As chuvas acima da média que ajudaram a elevar o nível de água dos
mananciais que abastecem a Grande São Paulo em fevereiro deixaram os gestores
da crise hídrica otimistas quanto a um possível fim da estiagem extrema, que
começou no fim de 2013, no Sistema Cantareira.
Especialistas em hidrologia e meteorologia alertam, contudo, que
ainda é cedo para cravar uma mudança de padrão climático definitiva no Sudeste
e destacam o retorno de dias quentes e secos nesta semana.
Segundo o meteorologista Marcelo Seluchi, do Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em fevereiro, pela
primeira vez em mais de um ano, houve a formação da Zona de Convergência do
Atlântico Sul (ZCAS), sistema que traz chuvas para o Sudeste no verão.
"Só que ele ainda é curto e fraco e não significa que vai se
manter. Até porque o sistema de alta pressão que impediu a ZCAS no ano passado
e em janeiro não se dissipou completamente. Está recuado sobre o oceano e a
previsão é de que ele volte nesta semana, aumentando a temperatura e diminuindo
a chuva", explica Seluchi.
Dirigentes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp) e da Agência Nacional de Águas (ANA) comemoravam a volta das chuvas em
fevereiro (34% acima da média) e a vazão de entrada de água no Cantareira, que
está três vezes maior do que em janeiro passado e fevereiro de 2014. Só neste
mês, a capacidade do maior manancial paulista subiu 18 dias consecutivos, de 5%
para 10,6%, considerando as duas cotas do volume morto. Sequência assim não
ocorria há mais de dois anos.
A hidrologista Adriana Cuartas, do Cemaden, diz, porém, que o fator
determinante para início da recuperação do Cantareira, que registrava déficits
mensais desde maio de 2013, foi a redução da retirada de água para abastecer
cerca de 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo e mais 5 milhões nas regiões
de Campinas e Piracicaba.
"O grande diferencial para a recuperação do Cantareira é que,
agora, estão fechando a torneira mesmo. A extração de água das represas
diminuiu bastante", afirma Adriana. A retirada foi reduzida de 17 para 10
mil litros por segundo em menos de um mês, principalmente por causa da redução
da pressão e do fechamento de 40% da rede durante a maior parte do dia. Antes
da crise, a captação chegou a 36 mil litros por segundo.
Chuvas acima da média ajudaram a elevar o nível de água dos
mananciais.
Sem chuva
O retorno do sistema de alta pressão para o continente no fim de
semana fez com que os seis mananciais que abastecem a Grande São Paulo não
registrassem um milímetro de chuva nos dois últimos dias. Mesmo assim, o nível
do Cantareira, que é o mais crítico, subiu porque os rios que alimentam as
represas ainda estão com vazões mais altas. A previsão do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) é de que as chuvas não ultrapassem a média em março,
último mês da estação chuvosa em São Paulo.
Segundo Adriana, no cenário atual, com a mesma retirada de água e
chuvas dentro da média nos próximos meses, as duas cotas do volume morto do Cantareira
só seriam recuperadas no fim de 2015. "Só vai melhorar se chover de 25% a
50% acima da média. Nestes cenários, poderíamos recuperar o volume morto em abril
ou junho, respectivamente."
O governo Geraldo Alckmin (PSDB) vai esperar o fim da estação chuvosa
para definir se implantará um rodízio oficial, que deve ser de quatro dias sem
água por dois com. Além das águas de março, a Sabesp calcula um
"gatilho" do racionamento que levará em consideração as obras
emergenciais para aumentar em 5 mil litros por segundo a transferência de água
para o Sistema Alto Tietê e a terceira e quarta cotas do volume morto do
Cantareira. (OESP)
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