Aumento de 1,5º C na temperatura é suficiente para iniciar o
derretimento do permafrost na Sibéria
O permafrost,
solo permanentemente congelado que cobre quase um quarto do Hemisfério Norte
Um aumento da
temperatura global de 1,5º C seria suficiente para iniciar o derretimento do
permafrost na Sibéria, alertaram os cientistas na última quinta-feira.
Qualquer degelo
generalizado no solo permanentemente congelado da Sibéria poderia ter severas
consequências para as mudanças climáticas. O permafrost cobre cerca de 24% da
superfície terrestre do hemisfério Norte, e um derretimento generalizado
poderia, no fim, provocar a liberação de centenas de gigatoneladas de dióxido
de carbono e metano, o que teria um maciço efeito de aquecimento.
No entanto, qualquer
degelo desse tipo provavelmente levaria muitas décadas, razão pela qual a
liberação inicial de gases do efeito estufa provavelmente seria em uma escala
muito menor.
Os pesquisadores,
liderados por especialistas da Universidade de Oxford, estudaram estalactites e
estalagmites em cavernas da Sibéria que se formaram ao longo de centenas de
milhares de anos. As estalactites e estalagmites se formaram durante períodos
de degelo gradual, quando a água derretida escorria para dentro as cavernas,
mas pararam de crescer quando as temperaturas caíram novamente, e o permafrost
congelou novamente. Os cientistas podem medir o crescimento e a suspensão do
crescimento das estalactites e estalagmites cortando as estruturas em vários
pontos correspondentes a dados períodos de tempo da história da Terra.
Eles descobriram que
as estalactites em uma distante caverna do norte, na fronteira de um permafrost
contínuo, cresceram durante um período de 400 mil anos atrás, quando as
temperaturas eram 1,5º C mais altas do que em tempos pré-industriais. Isso
indica que o permafrost estava derretendo à época e que, portanto, poderia descongelar
novamente se as temperaturas subirem a níveis semelhantes.
“Seria possível ver o
permafrost contínuo começar a derreter ao longo das fronteiras nesse limiar de
1,5º C [no futuro]“, disse Anton Vaks, do departamento de ciências da Terra da
Universidade de Oxford, que liderou a pesquisa. As temperaturas na região eram
de 0,5-1º C mais altas do que nos tempos modernos durante um período de cerca
de 120 mil anos atrás, e naquele tempo as estalactites nas cavernas mais ao
sul, perto do Lago Baikal, mostravam sinais de crescimento e, portanto, de
degelo.
Mas, nesse mesmo
período, as estalactites da caverna mais ao norte – chamada de caverna
Ledyanaya Lenskaya, perto da cidade de Lensk, na latitude 60N – não cresceram,
mostrando que o permafrost permaneceu intacto a essas temperaturas. “Isso
indica que 1,5º C parece ser algo como um ponto de inflexão”, disse Vaks.
Atualmente, as
temperaturas médias globais estão cerca de 0.6C-0.7º C acima dos níveis
pré-industriais. Isso significa, de acordo com Vaks, que os modeladores
climáticos deveriam incluir a possibilidade de o permafrost começar a derreter
nos seus modelos.
A equipe de
cientistas, da Mongólia, da Rússia, da Suíça e do Reino Unido, usou técnicas de
datação radiométrica das formações cavernosas. Eles relatam os resultados em um
artigo na revista Science Express, publicado na quinta-feira.
Vaks disse que as
descobertas podem ter implicações graves para a região, já que o derretimento
do permafrost poderia afetar a exploração de gás natural e os dutos, assim como
outras infraestruturas. Ele também poderia ter efeitos de maior alcance.
“Embora não tenha
sido o foco principal da nossa pesquisa, o nosso trabalho também sugere que, em
um mundo 1,5º C mais quente – quente o suficiente para derreter o permafrost
mais frio –, as regiões adjacentes veriam mudanças significativas. O Deserto de
Gobi, na Mongólia, poderia se tornar muito mais úmido do que hoje, e essa área
extremamente árida poderia chegar a se assemelhar aos atuais estepes
asiáticos”.
Ele disse que são
necessárias mais pesquisas para estabelecer a velocidade e a escala de degelo
prováveis enquanto as temperaturas aumentam. (EcoDebate)
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