O principal obstáculo: O
"quanto" produzir
Divergência sobre a produção: Enquanto
há um amplo consenso sobre "o que" fazer (melhorar a reciclagem, a
logística reversa e o design das embalagens), a questão sobre
"quanto" plástico deve ser produzido permanece sem solução.
Interesses econômicos: A
hesitação em controlar ou reduzir a produção de matéria-prima plástica é
motivada por interesses econômicos e pelo receio de impactos sociais,
especialmente em países produtores de petróleo e gás.
A divisão das nações
Posições de poder: Alguns
países, como os produtores de combustíveis fósseis, querem priorizar o
tratamento de resíduos e a reciclagem.
Ações robustas: Outros países,
com altas ambições, buscam um tratado que inclua metas para reduzir a produção
de plástico, restringir químicos perigosos e financiar iniciativas de gestão e
recuperação.
Consequências do fracasso
Ausência de metas claras: O
resultado é um documento sem obrigações claras, que pode levar a um
"falso" senso de resolução, mas que não ataca a causa raiz da crise
da poluição.
Aumento da produção de
plástico: Sem políticas globais robustas, a produção de plástico novo pode
crescer drasticamente, aumentando a crise ambiental.
Quando as conversas
internacionais sobre poluição plástica voltam a patinar, a mensagem ao mundo é
desalentadora: sabemos o que funciona, mas adiamos o que precisa ser feito. Há
consenso sobre como e o que fazer, mas falta definir metas e regras com
consequências reais para atingir o objetivo.
De um lado, não há quem
conteste ampliar a coleta seletiva, estruturar a logística reversa, padronizar
materiais e priorizar embalagens efetivamente recicláveis são pilares da solução.
Também já não há dúvida de que design importa: menos multicamadas e aditivos
problemáticos, cores e rótulos que não prejudiquem a triagem, e padronização
que permita ganho de escala. Isso é “o que” fazer.
No entanto, persiste a
divergência sobre o “quanto” produzir. Hesitamos em controlar ou reduzir a
produção de matéria-prima plástica. É compreensível porque há interesses
econômicos, impacto social e assimetrias entre países, mas não pode servir de
pretexto para paralisar o que já está acordado. É possível avançar com metas
robustas de gestão e circularidade enquanto se debate, em trilho próprio,
instrumentos sobre oferta de resina virgem.
O impasse atual revela algo
incômodo: a falta de interesse em alcançar um acordo minimamente vinculante.
Se há pontos aceitos por todos,
por que não os consolidar já em obrigações executórias, com prazos, métricas e
mecanismos de transparência? Deixemos as divergências relevantes, tais como o
controle de produção e as metas de redução absoluta para rodadas subsequentes,
com metodologias e cenários bem definidos. A sociedade não pode ficar refém do
“tudo ou nada”.
Enquanto isso, o mundo pisa no freio com compromissos assumidos nos últimos anos. Metas de conteúdo reciclado são relativizadas, cronogramas escorregam, cláusulas “sujeitas a condições de mercado” viram álibi para a inação. A oscilação do petróleo e a queda do preço da resina virgem corroem a competitividade do reciclado e testam a convicção das marcas. O resultado é um ciclo vicioso: a menor demanda por matéria-prima reciclada inviabiliza investimentos, que por sua vez, reduzem oferta e qualidade.
Falta de tratado contra plástico é catástrofe anunciada
No caso das embalagens
plásticas, todos sabem que a resposta é a economia circular, o que não se
resume a um slogan; é um mecanismo com engrenagens que funcionam em sincronia:
Produção com design para reciclar; Descarte correto; Logística reversa
eficiente; Reciclagem em escala e com qualidade e; Consumo consistente da
matéria-prima reciclada. Sem esta última, o mercado que compra e usa materiais
reciclados é prejudicado. Quando esse mecanismo gira de forma estável, a
demanda por insumos fósseis naturalmente diminui.
O problema é que conjunturas
econômicas travam essa revolução. Petróleo barato torna a resina virgem mais
atraente; de imediato, surgem atalhos: plantar árvores, comprar créditos de
reciclagem ou ostentar selos de logística reversa que, isolados, pouco alteram
a realidade do material no pós-consumo. Esses instrumentos podem ter papel
complementar: financiamento, compensação, transição. Mas quando substituem o
uso efetivo de matéria-prima reciclada, acabam por induzir o consumidor ao erro
com um falso “missão cumprida”.
Mas chegamos na questão
principal: utilizar matéria-prima reciclada é a única forma de fomentar de
verdade toda a cadeia. É a combinação de preço e de volume que financia a
coleta e a triagem, profissionaliza cooperativas, impulsiona a tecnologia e
estabiliza a oferta.
Narrativas contrárias frequentemente buscam proteger materiais com baixa reciclabilidade ou conferir a eles um falso verniz de nobreza. Em alguns casos, opta-se por ações assistencialistas junto à base da cadeia em vez de investimentos estruturais em embalagens de fato recicláveis e recicladas.
Planeta Terra em uma garrafa de plástico no espaço sideral. Ilustração é um vetorial de desenho animado sobre o tema da ecologia. O planeta está morrendo em lixo plástico. Um desastre ecológico na Terra.
O que fazer agora?
Negociar é conciliar ritmo e direção.
A direção, todos conhecem: menos poluição, mais circularidade, menos
dependência de fósseis. Já o ritmo não pode ser o da estagnação. Se a
comunidade internacional não consegue, por ora, resolver tudo, que resolva o
possível e já. Cada mês de paralisia fortalece a resina virgem barata,
enfraquece o reciclado e mina a confiança social.
De fato, devemos estipular
metas nacionais de coleta e reciclagem, padrões mínimos de reciclabilidade por
categoria, rastreabilidade e transparência de dados, além de regras claras para
logística reversa atribuindo responsabilidade a todos os atores do mercado.
A demanda garantida por
reciclado é uma opção. Com metas obrigatórias de conteúdo reciclado (PCR) em
embalagens. Já em Eco modulação e design, taxas e incentivos que tornem mais
caro colocar no mercado o que não é reciclável e mais barato o que cumpre os
critérios.
A blindagem contra greenwashing
também é uma ferramenta. Limitar créditos e selos a um papel complementar, com
verificação independente e proibição explícita de substituírem metas de uso de
reciclado.
A luta contra a poluição plástica não fracassa por falta de solução, mas por falta de decisão. É hora de assinar o que já é consenso e tirar o resto do acostamento.
Poluição por resíduos plásticos é um catastrófico desastre ambiental. (ecodebate)
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