A transição energética, com o
aumento das energias renováveis, e a transição demográfica, com o pico
populacional atingido em 2021, levaram pela primeira vez a uma redução nas
emissões de CO2, mesmo com o aumento da demanda por energia.
Como a transição energética
contribui
Crescimento das energias
renováveis: A China tem investido pesadamente em energia eólica e solar,
expandindo significativamente sua capacidade instalada em 2024.
Substituição de combustíveis
fósseis: A expansão da eletricidade e a eletrificação do setor industrial têm
contribuído para a redução da dependência de carvão e outros combustíveis
fósseis.
Melhoria na intensidade
energética: As metas de eficiência energética e o uso de tecnologias verdes na
economia chinesa também ajudam a diminuir as emissões por unidade de PIB.
Como a transição demográfica
contribui
Pico populacional: A
população chinesa atingiu o seu pico em 2021, prevendo-se que a população
diminua nos próximos anos.
Implicações no consumo e
produção: Uma população estável ou em declínio, mesmo com o crescimento da
renda per capita, tende a ter um impacto menor na demanda por energia e recursos,
o que pode levar a uma redução nas emissões.
Impacto global
Essa redução de emissões pela
China é uma notícia positiva para o clima global, considerando que a China é o
maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.
Os resultados indicam que a China está a caminho de atingir o seu pico de emissões de CO2 antes de 2030 e a neutralidade de carbono até 2060, conforme os seus objetivos.
Transição demográfica e transição energética fez a China atingir o pico das emissões
Já está claro que a China
está conseguindo reverter as tendências passadas das emissões de gases de
efeito estufa
A China era o país mais
populoso do mundo em 1950, mas tinha uma economia pequena, com uma renda per
capita reduzida e, consequentemente, tinha baixa emissão de carbono. Contudo, a
população cresceu muito na segunda metade do século XX e a economia apresentou
as maiores taxas de crescimento da história, após as reformas econômicas e
sociais de Deng Xiaoping, que tiveram início em 1979.
A população da China era de 544
milhões de habitantes em 1950, alcançou 1 bilhão em 1981, atingiu o pico
populacional em 2021, com 1,426 bilhão de habitantes, começou a decrescer em
2022 e perdeu o posto de nação mais populosa do mundo em 2023, quando foi
superada pela Índia. A população em idade ativa (15-59 anos) já está diminuindo
desde 2012.
As emissões de dióxido de
carbono da China eram de 79 milhões de toneladas em 1950, passaram para 1
bilhão de toneladas em 1973, deram um salto para 10 bilhões de toneladas em
2017 e ultrapassaram 12 bilhões de toneladas em 2024. Este valor representa
mais de o dobro das emissões conjuntas dos EUA e da União Europeia.
Mas, como mostra o gráfico abaixo, a China atingiu o pico das emissões de CO2 em 2024 e, pela primeira vez em tempos de crescimento econômico, apresentou redução das emissões, em função do crescimento da oferta das energias renováveis superando a demanda por carvão.
Em entrevista para o Yale Environment 360, o analista-chefe do Centro de pesquisa em energia e ar limpo da Finlândia, Lauri Myllyvirta, disse que a transição para energia limpa, pela primeira vez, está impulsionando uma queda nas emissões de carbono e aumentando a perspectiva de que a China finalmente atinja o “pico de CO2”.
Segundo Myllyvirta, o que
está muito claro é que, nos últimos dois anos, pela primeira vez, o crescimento
na geração de energia limpa foi grande o suficiente para cobrir todo o
crescimento da demanda por eletricidade e mais um pouco. E isso mesmo com a
demanda por eletricidade crescendo acima do normal histórico. As emissões do
setor elétrico vêm caindo há 15 meses. E isso por si só é um desenvolvimento
extremamente significativo. A grande questão agora é se o crescimento da
energia limpa continuará nessas taxas.
No passado, a China foi retardatária
nas negociações internacionais sobre o clima e chegou a bloquear um esforço
para eliminar gradualmente o carvão. Mas agora que emergiu como o maior
produtor de energia limpa, passou a ter um forte incentivo para pressionar
outros países a adotar metas climáticas mais ambiciosas.
