Urbanização
descontrolada é maior responsável por tragédias no País, revela estudo
O Brasil dos
desastres naturais – São bem terrenas as causas dos desastres naturais que se
multiplicam no Brasil, revelam novas pesquisas. Após um 2011 de devastação na
Serra na Fluminense, enchentes avassaladoras no Sul e no Sudeste e um início de
2012 com a pior seca em três décadas no Nordeste, não resta lugar para o mito
de que este é um país imune aos desastres naturais. Na verdade, somos muito
vulneráveis. Mas as mudanças climáticas que alteram padrões temperatura e chuva
pelo planeta afora, não são as maiores culpadas pelo aumento de tragédias
naturais no Brasil. A principal causa de perdas de vidas e bens é humana; é a
urbanização galopante e mal planejada, como mostram dados apresentados ontem
(8) na Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC), cujo tema é
Ciência para o Desenvolvimento Sustentável, num evento preparatório para a
Rio+20.
Os dados fazem parte
de estudo da resseguradora Swiss Re, que analisa o número e o impacto de
desastres naturais em todo o mundo. Na conta dos desastres, os céus entram com
a chuva que alimenta as enchentes relâmpagos, mas o que pesa e torna as pessoas
realmente vulneráveis são as construções em áreas de risco evidente, como estradas,
ferrovias, estádios e outras obras de vulto levadas a cabo sem considerar
cursos de rios, áreas de baixada – por definição, alagadiças – e pontos
sujeitos a desmoronamentos.
Alagamentos e
enchentes – A representante da Swiss Re no evento da ABC, Claudia Garcia de
Melo, destacou que, no Brasil, alagamentos e enchentes representam a maior
parte dos 34 grandes desastres naturais registrados em dez anos. Esses
desastres provocaram US$ 2,8 bilhões em perdas.
“O grande problema é
que o Brasil ainda não tem uma cultura de prevenção. As pessoas acham que uma
tragédia dessas nunca acontecerá com elas, se consideram imunes. Então, quando
a chuva vem e leva tudo, ficam desorientadas. Mas não é o caso de culpar os
céus, mas, sim, a falta de planejamento”, afirmou Claudia, que fez a
apresentação durante a sessão Desastres Naturais.
De acordo com o
relatório, de 2004 a 2010, o Brasil investiu US$ 280 milhões em prevenção, ou
seja, em obras e em tecnologia de previsão e remoção de áreas de risco, por
exemplo. No mesmo período, o governo brasileiro gastou US$ 2,6 bilhões em ajuda
emergencial a cidades afetadas por cheias e desmoronamentos. “Hoje só agimos
depois das tragédias. Seria bem mais barato evitá-las. O gerenciamento do risco
é o caminho mais econômico e eficiente. Ações emergenciais não resolvem o
problema, mantém a vulnerabilidade”, explica a analista.
Hoje, 30 milhões de
pessoas vivem expostas a algum tipo de risco de desastres naturais no País, a
maioria no Sudeste. Em 2030 serão 42 milhões de brasileiros nessa situação. O
problema maior está nas cidades, onde vive a maioria da população e existe a
maior parte das situações de perigo. Só as cidades do Rio de Janeiro e de São
Paulo sofreram 20% das perdas nacionais com enchentes. Quase todas, evitáveis.
“Urbanização e
crescimento econômico que leva à construção de mais rodovias, hidrovias,
ferrovias, estádios etc. estão associados à vulnerabilidade. A questão não é
crescer, mas crescer de forma sustentável. Principalmente, nas cidades”, diz
Claudia. “É preciso ter códigos de construção adequados, dragagens de rios,
contenção de encostas.”
A análise apresentada
mostrou que as mudanças climáticas representam uma ameaça maior à população dos
estados do Sul e do Nordeste, devido ao aumento dos episódios de chuva intensa.
O Nordeste nos últimos anos tem vivido uma situação paradoxal. Enchentes
devastadoras na Zona da Mata e seca intensa na Caatinga. “No Sudeste, as
mudanças climáticas não têm tanto peso. Aqui é a urbanização sem planejamento
que deixa a população vulnerável.”
A associação das
mudanças climáticas com a urbanização pode ter efeitos graves inclusive em
áreas com baixo índice de urbanização, como a Amazônia. Os modelos de previsão
climática conseguem prever com precisão as cheias dos grandes rios. Mas isso
não será suficiente se padrões climáticos extremos continuarem a ser
registrados na Amazônia, alerta o climatologista Carlos Nobre, secretário de
Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação. Nos últimos cinco anos, a Amazônia passou por três
eventos extremos: uma enchente (2009) e duas grandes estiagens (2005 e 2010).
“A Amazônia deve
estar em alerta. Se este padrão de extremos continuar, os igarapés não poderão
continuar a ser ocupados e teremos que mudar o planejamento da região”, afirma
Nobre. (EcoDebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário