Eu não sei os demais,
mas eu penso que a crise de água em SP é em tudo reveladora do Brasil, esse
país ao mesmo tempo abundante e desidratado. Não exatamente por revelar o
destrato com os recursos naturais, desmatamento desenfreado e todos esses fatos
ambientais, mas por mostrar que o Brasil é um país de empatia seletiva.
Por quantos anos o
sertão e até mesmo o sul do Brasil (minha cidade natal, Bagé, quase fronteira
com o Uruguai, penou por uma estiagem de quase uma década que obrigou ao
racionamento permanente) tiveram gravíssimos problemas de abastecimento, alguém
lembra? É claro que as dimensões do drama paulista são imensas dadas as
dimensões de São Paulo, mas essa crise ataca mesmo é aquela velha ideia de
“coração do Brasil”.
Vê-se, agora, que é
um coração bem dos recauchutados e muito, mas muito mais dependente dos outros
órgãos do corpo do que imaginava ser. Aos sertanejos e nordestinos de um modo
geral parece que seu destino humano seria o de viver com a escassez de água e
com a aridez, mas isso já tinha deixado de ser preocupante há muito tempo,
naturalizando-se a ideia de que isso era inevitável (como se o desmatamento
massivo para o cultivo da cana em épocas passadas não estivesse por trás disso
também) ou um desígnio divino.
Mentiras
convenientes, como muitas que querem impingir ao povo brasileiro. Como as mais
atuais, que informam que o único desenvolvimento econômico possível para o país
consistiria em abusar sistemática e irresponsavelmente de modelos
extrativistas, centrados na monocultura e numa balança comercial dependente da
exportação de commodities.
De posso do novo e
dilacerador Código Florestal e de políticos que não relacionam lucro ambiental
e conservação, logo logo vai faltar água para o corpo todo..
Para um país que se
imaginava dono do maior rio do mundo, do maior aquífero do planeta e outros
delírios de grandeza, um pouquinho de humildade e reconhecimento não há de
fazer mal algum. Talvez até ajude a resolver e prevenir muitos outros problemas
com esse líquido tão pouco valorizado, dada a nova mania nacional de enxergar
solução para tudo no pré-sal.
Que eu saiba, mesmo
que um dia o retirem de lá, o que por si só é duvidoso, ainda não existe no
mundo tecnologia disponível que transforme o líquido preto nesse outro, que
finalmente passa a adquirir o devido valor. (ecodebate)
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