Descarte irregular de
entulhos
Chumbo, mercúrio, cádmio e
arsênio estão entre os elementos tóxicos liberados pelo descarte irregular de
resíduos da construção civil. 60% do entulho ainda é descartado de forma
clandestina.
Água contaminada por chumbo.
Solo envenenado por mercúrio. Crianças expostas a cádmio e arsênio. Essa é a
realidade invisível provocada pelo avanço dos lixões urbanos no Brasil,
alimentados principalmente pelo descarte irregular de resíduos da construção
civil (RCD).
Segundo a nova Pesquisa
Setorial 2024 da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da
Construção Civil e Demolição (Abrecon), o país gera mais de 106 milhões de
toneladas de entulho por ano, mas recicla apenas cerca de 25% desse total e
destina de forma adequada entre 30% e 40%. Isso significa que aproximadamente
60% do entulho ainda é descartado de forma clandestina, contaminando áreas de
preservação, margens de rios e até bairros residenciais.
O problema, muitas vezes invisível, compromete a saúde pública e os ecossistemas. Entulhos misturados com restos de tinta, metais e componentes químicos liberam uma variedade de elementos tóxicos — chumbo, mercúrio, cádmio, arsênio, fósforo, cromo e bário — que infiltram no solo e atingem lençóis freáticos, contaminando rios, poços e fontes de abastecimento.
Descarte incorreto: entulhos de construção civil são encontrados em contêiner de lixo.
Situação compromete logística
de trabalho do caminhão que realiza a rota.
“Estamos diante de uma crise
silenciosa. Os efeitos dessa contaminação são cumulativos e podem causar
câncer, doenças neurológicas, alterações hormonais e danos irreversíveis ao
sistema renal. E o mais grave é que tudo isso acontece ao lado de áreas
residenciais, muitas vezes sem que a população perceba”, afirma Rafael
Teixeira, especialista em reciclagem e logística de resíduos da Abrecon.
O impacto vai muito além da
degradação visual. O entulho descartado de forma irregular aumenta o risco de
enchentes, contamina mananciais, favorece a proliferação de vetores de doenças
e contribui para deslizamentos de terra, sobretudo em áreas urbanas
vulneráveis. “Quando falamos em lixões, as pessoas pensam em lixo doméstico.
Mas hoje, o maior volume de descarte irregular nas cidades é de entulho. E não
é só uma questão estética ou de limpeza urbana — é uma questão de saúde pública
e de responsabilidade ambiental”, reforça Teixeira.
O levantamento também mostra
que o Brasil tem capacidade instalada para destinar corretamente até 81 milhões
de m³ de RCD por ano, mas menos da metade dessa estrutura está sendo utilizada.
Em paralelo, mesmo com a produção de 24 milhões de m³ de agregados reciclados, apenas 16 milhões de m³ são efetivamente comercializados. O restante se perde por falta de política pública, incentivo à compra e fiscalização adequada.
Boa gestão e combate ao descarte irregular
Após fazer a triagem de resíduos de construção civil e de outros materiais reaproveitáveis por contaminar o meio ambiente, o restante é moído por poderosas máquinas trituradoras.
Pedriscos, areia e pedras depois que os resíduos são triados e triturados, sendo reaproveitados na construção.
Para a Abrecon, é urgente que
os municípios implementem planos de gestão de resíduos da construção civil
(PGRCD), incentivem o uso de agregados reciclados em obras públicas, adotem
medidas rigorosas contra o descarte irregular — inclusive com responsabilização
direta dos geradores — e fortaleçam os mecanismos de fiscalização e
rastreabilidade do transporte de entulho. “Não se trata mais de opção. É uma
urgência ambiental e social. O entulho descartado de forma criminosa hoje será
a água contaminada que vamos beber amanhã”, finaliza Teixeira. (ecodebate)
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