As
enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul revelam a urgência de repensar a
ocupação do solo. Através do mapeamento das áreas de transbordamento natural,
podemos delimitar zonas de risco e evitar futuras tragédias.
O modelo chinês de Dongtan, uma “ecocidade” sustentável, oferece um exemplo inspirador de como construir cidades resilientes em harmonia com a natureza.
O mapa das águas
As
águas, com sua sabedoria, já deram seu recado, nas suas áreas de
transbordamento natural em território riograndense. As próprias águas fizeram
sua cartografia e geraram um mapa, pelo menos para esse período de chuvas excepcionais,
delimitando até onde elas podem chegar e onde as ocupações humanas (urbanas e
rurais) devem ser posicionadas.
Só
não vê quem não quer. As cidades, por exemplo, devem ter pelo menos um recuo
considerável para longe das calhas dos rios e das planícies de inundação, com
alguns quilômetros de distância, dependendo de cada situação
geológica-geomorfológica em que se encontram as bacias de drenagem.
Estudos
para isso existem há algum tempo, mas muitos deles terminam engavetados pelas
administrações públicas. Tentar, forçadamente, reconstruir um ambiente de
moradias nas áreas dominadas pelas enchentes devastadoras, como as que
ocorreram em maio de 2024, parece uma insanidade política-administrativa sem
tamanho.
O
mapa das águas atualizado, cartograficamente, não é difícil de se fazer,
delimitando com segurança técnica e científica as áreas que não devem ser
ocupadas. Uma compilação de dados existentes sobre as características
geológicas, geomorfológicas, geotécnicas e hidrológicas dos terrenos, associada
com imagens de satélites, podem, com certa tranquilidade, apontar as áreas
comprometidas para novas enchentes excepcionais.
Em outras palavras, o poder público dispõe de instrumentos técnicos, há décadas, para as devidas tomadas de decisões. No entanto, percebe-se que o tempo passou, medidas preventivas foram deixadas de lado e os prejuízos humanos e materiais são gigantescos. Nunca é demais lembrar que nesse mapa das águas, na sua base cartográfica, deve constar os planos diretores municipais, com o devido cuidado para não apontar terrenos para novas ocupações, topograficamente distantes das áreas de transbordamento natural, mas em setores de encostas suscetíveis aos deslizamentos de terra e de rocha. Uma orientação técnica nesse sentido seria somente a transferência do problema para curto e médio prazo.
Projeto urbanístico de Dongtan.
Assim,
o desafio para as futuras ocupações dos territórios está lançado, tendo em
vista que as mudanças climáticas que provocam grandes tragédias são vistas e
sentidas em várias regiões do Planeta Terra. Um exemplo de como lidar com essa
situação ambiental pode ser o modelo chinês de uma “eco-cidade” denominada de
Dongtan, localizada no delta do Yang Tsé-Kiang, ao norte da Província de
Xangai.
“O
objetivo é fazer de forma que os moradores consumam apenas dois terços de
energia utilizada em média habitualmente e limitar ao mínimo possível as
emissões de gases de efeito estufa.
Com essa finalidade, Dongtan produzirá sua própria energia. Parques de grandes geradores eólicos, bem como painéis solares sobre as casas, darão conta de parte das necessidades. A biomassa, proveniente em sua maioria das cascas de arroz dos moinhos locais e dos resíduos orgânicos da cidade, fornecerá energia para a combustão do biogás.
Microturbinas eólicas sobre os telhados dos imóveis, que não poderão ultrapassar os oito andares, produzirão diretamente a energia para seus habitantes. A utilização de materiais locais, o isolamento, a ventilação natural, a orientação das fachadas em função do sol assegurará a neutralidade das construções em emissões de CO2 e permitirão uma economia energética de até 70% em relação aos imóveis tradicionais. As águas de chuva, bem como as águas servidas, serão recuperadas e tratadas quando necessário, para irrigar a lavoura. (ecodebate)
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