Dia Mundial do Meio Ambiente
e o recorde de concentração de CO2 na atmosfera.
Falava que os vazios são
maiores e até infinitos” - Manoel de Barros (1916 – 2014)
Fato é que a humanidade
precisa mudar o estilo de vida e o padrão de produção e consumo para evitar o
agravamento do déficit ambiental
O Dia Mundial do Meio
Ambiente é comemorado anualmente em 5 de junho em homenagem ao dia da abertura
da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, mais conhecida
como Conferência de Estocolmo de 1972. O objetivo principal do Dia Mundial do
Meio Ambiente é conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação e
proteção do meio ambiente. Alguns dos principais pontos discutidos durante a
conferência foram:
• Reconhecimento da
interdependência entre o meio ambiente e o desenvolvimento humano: A
conferência destacou a importância de abordar questões ambientais em conjunto
com questões de desenvolvimento econômico e social. Foi reconhecido que a
degradação ambiental afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas e que o
desenvolvimento sustentável é essencial para garantir um futuro próspero para
todos.
• Conservação da natureza e
biodiversidade: A conferência enfatizou a necessidade de proteger a diversidade
biológica e os ecossistemas naturais como parte fundamental da manutenção da
saúde do planeta. Isso incluiu discussões sobre conservação de habitats
naturais, proteção de espécies ameaçadas e gestão sustentável dos recursos
naturais.
• Poluição ambiental: A
poluição do ar, da água e do solo foi um dos principais pontos de discussão. A
conferência reconheceu a necessidade de limitar e controlar a poluição para
proteger a saúde humana e o meio ambiente. Foram discutidas estratégias para
reduzir a poluição industrial, urbana e agrícola, bem como para abordar
questões específicas, como poluição marinha e contaminação por produtos
químicos tóxicos.
• Desenvolvimento de
políticas ambientais globais: A conferência promoveu a ideia de cooperação
internacional para resolver desafios ambientais globais. Isso incluiu
discussões sobre o estabelecimento de acordos e tratados internacionais para
lidar com questões como mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e
proteção da camada de ozônio.
• Participação pública e conscientização: A conferência reconheceu a importância da participação ativa da sociedade civil na proteção do meio ambiente. Foram discutidas maneiras de envolver o público, educar as pessoas sobre questões ambientais e incentivar a ação coletiva para promover a sustentabilidade.
Gases de efeito estufa atingem novo recorde, e impactos climáticos aumentam
A despeito de toda a
discussão internacional, nos 52 anos após a Conferência de Estocolmo, a
situação do meio ambiente só piorou. O mundo vive uma emergência climática e o
principal indicador da crise – que implica no aumento da temperatura global – é
a concentração de CO2 na atmosfera, que em vez de diminuir, continua
aumentando e em ritmo acelerado.
Em 1958, o cientista Charles Keeling instalou no alto do vulcão Mauna Loa o primeiro equipamento para medir as concentrações de CO2 na atmosfera. Isto possibilitou, a partir de uma sólida série de dados, que houvesse a medição direta da concentração de gases de efeito estufa (GGE). A série da curva de Keeling mostra que a concentração de CO2 na atmosfera estava em 330 partes por milhão (ppm) em maio de 1972 e alcançou 427 ppm em maio de 2024, conforme mostra o gráfico abaixo.
Este crescimento exponencial apresentado pela curva de Keeling é um fato inédito na história da humanidade e nunca, nos últimos 14 milhões de anos, havia ocorrido concentrações de CO2 na atmosfera acima de 420 ppm. Segundo o artigo “Toward a Cenozoic history of atmospheric CO2”, publicado na revista acadêmica Science (08/12/2023), a última vez que a atmosfera registrou 420 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono foi entre 14 e 16 milhões de anos atrás, quando não havia gelo na Groenlândia e os ancestrais mais próximos dos humanos (hominídeos) ainda não existiam. Este novo estudo indica que isto é muito mais antigo do que os 3 a 5 milhões de anos indicados por análises anteriores.
No nível atual e no ritmo de
aumento da concentração de CO2, a humanidade não vai conseguir
evitar que a temperatura média global ultrapasse os 2ºC estabelecidos como
limite máximo do Acordo de Paris. Para evitar um colapso climático, a
concentração anual de CO2 precisa diminuir e ficar abaixo de 350
ppm, pois o nível dos oceanos está subindo alguns centímetros por década e pode
passar a subir mais de um centímetro por ano, o que seria catastrófico.
A aceleração do aquecimento
global aumenta o degelo das calotas polares, inunda os deltas dos grandes rios
e aumenta o volume e a frequência dos eventos climáticos extremos. As enchentes
que ocorreram no Rio Grande do Sul em 2023 e em maio de 2024 são, inegavelmente,
consequências do aumento da temperatura da Terra. A temperatura aumenta porque
crescem as emissões globais de gases de efeito estufa e, consequentemente,
amplia a concentração de CO2 na atmosfera. Maior efeito estufa
implica em maior temperatura e um tempo mais quente aumenta os desastres
climáticos.
