Somente 4% dos RSU são
reciclados, sendo o restante encaminhado para os aterros sanitários e até
lixões a céu aberto, estes últimos que, mesmo após 14 anos da implementação da
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – instituída pela Lei Federal nº
12.305, de 02/08/2010), ainda representam quase 40% da destinação final no
Brasil.
A partir do momento em que os
resíduos são vistos como uma oportunidade para geração de bioenergia e bioprodutos
de valor agregado, tem-se um cenário completamente diferente.
Podemos tomar como exemplos
países desenvolvidos, como Alemanha, Suécia e Japão, que são referência mundial
na gestão sustentável e eficiente de resíduos, se pautando em políticas públicas
progressivas, desenvolvendo e implementando infraestrutura de ponta para
coleta, tratamento e disposição, e estabelecendo metas factíveis pautadas em um
bom planejamento.
Nestes países os resíduos são
segregados na fonte desde as décadas de 80 ou 90, o que facilita sobremaneira o
processo de reciclagem e o aproveitamento da fração orgânica. E lixo é
considerado somente a parcela do resíduo que não é passível de nenhum tipo de
aproveitamento e, somente nestes casos, pode ser aterrada. Ainda assim, passando
por um tratamento prévio (mecânico-biológico ou térmico) para evitar impactos
ambientais do aterramento.
No caso da Alemanha, dados do Federal Statistical Office (Destatis) apontaram uma taxa de reciclagem de RSU de quase 70% no país, enquanto a fração orgânica é aproveitada em processos de compostagem ou em processos Waste-to-Energy (W2E), como incineração e a produção de biogás por meio da digestão anaeróbia, sendo os usos energéticos normalmente na forma térmica ou elétrica.
No caso do biogás, vem crescendo também sua purificação a biometano (cerca de 15% do total de biogás produzido em 2021, segundo a European Biogas Association – EBA), utilizado como biocombustível similar ao gás natural, porém de origem renovável. E além do produto gasoso, a digestão anaeróbia produz o biodigerido (ou digestato), que é utilizado como biofertilizante ou melhorador de solos majoritariamente na agricultura (97%), mas também em outros setores, como paisagismo.
Nestes países observa-se que
a taxa de geração dos resíduos é acompanhada da oferta da infraestrutura
necessária para uma gestão inteligente, fato que não ocorre no Brasil, que tem
um potencial energético enorme a partir deste aproveitamento.
Segundo
dados da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás), o potencial
teórico de produção de biogás brasileiro a partir de biomassa residual em geral
é de 84,6 bilhões de metros cúbicos por ano, suficiente para suprir 40% da
demanda interna de energia elétrica e 70% do consumo de diesel. No entanto, a
produção efetiva de biogás fica abaixo dos 3% do potencial teórico, sendo o
setor de saneamento o que mais contribui atualmente para esta produção (cerca
de 60%), principalmente através dos aterros sanitários.
Para os países referência
internacional em gestão sustentável supracitados, o aterramento é uma
tecnologia para tratamento de lixo e não de resíduo. Ou seja, o Brasil
desperdiça toneladas de resíduos que poderiam ser melhor aproveitados se
houvesse um bom sistema de coleta, separação, tratamento e disposição.
Mas para não deixar o
otimismo de lado, temos um exemplo pioneiro no Brasil para aproveitamento
energético da fração orgânica de RSU, utilizando tecnologia 100% nacional
baseada na digestão seca para produção de biogás.
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