As metrópoles podem ser criadas do zero ou devem ser
construídas através dos séculos? No caso de São Paulo, Londres, Berlim, Nova
York e Tóquio, as atuais conexões entre cidadãos, desenvolvimento e
oportunidades são fruto de um processo de centenas de anos.
Enquanto no Brasil ainda estamos em busca de soluções para
problemas de trânsito, enchentes e apagões, segurança, saúde e educação
ineficientes, o conceito de cidade inteligente ou smart city – que usa a
tecnologia para melhorar a qualidade de vida dos habitantes já vem sendo
aplicado na Europa, Estados Unidos e Ásia, movimentando um mercado bilionário.
São comunidades que lançam mão do que há de mais moderno em
recursos tecnológicos e arquitetônicos como resposta aos desafios impostos pela
alta concentração populacional, utilizando rede de sensores, análise de dados,
plataformas de comunicação e serviços via web para proporcionar uma vida sustentável
aos seus habitantes.
Sustentabilidade está no topo das discussões contemporâneas
sobre os centros urbanos. Como organismos vivos, as cidades precisam ser
repensadas com o auxílio da tecnologia, preservando a essência da multiplicidade
e diversidade humana.
Publicação na revista nº 41, do
Conselho Regional de Engenharia - Crea-BA, que pode ser acessada aqui na
íntegra: asp-br.secure-zone.net/v2/inde../5430/4706&lng=pt_br
Reinvenção
De acordo com dados do Instituto Futura, 73% dos cidadãos de
Salvador gastam em média quatro horas por dia no trânsito. Com 2,7 milhões de
habitantes circulando por suas ruas estreitas, cortadas por ladeiras cheias de
histórias, a primeira capital do Brasil e terceira maior cidade do País precisa
de planejamento estratégico voltado para atender às necessidades das pessoas
que a habitam. Esta é a opinião do arquiteto e urbanista Carlos Leite, autor do
livro Cidades Sustentáveis,
Cidades Inteligentes.
“Se temos instrumentos tradicionais de planejamento
estratégico e de smart city para fazer uma Salvador mais interessante para os
cidadãos, isso é excelente, mas o principal é o planejamento voltado para as
pessoas. Por isso, acho que as novas tecnologias de gestão inteligente das
cidades são bem-vindas. Serviços públicos agendados por smartphones,
transparência, menos corrupção, portanto, mais eficiência é excelente. Mas
temos que priorizar uma cidade mais humana e não pensar em investir na tecnologia
pela tecnologia”.
De acordo com o urbanista, é preciso atentar para as
inteligências metropolitanas para conseguir vencer as desigualdades a partir de
exemplos positivos de revitalização. “Precisamos atuar conjuntamente com as
cidades que souberam fazer o dever de casa e estão se reinventando. Salvador
precisa implementar e concretizar grandes ações focadas em planejamento
estratégico”.
As questões ambientais e de mobilidade, na opinião de Leite,
são do âmbito do território metropolitano, onde vivem 3,5 milhões de pessoas “e
não apenas de Lauro de Freitas, Salvador ou Itaparica, como provam as
experiências de São Paulo, Barcelona, Nova York e Bogotá”.
Leite aponta ainda a ampliação da diversidade social como
chave para resolver graves questões da cidade. “O problema não é a favela, é
essa absurda falta de sociodiversidade territorial, que encanta quando chegamos
à Macedônia, Buenos Aires, Ipanema, Copacabana, Higienópolis. Pessoas de
diferentes classes, diferentes gêneros e cores dividindo o mesmo lugar, isso é
o que favorece uma cidade dinâmica, propensa à inovação e à qualidade de
vida."
Infraestrutura e
metrópole projetada
Entre os especialistas no assunto, uma questão é unânime:
para planejar com inteligência, é preciso pensar uma cidade sustentável para as
pessoas, e essa foi a principal ideia debatida na abertura da 3ª edição do
Agenda Bahia, no auditório da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), que
debateu a infraestrutura da metrópole baiana.
Estudiosos do Brasil e da Espanha, baseados em exemplos de
outras capitais, falaram sobre espaço público, planejamento urbano e
alternativas sustentáveis para o trânsito de Salvador.
Nesse contexto, as soluções para a mobilidade urbana são as
principais preocupações de governos e organizações, sempre visando ao
deslocamento das pessoas e bens em um período ideal de tempo e de maneira
confortável. A urgência por soluções de longo prazo para problemas históricos
aumenta conforme se aproximam os megaeventos esportivos que o Brasil irá
sediar.
Um dos responsáveis pela reconstrução de Barcelona para as
Olimpíadas de 1992, o engenheiro espanhol Manuel Herce Valejjo criticou a falta
de passeio para pedestres em Salvador e alertou que a construção de viadutos e
de estacionamentos não vai resolver os problemas da capital. Por possuir
apartamento na cidade, Valejjo diz conhecer todas as suas peculiaridades e
dificuldades.
