É absolutamente certo
que a contribuição antrópica com as emissões atmosféricas poluentes
industriais, as queimadas e a grande emissão atmosférica patrocinada por uma
quantidade gigantesca e absolutamente descontrolada de automóveis de passeio
contribuem de forma decisiva para o aquecimento global. Mas quanto é
contribuição deste fator e quanto é responsabilidade dos fenômenos e ciclos geológicos
históricos, é tema de grandes controvérsias.
Devemos considerar
que as previsões de aquecimento “catastrófico” e os modelos matemáticos usados
nas extrapolações para o futuro são discutíveis, havendo a possibilidade de
estarmos considerando apenas algumas das variáveis, sem considerar as condições
iniciais do sistema e sem saber como aplicar o princípio das propriedades
emergentes no conjunto. Estes diversos fatores interagindo certamente devem
criar novos fatores ainda nem citados.
Isto nos faz monitorar
apenas uma parte das flutuações do clima de nosso planeta, com certeza. Estas
limitações não invalidam os resultados já alcançados, mas provocam novos e
grandes desafios. O que podemos afirmar com certeza é que temos nossa parcela e
devemos fazer algo a respeito; quanto a efeitos de origem natural, que nos
preparemos para mitigar consequências e dissolver vulnerabilidades.
A variação das
condições geológicas do planeta em função da geodinâmica ou tectônica de placas
gerou uma época onde a matéria orgânica era preservada. Isto ocorre quando em
ambientes pantanosos, as árvores são protegidas da decomposição aeróbica pela
água e sofrem então processos de soterramento e decomposição anaeróbica. Isto
produz os combustíveis fósseis hoje conhecidos (carvão e petróleo) e esta
formação corresponde a fases bem determinadas da evolução geológica.
Este superávit de
produção orgânica em relação a respiração é considerado uma das principais
razões para períodos de decréscimo do CO2 e um aumento no teor de oxigênio até
os níveis elevados dos tempos geológicos recentes, que é um indutor da vida
biológica atual da forma que conhecemos, ao fornecer energia farta e de uso
simples aos seres vivos.
É princípio
indiscutível dentro da ecologia que os fenômenos e fatores muito eficientes
para um indivíduo não são necessariamente eficientes em comunidades, onde a
interação entre as espécies é vital para a seleção natural. É lógico contemplar
uma analogia simples. Se a interação entre espécies é vital e todos concordamos
que é, porque a interação entre fatores que controlam determinados fenômenos e
que necessariamente interagem (e com isto podem até criar fatores emergentes
novos) não é tão valorizada e frequentemente negligenciada.
Será por mero
interesse reducionista para viabilizar as interpretações matemáticas ou
estatísticas lineares. Porque neste momento não se interage com fatores
reconhecidamente significativos e consensuais nas ciências naturais e que se
relacionam com sistemas não lineares como a influência sensível às propriedades
iniciais dos sistemas?
Toda o planeta a
partir da abordagem de Ter Stepaniam sobre a introdução do conceito de
tecnógeno, passa por sensíveis mudanças na natureza cibernética e estabilidade
dos ecossistemas. É preciso entrar com a mente aberta nas novas portas dos
desafios propostos pela complexidade que ainda são mais ampliados pela
multidisciplinariedade que consensualmente as questões apresentam, e que já
materializa um “trend” inquestionável.
O conceito de
tecnógeno desnuda a estabilidade a resistência dos sistemas. Nitidamente,
grandes dimensões físico-biológicas não têm mais a capacidade de se manterem
estáveis em regimes de “stress”. E a estabilidade elástica que é capacidade de
auto-recuperação dos sistemas naturais já não ocorre em várias situações,
exigindo intervenções antrópicas para auxiliar na regeneração, numa área
científica e comercial que muito tem se desenvolvido e atende pela denominação
genérica de “recuperação de áreas degradadas”, onde os métodos biotecnológicos
tem tido grande participação.
A recuperação de uma
área degradada não objetiva fazer o ecossistema retornar ao estado inicial. Os
ecossistemas possuem mais de um estado de equilíbrio e quando sofrem
recuperação, retornam a um estado diferente depois de uma perturbação que
geralmente produz novas variáveis de controle e que interagem entre si.
