe deram suporte para manter uma dignidade no momento difícil.
A terceira passagem, foi
também em São Paulo, foi na Vila dos Remédios (Osasco), Zona Oeste da capital,
nos anos 1980, onde houve transbordamento das águas do Rio Tietê. Trabalhava no
DAEE, perto do Cebolão (complexo viário com pontes e viadutos) e sem poder
voltar para casa no Cambuci, dormi quatro dias no alojamento do trabalho.
A quarta situação foi entre
1994 e 2002 e não sei precisar direito qual o ano. Foi uma enchente que ocorreu
por transbordamento do Rio dos Sinos, que atingiu boa parte do centro da cidade
de São Leopoldo (RS) onde morei e trabalhei na UNISINOS nesse período. São
Leopoldo agora foi atingida também, mas parece que não com tanta gravidade como
outros municípios gaúchos. Essa é uma primeira impressão.
Por outro lado, as tragédias
das enchentes não são de agora, mas as atuais são mais graves, comprovadamente,
por causa das mudanças climáticas que o Planeta Terra vem passando. Algumas das
causas, principalmente as que provocam enchentes no meio urbano, são conhecidas
como: o acúmulo de lixo em vias públicas, a impermeabilização inadequada do
solo, a deficiência do sistema de macrodrenagem, a duplicação oportunista de
pavimentação asfáltica recobrindo a preexistente (geralmente de
paralelepípedos) e a ocupação desordenada do território municipal pela
especulação imobiliária.
Nesse relato pessoal, sem
precisar os anos e as datas dos episódios das enchentes vividos, outras
situações mais ou menos graves certamente aconteceram. Porém, se como diz o
provérbio popular de que “é melhor prevenir do que remediar” é de causar
espanto o que foi falado em 06/05/2024, na TV, que somente três deputadas
federais tiveram a sensibilidade de destinar verbas, antecipadamente, para a
prevenção dos desastres naturais.
E aqui cabe a pergunta: o que
fizeram boa parte dos nobres deputados para esse tema específico, já que vivem
às turras com o governo federal atrás de grana?
*Heraldo Campos é geólogo
(Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia
Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP,
1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña
e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010). (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário