A Terra enfrenta uma
catástrofe silenciosa: a perda da biodiversidade em ritmo alarmante. Este
artigo revela como hábitos de consumo globais e a destruição de habitats,
incluindo os biomas brasileiros como a Amazônia, comprometem a base da vida no
planeta e o futuro da medicina moderna, exigindo ações imediatas para reverter
essa tendência perigosa.
Descubra a crise global da
biodiversidade: seus riscos de extinção em massa, impactos ambientais, sociais
e na pesquisa médica. Entenda como o consumo de países ricos impulsiona o
desmatamento e ameaça espécies, incluindo as do Brasil. Saiba sobre as urgentes
medidas de mitigação para proteger nosso futuro.
A Terra enfrenta uma das suas
maiores ameaças ambientais: a perda acelerada de biodiversidade. A variedade de
vida no nosso planeta, que abrange desde a diversidade dentro das espécies até
a complexidade dos ecossistemas, é a base que sustenta a vida, fornecendo
serviços essenciais como purificação do ar e da água, polinização de culturas
agrícolas, regulação do clima e proteção contra desastres naturais. No entanto,
um estudo recente e alarmante aponta para um declínio catastrófico de 73% no
tamanho médio das populações de vida selvagem monitoradas entre 1970 e 2020,
sinalizando que o mundo se aproxima de perigosos “pontos de não retorno”.
O consumo dos países ricos e
o impulso à destruição
Um estudo da Universidade de
Princeton, publicado na revista Nature, revelou o impacto oculto do consumo de
nações de alta renda na perda global de biodiversidade. Embora muitos países
causem degradação ambiental dentro de suas próprias fronteiras, os países
desenvolvidos desempenham um papel significativo na perda de habitats no
exterior ao terceirizar a produção agrícola e importar alimentos e madeira.
Essa demanda externa leva as nações exportadoras a destruir suas florestas para
atender ao consumo.
Principais motores da perda
de biodiversidade
A destruição de habitats
naturais, especialmente florestas, para a produção agrícola e extração de
madeira, tem sido um dos principais motores da perda de biodiversidade nas
últimas décadas. O Relatório Planeta Vivo 2024 do WWF reforça que a perda e
degradação de habitat, impulsionadas principalmente pelos nossos sistemas
alimentares, são as ameaças mais reportadas para as populações de vida selvagem
globalmente, seguidas por superexploração, espécies invasoras e doenças. Além
disso, as mudanças climáticas representam uma ameaça crescente, especialmente
na América Latina e no Caribe, onde foi registrada uma queda média de 95% nas
populações de vida selvagem.
Uma nova pesquisa publicada
na Nature Ecology and Evolution identificou as seis principais ameaças que
afetam anfíbios terrestres, pássaros e mamíferos: agricultura, caça e captura,
extração madeireira, poluição, espécies invasivas e mudança climática. A
agricultura é a maior ameaça para os anfíbios, afetando 44% das terras globais,
e é a ameaça mais prevalente quando consideramos anfíbios, mamíferos e pássaros
juntos. Para pássaros e mamíferos, a caça e captura é a ameaça mais difundida,
predominando em 50% e 73% das terras, respectivamente. Regiões como o Sudeste
Asiático (Sumatra e Bornéu), Madagascar, e a Europa (para anfíbios devido a
agricultura, espécies invasoras e poluição) são identificadas como “pontos
críticos” de perda severa de biodiversidade.
Riscos de extinção em massa e
pontos de não retorno
O declínio dramático de 73%
nas populações de vida selvagem monitoradas globalmente, conforme o Índice
Planeta Vivo (IPV), serve como um alerta precoce do risco crescente de extinção
e da possível perda de ecossistemas saudáveis. Esse cenário nos coloca à beira
de “pontos de não retorno” globais, onde um ecossistema é empurrado para além
de um limite crítico, resultando em mudanças substanciais e potencialmente
irreversíveis. Exemplos incluem o colapso da Floresta Amazônica e a morte em
massa de recifes de corais, que geram ondas de choque que afetam a segurança
alimentar e os meios de subsistência em todo o mundo.
Impactos e consequências
Os impactos da perda de
biodiversidade são vastos e interconectados, afetando tanto o meio ambiente
quanto a sociedade.
• Impactos Ambientais:
- Degradação de habitats e
diminuição da capacidade dos ecossistemas de suportar a vida, criando ciclos de
feedback negativo onde a perda de uma espécie leva à perda de outras.
- Redução da resiliência dos
ecossistemas a eventos extremos como incêndios, inundações e secas,
comprometendo sua capacidade de se recuperar e continuar a fornecer serviços
essenciais.
- Perda da capacidade de
provisão de ar e água limpos, solos saudáveis para produção de alimentos, e
polinização de culturas agrícolas.
• Impactos Socioeconômicos:
- Escassez de recursos
naturais (alimentos, medicamentos, materiais de construção), afetando
diretamente a segurança alimentar e a saúde das populações humanas,
especialmente aquelas que dependem diretamente desses recursos para sua
subsistência.
- Perda do valor econômico
direto e indireto da biodiversidade, que contribui para o turismo ecológico,
pesca sustentável e agricultura.
- As populações humanas que
menos contribuem para a crise climática e de biodiversidade são as mais
afetadas pelos impactos das mudanças.
- Impactos na Pesquisa Médica
e Saúde Humana:
- A natureza é um
“laboratório vivo”, e a perda contínua de biodiversidade compromete diretamente
o desenvolvimento de novos medicamentos. Cerca de 50% dos medicamentos modernos
têm origem em compostos naturais.
- A extinção de uma espécie
antes que seja estudada é comparada a “queimar um livro inédito”, resultando na
perda definitiva de moléculas, enzimas e genes que poderiam originar
medicamentos, vacinas ou biotecnologias inovadoras.
- Exemplos incluem a aspirina
(salgueiro), o taxol (Taxus brevifolia) e o captopril (veneno da jararaca).
- Microrganismos, como
bactérias do gênero Streptomyces (responsáveis por mais de dois terços dos
antibióticos em uso) e fungos endofíticos (com ação anticâncer), são
peças-chave para a medicina, mas muitos estão desaparecendo junto com seus
habitats antes mesmo de serem estudados.
Ações urgentes e medidas de
mitigação
Para enfrentar a crise da
biodiversidade, são necessárias ações coordenadas e integradas em todos os
níveis da sociedade.
• Ações de Conservação:
- Criação de áreas protegidas
e restauração de habitats degradados.
- Implementação de práticas
agrícolas e florestais sustentáveis.
- Aumento da conscientização
pública e promoção da participação comunitária na conservação.
- Políticas e práticas de
consumo mais sustentáveis nos países desenvolvidos, visando reduzir a demanda
por produtos que levam ao desmatamento.
• Compromissos Globais e
Nacionais:
- Os países já concordaram
com metas ambiciosas como o Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal
(para interromper e reverter a perda da natureza), o Acordo de Paris (para
limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC) e os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável da ONU (para erradicar a pobreza).
- É fundamental que os países
elevem seus compromissos e ações, produzindo e implementando planos nacionais
mais ambiciosos para a natureza e o clima (NBSAPs e NDCs).
- Esses planos devem incluir
medidas para reduzir o consumo excessivo global, interromper e reverter a perda
de biodiversidade doméstica e importada, e reduzir as emissões.
• Financiamento e
Reorientação:
- É preciso desbloquear mais
financiamento público e privado para permitir ações em grande escala.
- Governos e empresas devem
eliminar rapidamente atividades com impactos negativos na biodiversidade e no
clima, redirecionando o financiamento de práticas prejudiciais para atividades
que cumpram as metas globais.
- Soluções baseadas na
natureza, como a agricultura regenerativa e a restauração de florestas, áreas
úmidas e manguezais, podem impulsionar ecossistemas saudáveis e o bem-estar
humano.
Apesar da situação ser
desesperadora, ainda não ultrapassamos o ponto de não retorno. Temos os acordos
globais e as soluções para colocar a natureza no caminho da recuperação até
2030. As decisões e ações tomadas nos próximos cinco anos serão cruciais para o
futuro da vida na Terra.
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