O conceito de
estabilidade em um sistema mecânico, elétrico ou aerodinâmico implica retorno
ao mesmo estado de equilíbrio após uma perturbação. Num sistema biológico ou
natural isto, com certeza, raramente ocorre.
O homem se tornou
este poderoso organismo, organizado em sociedades complexas, capaz de
relevantes intervenções nos meios físico e biológico pela notável evolução de
seu sistema nervoso central. Esta evolução permite ao cérebro que com pequenas
quantidades de energia, conceba e emita avaliações particulares dos estímulos
externos que recebe.
Ter Stepaniam
transformou este conceito na proposta de um período da evolução da humanidade,
onde a hegemonia da mente humana sobre os meios físico e biológico produz a
ultrapassagem dos limites de estabilidade, criando uma nova fase na história,
onde sem o auxílio da própria espécie humana, responsável pelas perturbações,
os sistemas não conseguem se recuperar.
Neste sentido,
torna-se muito útil e operacional a técnica reducionista que transforma o
planeta num mosaico de bacias e sub-bacias hidrográficas, unidades mais fáceis
de recuperar pela sua dimensão física limitada, do que recuperar todo planeta
ao mesmo tempo. Claro que as relações dos elementos físicos e biológicos das
bacias e sub-bacias é universal, interferem obviamente realidades como a
dependência sensível das quantidades iniciais e relações que produzem novos
fatores emergentes, mas nem por isso a técnica deixa de ser válida.
Outra possibilidade,
que é muito utilizada em substituição às bacias e sub-bacias hidrográficas é o
conceito de geobiossistema, que depende fundamentalmente do uso de técnicas de
sensoriamento remoto e geoprocessamento.
Os elementos dos
meios físico, biológico e antrópico são associados em paisagens unificadoras,
onde o uso das técnicas de sensoriamento remoto e tratamento digital de imagens
de satélite, dentro de um contexto multidisciplinar, permitem a transferência e
a evolução de conceitos. Hoje, é disseminada a concepção do conceito de
“paisagem” como expressão do agenciamento dinâmico e superficial dos conjuntos
territoriais. Ou seja, não é mais apenas o solo a face mais visível do meio
físico, e sim a paisagem integradora do solo com os demais fatores, a expressão
conjunta das interações compreendidas ou ainda difusas.
Este agrupamento,
capaz de expressar homogeneidades ou realçar diferenciações físicas espaciais e
temporais no meio terrestre, origina a conceituação de “geobiossistemas” como
unidades territoriais, geográficas ou cartográficas de mesma paisagem,
definidas por características estatísticas do meio natural físico, biológico,
hierarquizadas por um mesmo sistema de relações.
Portanto podem ser
utilizadas as bacias e sub-bacias hidrográficas como menores unidades
territoriais de sistemas, ou os “geobiossistemas” como elementos de unificação
de unidades integradas por mesmas hierarquias entre os elementos dos meios
físico, biológico (incluindo a química e bioquímica) e antrópicos ou sócio-econômicos.
As cidades,
metrópoles ou regiões metropolitanas são os ecossistemas humanos cujas
características são heterotróficos. Resumidamente, os materiais (nutrientes,
inclusive água) e a energia são importadas para as cidades, que produzem e
exportam efluentes domésticos e industriais e resíduos sólidos tanto domésticos
quanto industriais.
As cidades ocupam de
1 até 5% das áreas do mundo inteiro (ODUM, 1988, pg. 48), mas alteram a
natureza dos rios, florestas, campos naturais e cultivados, da atmosfera e dos
oceanos em extensão que pode ser muito maior que uma determinada bacia ou
sub-bacia hidrográfica e aqui reside a importância do conceito de
geobiossistema. As áreas urbanizadas praticamente não produzem alimentos.
Dependem totalmente da importação de materiais (água dos sistemas hídricos e
alimentos do meio rural) e energia (de hidrelétricas, termelétricas, usinas
nucleares, usinas eólicas ou qualquer outra fonte).
As cidades não
possuem uma ecologia separada do bioma em que estão inseridas. Mas constituem
um típico ecossistema urbano conforme já simplificadamente descrito.
(EcoDebate)
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