Sem dúvida, o domínio chinês nas indústrias de energia limpa está criando as condições para uma queda no uso de combustíveis fósseis atual e nos próximos anos, de acordo com um relatório da EMBER, grupo de pesquisa focado nas perspectivas das tecnologias de energia limpa, como mostra o gráfico abaixo.
Segundo a EMBER, a China é o maior investidor em energia limpa do mundo, gastando US$ 625 bilhões em 2024 – 31% do total global de US$ 2,033 trilhões. O volume de armazenamento de baterias instalado triplicou nos três anos até 2024. O investimento em redes atingiu um recorde histórico em 2024, de 608 bilhões de RMB (US$ 85 bilhões), um aumento de 25% em relação aos 486 bilhões de RMB (US$ 68 bilhões) em 2019.
Além da eletricidade, a
transição energética está remodelando os setores de uso final. A eletricidade
é, sem sombra de dúvidas, a maior fonte de energia em edifícios e, em 2023,
ultrapassou o carvão para se tornar a maior fonte de energia para a indústria.
Os combustíveis derivados do petróleo ainda dominam o transporte, mas a frota
de veículos elétricos da China, em rápida expansão, está ganhando terreno
progressivamente. A participação da eletricidade na demanda final de energia em
toda a economia continua crescendo e atingiu 32% em 2023, ultrapassando o ritmo
de muitas economias maduras.
Ainda segundo a EMBER, a
China embarcou nessa transição por diversos motivos. Entrevistas com
especialistas conduzidas para este relatório revelam que, na China, há uma
percepção de que o antigo paradigma de desenvolvimento centrado em combustíveis
fósseis já esgotou suas possibilidades e não é adequado às realidades do século
XXI. O objetivo do governo de estabelecer uma “civilização ecológica”, que
simultaneamente cumpra metas econômicas, sociais e ambientais, é a resposta,
consagrada à Constituição desde 2018.
China tem recuado nas
emissões de CO2. Emissões da China tiveram acentuada queda
constante. Mas muitas das indústrias que mais poluem no mundo ainda está saindo
de lá.
Em 2024, o investimento e a
produção em energia limpa contribuíram com 13,6 trilhões de RMB (US$ 1,9
trilhão) para a economia nacional – uma soma equivalente a cerca de um décimo
do PIB da China ou do PIB total da Austrália – e o setor está crescendo 3 vezes
mais rápido do que a economia chinesa como um todo.
A intensidade da adesão das
empresas se reflete em pesquisa, desenvolvimento e inovação: as empresas
chinesas agora respondem por cerca de 75% dos pedidos de patentes globais em
tecnologia de energia limpa, ante apenas 5% em 2000. Esses investimentos no
futuro da energia limpa estão gerando reduções drásticas de custos em todo o
mundo em tecnologias-chave, como turbinas eólicas, painéis solares, baterias de
armazenamento e veículos elétricos.
Os benefícios são, cada vez,
mais sentidos nos mercados emergentes, muitos dos quais estão ultrapassando os
países da OCDE em participação na geração eólica e solar e em eletrificação. Em
toda a África, as importações de painéis solares da China aumentaram 60% nos
últimos 12 meses e 20 países africanos importaram uma quantidade recorde nesse
período.
De fato, as tecnologias
limpas são uma parte fundamental da visão de uma China modernizada. Mas há
divergências sobre o ritmo da mudança da matriz energética e como gerenciar a
eventual redução e eliminação gradual das indústrias fósseis, usinas
siderúrgicas a carvão e assim por diante. Mas não há nada parecido com a
polarização nos EUA, onde existe essa ideia regressiva de trazer de volta tecnologia
velha, ultrapassada e suja.
1) Atingir o pico das
emissões de CO2 antes de 2030
2) Alcançar a neutralidade de
carbono antes de 2060. O primeiro compromisso pode ser alcançado
antecipadamente. O segundo compromisso vai exigir muito mais esforço.
De qualquer forma, já está
claro que a China está conseguindo reverter as tendências passadas das emissões
de gases de efeito estufa. Neste esforço, a transição demográfica e a transição
energética são dois vetores essenciais para que a China reduza suas emissões de
carbono e diminua o enorme déficit ambiental. O exemplo da China pode iluminar
a experiência de outros países. (ecodebate)
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