segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Maior berçário aquático do Estado de São Paulo agoniza

Especialista comenta sobre período de seca e suas consequências
Definitivamente a paisagem mudou em Cachoeira de Emas. Onde antes corria o leito do rio Mogi Guaçu hoje só existem pedras e mato. O período de inverno contribui para o baixo nível do volume de água, mas o cenário preocupante já vinha se desenhando desde o início do ano, com um dos verões mais secos dos últimos anos.
Os turistas se espantam. No final de semana, vários atravessavam com facilidade o caminho de pedras até o centro do rio. Alguns passavam rente à barragem, dado o pouco volume de água. Mas o quanto isso é prejudicial ao vasto ecossistema do local, considerado um dos maiores berçários de peixes do estado? Existe possibilidade de mortandade dos peixes? Quando deve chover satisfatoriamente?
O pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Fábio Sussel respondeu alguns questionamentos.
O Movimento: Como está o nível do rio atualmente?
Fábio Sussel: Considerando os cinco invernos que estou aqui, diria que ele está com 50% do volume que deveria estar para a época. Deve-se ressaltar que o déficit hídrico do solo implica em menores volumes de água no lençol freático, ocasionando enfraquecimento das poucas nascentes que restam. Conciliado a isto, temos o aumento da temperatura que tende a subir daqui para o final do ano. Estes dois fatores diminuem o nível do rio em maior velocidade. O que é bastante preocupante caso as chuvas de verão demorem a cair.
O Movimento: Esse nível baixo irá comprometer a época de reprodução dos peixes?
Fábio Sussel: Muito provavelmente sim. Mesmo que tenhamos boas chuvas em outubro e novembro, talvez não haverá profundidade suficiente para os grandes peixes subirem o rio. Talvez apenas os peixes pequenos subam. Na região conhecida como Boa Vista (onde existem vários ranchos, um pouco antes de Porto Ferreira), por exemplo, há um espraiado de não mais 40 cm de água.
O Movimento: Qual a previsão para uma chuva que possa amenizar a situação?
Fábio Sussel: Historicamente as boas chuvas do nosso verão começam na segunda quinzena de outubro. Tenho acompanhado várias fontes de previsão do tempo e todas afirmam que teremos um setembro chuvoso, porém, nenhuma dessas fontes consegue prever os volumes. Minha expectativa otimista é que vamos ter chuvas pequenas em setembro, as quais serão suficientes apenas para não agravar ainda mais a situação, e a partir da segunda quinzena de outubro começarão as chuvas para melhorar o nível do rio.
O Movimento: Qual o risco de mortandade de peixes?
Fábio Sussel: Existe sim, um eminente risco de mortandade. Se estas pequenas chuvas de setembro e primeira quinzena de outubro não caírem, o risco é bastante grande. Pelos seguintes motivos: as temperaturas estão se elevando e os dias ficando maiores (fotoperíodo). Dia 21 de junho é o menor dia do ano. A partir deste, os dias vão ficando maiores até o dia 21 de dezembro, que atinge o maior nível. A elevação da temperatura e aumento do período do dia são os dois principais estímulos para os peixes iniciarem a subida do rio para a reprodução. Portanto, há uma tendência natural dos peixes começarem a se concentrar em Cachoeira de Emas. Com o aumento da temperatura, diminui-se o oxigênio disponível na água. Os lançamentos de esgotos, tanto das cidades quanto das indústrias, continuam. Com o menor volume de água do rio, estes esgotos ficam mais concentrados e a decomposição do esgoto também consome oxigênio. Em resumo: os peixes começarão a se concentrar na Cachoeira, maior biomassa dae peixes implica em maior consumo de oxigênio, a decomposição da matéria orgânica contida nos esgotos consome oxigênio, este oxigênio estará menos disponível em função do aumento da temperatura da água e, se não chover, teremos menos água pra tudo isto. (omovimento)

Nenhum comentário:

Solo da Antártida está ‘levantando’ e Brasil sofrerá danos

Solo da Antártida está 'levantando' e Brasil pode sofrer danos, dizem cientistas. Outras cidades costeiras pelo mundo também podem...