“É preciso dar atenção ao pedestre e melhorar o transporte
público”, observa. Para Ana Fernandes, professora da Ufba e doutora pela
Universidade Paris XII, há várias possibilidades de projetos para a área
urbana. “Precisamos diminuir o espaço dos carros. É um investimento fácil,
basta uma decisão política, capacidade técnica e respeito pela população. Uma
cidade que não acolhe seu povo não pode ser considerada inteligente”.
Metrópole projetada - Na Coreia do Sul, a cidade global do
futuro – Songdo – está sendo construída a 65 quilômetros de Seul, em uma ilha
artificial de 607 hectares. Com um investimento de R$ 80 bilhões, a metrópole,
que deve ficar pronta em 2015, terá o que há de mais moderno em tecnologia e
noções de urbanismo, tudo planejado para facilitar a vida do cidadão.
Com 80 mil apartamentos residenciais, 4,6 km de escritórios
e 40% de sua área, ou seja, 41 hectares destinados a parques e praças, a ideia
é criar um novo centro financeiro da Ásia, uma mistura de Paris, Nova York e
Dubai.
Além dos altos investimentos - em metrô, bondes elétricos e
até táxis aquáticos elétricos – as ruas desta metrópole projetada terão
sensores no asfalto para ajudar a entender os deslocamentos em tempo real e até
diminuir a iluminação das vias quando ninguém estiver passando por elas, de
modo a economizar energia. Songdo será também uma cidade wireless, totalmente
conectada.
Exemplos
Responsável por notáveis intervenções em Bogotá, capital da
Colômbia, o ex--prefeito Enrique Peñalosa mudou a maneira como a cidade tratava
seus cidadãos. Para isso restringiu o uso do automóvel e instituiu um sistema
de transporte público rápido e seguro, que transporta hoje 1,2 milhão de
pessoas por dia.
Entre outras melhorias, foram ampliadas e reconstruídas as
calçadas, grandes espaços públicos foram criados e construídos mais de 340
quilômetros de ciclovias exclusivas, que se estendem desde as áreas de favela
até o centro da cidade, o modelo tornou-se referência em transporte
sustentável. Outro item implantado em Bogotá é a restrição do uso de veículos
somada à ampliação e qualificação do sistema de ônibus Transmilênio.
O Rio de Janeiro é uma das poucas cidades brasileiras a
colocar em prática alguns conceitos de smart city. Em março deste ano, o The
New York Times publicou um artigo com o título Rio é a nova cidade inteligente,
sobre o Centro de Operações Rio, projeto que integra 30 órgãos que monitoram o
cotidiano da cidade por 24 horas. Com estrutura da IBM, o centro capta a imagem
de 560 câmeras e auxilia na solução imediata de problemas e na tomada de decisões
em momentos de crise.
A Cisco também anunciou investimentos no Rio, da ordem de R$
1 bilhão até 2016, o que inclui a construção de um centro de inovação no Centro
do Rio, programado para 2013. O foco das intervenções será em soluções de
sistemas de telecomunicações, comunicação entre sensores, redes cabeadas e sem
fio, data centers e aplicações inteligentes de análises de informações,
principalmente em infraestrutura urbana, entretenimento e esportes.
Gestão eficiente do tempo
Alguns aplicativos mobile estão no centro de importantes
mudanças na difusão de informações em tempo real, possibilitando ao usuário
gerir melhor o seu tempo. Este é caso do Waze, uma ferramenta de mapeamento
dinâmico, geolocalização e informações de trânsito totalmente baseada em
crowdsourcing, um modelo que utiliza a inteligência através de conhecimentos
coletivos espalhados pela internet.
Outra ferramenta que tem sido usada para trocar informações
em tempo real sobre o trânsito nas grandes metrópoles é o Twitter. Essas
informações fazem parte do consciente coletivo e os dados podem, e devem, ser
usados na rede de sensores para prover serviços básicos para a população, seja
através de terminais e telas espalhadas pela cidade, seja através dos
smartphones, companheiros das pessoas durante o dia.
Economia criativa
Economia criativa e
ferramentas numa idade feita por e para pessoas inteligentes. Este foi o tema
da 2ª edição da conferência TEDXPelourinho, que ocorreu em setembro de 2012, em
Salvador.
Um dos 14 palestrantes, o
publicitário Gabriel Medeiros afirmou que as pessoas devem se apossar do espaço
público e tornar a cidade um local mais agradável para viver. “Cidade
inteligente é o lugar onde as pessoas podem ser protagonistas”.
TED é uma organização mundial
sem fins lucrativos dedicada ao Ideas Worth Spreading – da tradução literal do
inglês, ideias que merecem ser espalhadas. O evento começou em 1984, na
Califórnia, originalmente influenciado pelo Vale do Silício, como uma
conferência reunindo especialistas em tecnologia, entretenimento e design. (techdende.jux)
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