Uso de sacolas
retornáveis ou caixas de papelão nos supermercados fica mais comum a cada dia
Débora e Lélis:
contradição nas gôndolas Débora e Lélis: contradição nas gôndolas.
Uso de sacolas
retornáveis ou caixas de papelão nos supermercados fica mais comum a cada dia.
O casal Débora
Dorneles, 31 anos, especialista em café, e Renato Lélis, 32, oceanógrafo, já
chega a um supermercado do Lago Sul, em Brasília, com uma sacola retornável nas
mãos, feita de banner reciclado com estampa de framboesas vermelhas e uma
mochila vazia, prontas para carregar as compras. Garantem que em casa separam o
lixo seco do úmido. “O lixo orgânico vira compostagem, aproveitamos como adubo
no jardim”, diz Lélis. “As embalagens de vidro, alumínio e plástico eu lavo e
jogo nos recipientes da coleta seletiva”. Ele aproveita a deixa para notar: “É
contraditório que os supermercados vendam sacolas retornáveis e, ao mesmo
tempo, as carnes sejam acondicionadas em bandejas de isopor, embaladas em
várias películas plásticas”.
O aposentado do
Ministério da Fazenda Marco Aurélio Araújo aprendeu a não usar as sacolinhas
plásticas para carregar as compras quando morou em Paris. “Lá, isso é usual”,
explica. Ele sai do supermercado com tudo organizado dentro de caixas de
papelão, muito mais prático inclusive para carregar no carro, diz. “Em casa, eu
uso sacos de lixo biodegradáveis da forma mais econômica possível”, diz.
AÇÃO COLETIVA
A terapeuta familiar
Marisa Pellegrini, 54 anos, usa sacola retornável desde 2010. Costuma ir ao
supermercado com três bolsas feitas de lona reciclada. “Quero ajudar a
despoluir o planeta”, afirma, convicta da importância da sua ação. Sobre este
ponto, a secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), Samyra Crespo, ressalta a importância da
ação de cada um no dia-a-dia. “A sustentabilidade é aqui e agora, por meio da
ação individual”, destaca. “A responsabilidade deve ser compartilhada, cada um
deve fazer a sua parte”.
O MMA atua há quatro
anos para mostrar a importância do consumo consciente de embalagens. A primeira
campanha, em 2008, tinha como lema “Consumo consciente de embalagens. A escolha
é sua. O planeta é nosso”. A segunda, “Saco é um Saco”, em 2009, deu ênfase ao
uso racional das sacolas plásticas. Ainda não existe uma legislação nacional
sobre o uso da sacolas plásticas, mas alguns estados já se posicionaram sobre o
assunto – o que acabou gerando polêmica entre associações de supermercados e a
população.
“As sacolinhas são
práticas, mas não são gratuitas, como muita gente pensa. Além de terem seu
custo diluído nos preços dos produtos, têm alto custo socioambiental – poluição
do meio urbano e natural, entopem bueiros agravando enchentes e causam a morte
de animais”, explica a secretária.
QUINZE BILHÕES
No Brasil, segundo a
Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), apenas em 2010, foram
distribuídas 14,9 bilhões de sacolas plásticas pelos supermercados. Em um ano,
estima-se que 1 trilhão de sacolas plásticas sejam produzidas e consumidas no
mundo. “O impacto de seu consumo excessivo suplantou o benefício trazido por
sua introdução em nosso cotidiano”, ressalta Samyra Crespo, comparando as
sacolas com o gás clorofluorcarbono (CFC), utilizado para refrigeração e
causador do buraco na camada de ozônio. “As alternativas, muitas vezes, vêm de
velhos hábitos simples, mas muito inteligentes, como o uso do carrinho de feira
e as sacolas de pano”, sugere a secretária do MMA.
Em março de 2011, a
ABRAS assinou um acordo com o MMA, cuja meta é reduzir em 40% a distribuição de
sacolas plásticas descartáveis, entre 2011 e 2015. Durante a Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), em junho, a ABRAS
apresentou uma queda de 6,4% no consumo de sacolas plásticas, no 1º Relatório
de Redução do Consumo de Sacolas Plásticas. Esse percentual corresponde a 953
milhões de sacolas plásticas a menos, no período de 2010 a 2011.
Em 07/08 a ABRAS soltou uma nota de apoio ao governo federal. “Se o governo,
por meio do Ministério do Meio Ambiente, entende que devemos continuar
trabalhando para reduzir a distribuição de sacolas plásticas, assim o setor
fará”. No intuito de encontrar respostas a esse desafio socioambiental, a
associação participa de Grupo de Trabalho coordenado pelo MMA, junto com
organizações da sociedade civil, para examinar as tecnologias disponíveis e
combater a falsificação que coloca a segurança do mercado e dos consumidores em
risco – há notícias de fraudes em sacolas compostáveis.
Na nota, eles
destacam que vários países já adotaram medidas de redução do uso de sacolas
plásticas, como Coreia do Sul, Bangladesh, Alemanha, China, Irlanda, Ruanda,
Botsuana, África do Sul, e cidades de grande porte como São Francisco e
Washington, nos Estados Unidos, e Toronto, no Canadá.
As sacolas podem
durar até 400 anos na natureza antes de se decomporem. Elas são produzidas a
partir do petróleo ou gás natural, dois tipos de recursos naturais
não-renováveis. Depois de extraído, o petróleo passa pelo refino, que consome
água e energia e ainda emite gases de efeito estufa e efluentes. Com o consumo
desenfreado, a pressão por esses recursos naturais só aumenta. (EcoDebate)
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