segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Antártica verde: imagens de satélite mostram efeitos do aquecimento

Onda de calor recorde que subiu temperaturas em até 27°C pode ameaçar a fauna nativa.
Ilha Ardley, na Antártica, com cerca de 1,6 km de comprimento e lar de várias colônias de pinguins.

Partes da Antártica estão ficando verdes com vida vegetal a ritmo alarmante, à medida que a região é afetada por eventos extremos de calor, de acordo com nova pesquisa. Esse fator, no entanto, levanta preocupações sobre a mudança na paisagem desse vasto continente.

Cientistas usaram imagens de satélite e dados para analisar os níveis de vegetação na Península Antártica, uma longa cadeia de montanhas que se estende ao norte até a ponta da América do Sul, e que tem aquecido muito mais rápido do que a média global.

Eles descobriram que a vida vegetal — principalmente musgos — aumentou mais de 10 vezes ao longo das últimas 4 décadas, segundo o estudo realizado por cientistas das universidades de Exeter e Hertfordshire, na Inglaterra, e do British Antarctic Survey, publicado em 06/10/2024 na revista Nature Geoscience.

A vegetação cobria menos de 1 km2 da Península Antártica em 1986, mas atingiu quase 13 km2 em 2021, de acordo com o estudo. O ritmo em que a região está ficando verde também tem acelerado ao longo das últimas 4 décadas, com uma aceleração de mais de 30% entre 2016 e 2021.

Embora a paisagem ainda seja quase inteiramente composta por neve, gelo e rocha, essa pequena área esverdeada cresceu dramaticamente desde meados dos anos 1980, disse Thomas Roland, autor do estudo e cientista ambiental da Universidade de Exeter.

“Nossas descobertas confirmam que a influência das mudanças climáticas antropogênicas não tem limite em seu alcance”, disse Roland à CNN. “Mesmo na Península Antártica — essa região de ‘selvageria’ mais extrema, remota e isolada — a paisagem está mudando, e esses efeitos são visíveis do espaço”.

Uma parte da Ilha Barrientos que deu lugar à vida vegetal

A Antártica, o lugar mais frio da Terra, recentemente enfrentou eventos extremos de calor. Neste verão, partes do continente experimentaram uma onda quente recorde, com temperaturas subindo até 27°C acima do normal a partir de meados de julho.

Em março/2022, as temperaturas em algumas partes do continente atingiram até 39°C acima do normal, os desvios de temperatura mais extremos já registrados nessa parte do planeta.

À medida que a poluição por combustíveis fósseis continua a aquecer o mundo, os cientistas preveem que a Antártica continuará a aquecer e essa “vegetação crescente” provavelmente vai acelerar.

Quanto mais a península fica verde, mais solo será formado, e maior será a chance de a região se tornar mais favorável para espécies invasoras, o que pode ameaçar a fauna nativa.

“Sementes, esporos e fragmentos de plantas podem facilmente chegar à Península Antártica nas botas ou equipamentos de turistas e pesquisadores, ou por rotas mais ‘tradicionais’, associadas a pássaros migratórios e ao vento e, por isso, o risco aqui é claro”, disse ele.

Vegetação crescendo na paisagem rochosa de Norsel Point, na Antártica

O aumento da vegetação também pode reduzir a capacidade da península de refletir a radiação solar de volta para o espaço, já que superfícies mais escuras absorvem mais calor.

Esses impactos provavelmente seriam apenas locais, mas poderiam ajudar a acelerar ainda mais o crescimento da vida vegetal à medida que o clima continua a aquecer, disse Olly Bartlett, um dos autores e professor sênior em sensoriamento remoto e geografia na Universidade de Hertfordshire.

Matthew Davey, professor associado de ecologia fisiológica na Scottish Association for Marine Science e especialista em plantas polares e ecologia microbiana, disse à CNN que o estudo representa “um avanço importante” para entender a vida vegetal na Antártica.

Estudo acompanhou avanço da área verde sobre o gelo por imagens de satélites.

“Essa paisagem icônica pode ser alterada para sempre”, afirmou.

Pode haver até mais vegetação do que a identificada, segundo Davey, que não participou da pesquisa. Os métodos usados pelos cientistas detectariam principalmente campos de musgos maiores e mais verdes, disse ele

“Mas sabemos que também existem grandes áreas de líquens, grama e algas de neve esverdeadas e vermelhas que também contribuem para a vegetação na Antártica”.

Embora o aumento real da área de flora seja pequeno, ele acrescentou, a elevação percentual é dramática e mostra “a tendência de que a vegetação está se espalhando, embora lentamente, na Antártica”.

Próxima etapa para os cientistas será estudar como as plantas colonizam áreas de terra recentemente expostas à medida que as geleiras da Antártica continuam a recuar.

Aumento da cobertura vegetal foi constatado por meio de imagens de satélite ao longo dos anos. (cnn)

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