Partes da Antártica estão
ficando verdes com vida vegetal a ritmo alarmante, à medida que a região é
afetada por eventos extremos de calor, de acordo com nova pesquisa. Esse fator,
no entanto, levanta preocupações sobre a mudança na paisagem desse vasto
continente.
Cientistas usaram imagens de
satélite e dados para analisar os níveis de vegetação na Península Antártica, uma
longa cadeia de montanhas que se estende ao norte até a ponta da América do
Sul, e que tem aquecido muito mais rápido do que a média global.
Eles descobriram que a vida
vegetal — principalmente musgos — aumentou mais de 10 vezes ao longo das
últimas 4 décadas, segundo o estudo realizado por cientistas das universidades
de Exeter e Hertfordshire, na Inglaterra, e do British Antarctic Survey,
publicado em 06/10/2024 na revista Nature Geoscience.
A vegetação cobria menos de 1
km2 da Península Antártica em 1986, mas atingiu quase 13 km2
em 2021, de acordo com o estudo. O ritmo em que a região está ficando verde
também tem acelerado ao longo das últimas 4 décadas, com uma aceleração de mais
de 30% entre 2016 e 2021.
Embora a paisagem ainda seja
quase inteiramente composta por neve, gelo e rocha, essa pequena área
esverdeada cresceu dramaticamente desde meados dos anos 1980, disse Thomas
Roland, autor do estudo e cientista ambiental da Universidade de Exeter.
“Nossas descobertas confirmam que a influência das mudanças climáticas antropogênicas não tem limite em seu alcance”, disse Roland à CNN. “Mesmo na Península Antártica — essa região de ‘selvageria’ mais extrema, remota e isolada — a paisagem está mudando, e esses efeitos são visíveis do espaço”.
Uma parte da Ilha Barrientos que deu lugar à vida vegetal
A Antártica, o lugar mais
frio da Terra, recentemente enfrentou eventos extremos de calor. Neste verão,
partes do continente experimentaram uma onda quente recorde, com temperaturas
subindo até 27°C acima do normal a partir de meados de julho.
Em março/2022, as
temperaturas em algumas partes do continente atingiram até 39°C acima do
normal, os desvios de temperatura mais extremos já registrados nessa parte do
planeta.
À medida que a poluição por combustíveis
fósseis continua a aquecer o mundo, os cientistas preveem que a Antártica
continuará a aquecer e essa “vegetação crescente” provavelmente vai acelerar.
Quanto mais a península fica
verde, mais solo será formado, e maior será a chance de a região se tornar mais
favorável para espécies invasoras, o que pode ameaçar a fauna nativa.
“Sementes, esporos e fragmentos de plantas podem facilmente chegar à Península Antártica nas botas ou equipamentos de turistas e pesquisadores, ou por rotas mais ‘tradicionais’, associadas a pássaros migratórios e ao vento e, por isso, o risco aqui é claro”, disse ele.
Vegetação crescendo na paisagem rochosa de Norsel Point, na Antártica
O aumento da vegetação também
pode reduzir a capacidade da península de refletir a radiação solar de volta
para o espaço, já que superfícies mais escuras absorvem mais calor.
Esses
impactos provavelmente seriam apenas locais, mas poderiam ajudar a acelerar
ainda mais o crescimento da vida vegetal à medida que o clima continua a
aquecer, disse Olly Bartlett, um dos autores e professor sênior em
sensoriamento remoto e geografia na Universidade de Hertfordshire.
Matthew Davey, professor associado de ecologia fisiológica na Scottish Association for Marine Science e especialista em plantas polares e ecologia microbiana, disse à CNN que o estudo representa “um avanço importante” para entender a vida vegetal na Antártica.
Estudo acompanhou avanço da área verde sobre o gelo por imagens de satélites.
“Essa paisagem icônica pode
ser alterada para sempre”, afirmou.
Pode haver até mais vegetação
do que a identificada, segundo Davey, que não participou da pesquisa. Os
métodos usados pelos cientistas detectariam principalmente campos de musgos
maiores e mais verdes, disse ele
“Mas sabemos que também
existem grandes áreas de líquens, grama e algas de neve esverdeadas e vermelhas
que também contribuem para a vegetação na Antártica”.
Embora o aumento real da área
de flora seja pequeno, ele acrescentou, a elevação percentual é dramática e
mostra “a tendência de que a vegetação está se espalhando, embora lentamente,
na Antártica”.
Próxima etapa para os cientistas será estudar como as plantas colonizam áreas de terra recentemente expostas à medida que as geleiras da Antártica continuam a recuar.
Aumento da cobertura vegetal foi constatado por meio de imagens de satélite ao longo dos anos. (cnn)
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