O ano de 2023 foi marcado por
uma imensa seca na Amazônia, por uma inundação “bíblica” no Paquistão e por
queimadas infernais no Canadá. Em maio de 2024, além das inundações do Rio
Grande do Sul, houve desastres de grandes proporções no Quênia, na Tanzânia, no
Afeganistão e em Papua-Nova Guiné. Áreas ricas de Houston, no Texas receberam o
equivalente a quatro meses de chuva em menos de uma semana. Uma série de
tornados atingiram cidades dos EUA. Os incêndios na província de Colúmbia
Britânica, no Canadá voltaram com força. A temporada de furacões no Atlântico
Norte em 2024 deverá ser a maior já registrada. A onda de calor da Índia e do
Paquistão em maio de 2024 tem testado os limites humanos e a temperatura alcançou
a marca de 50ºC em Nova Deli, enquanto as autoridades alertavam para a escassez
de água na capital da Índia, que possui mais de 30 milhões de habitantes.
No último ano, o Brasil teve dois meses a mais de calor extremo, que não teriam ocorrido sem as mudanças climáticas. De 15 de maio de 2023 a 15 de maio de 2024, o país registrou, em média, 65,9 dias adicionais de altas temperaturas devido ao aquecimento global provocado pelas atividades humanas. Na média mundial, o índice foi de 26 dias.
Colapso ambiental já começou e vai se prolongar por uma longa novela em inúmeros capítulos. Para garantir medidas efetivas de mitigação e de adaptação é preciso diminuir a Pegada Ecológica da Humanidade. Decrescimento da população e da economia é a alternativa para reduzir a sobrecarga da Terra. Decrescimento com prosperidade e aumento do bem-estar dos seres humanos e não humanos. O fundamental é decrescer as atividades poluidoras e estimular o crescimento das atividades amigáveis ao meio ambiente, tais como:
• Decrescer os gastos
militares e reduzir a produção e uso de instrumentos de guerra, aumentando os
investimentos em atividades de engrandecimento da solidariedade nacional e
internacional, na promoção da paz e na ampliação do bem-estar social (com melhoria
da saúde, da educação e cultura ecocêntrica);
• Decrescer a produção e o
consumo de fertilizantes químicos e agrotóxicos e aumentar os investimentos na
agricultura orgânica, na permacultura e na agricultura urbana, produzindo
alimentos saudáveis perto dos grandes centros urbanos (para decrescer os custos
de transporte e o desperdício dos alimentos);
• Decrescer as áreas de
pastagem e a produção e o consumo de proteína animal, promovendo a transição
para uma dieta vegetariana e vegana, além de aumentar as áreas de vegetação
nativa;
• Decrescer a produção e o
uso de carros particulares (principalmente aqueles grandes, pesados e que
demandam muita energia por quilômetro rodado) e aumentar os investimentos em
transporte coletivo e no compartilhamento de automóveis elétricos;
• Decrescer as desigualdades,
o consumo conspícuo, os bens de luxo e investir em bens e serviços que permitam
a universalização do bem-estar, aumentando as atividades da economia solidária,
da economia colaborativa, de forma a diminuir os impactos das atividades
degradantes do meio ambiente;
• Decrescer a demanda dos
serviços ecossistêmicos, reduzir a poluição e diminuir as áreas ecúmenas,
aumentando as áreas verdes (florestas e matas), limpando os rios, lagos e
oceanos para viabilizar a recuperação da biodiversidade, o aumento das áreas
anecúmenas e o incremento da qualidade de vida ecológica;
• Garantir os direitos
sexuais e reprodutivos e taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição,
para promover o decrescimento demográfico global de longo prazo;
• Decrescer a economia
material e aumentar a economia imaterial, a produção de bens intangíveis e a
sociedade do conhecimento, da solidariedade e do compartilhamento.
O fato é que a humanidade
precisa mudar o estilo de vida e o padrão de produção e consumo para evitar o
agravamento do déficit ambiental. É impossível manter o crescimento
demoeconômico do Antropoceno quando o sistema produtivo e o padrão de consumo
geram, ininterruptamente, um fluxo metabólico entrópico. Em geral, as
sociedades entram em declínio quando os retornos da complexidade são decrescentes
e quando as externalidades são crescentes.
Assim, a redução do volume das atividades antrópicas ao longo do século XXI poderá viabilizar uma maior sustentabilidade ambiental, propiciando maior qualidade de vida para os seres humanos e para as demais espécies vivas do Planeta.
“A natureza não precisa dos seres humanos, mas a humanidade precisa e depende totalmente do meio ambiente”. (ecodebate)
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