quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A crise da água e o Rio Grande do Sul

Uma das notícias com mais repercussão nos últimos meses é a crise de abastecimento de água e a diminuição dos recursos hídricos necessários às diversas atividades humanas e econômicas na Região Sudeste, principalmente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, para onde está previsto nos próximos meses o colapso quase irreversível da disponibilidade deste recurso fundamental, inclusive com a possibilidade do êxodo de atividades econômicas e cidadãos para outras regiões e Estados do País. No Brasil, há uma visão da população e poderes públicos de que temos acesso ilimitado aos recursos hídricos, especialmente a água doce, única possível de utilização para o consumo, agropecuária e muitas outras atividades essenciais. Mas a água não é um bem de consumo infinito, sendo fundamentais políticas adequadas de gestão, regularidade das outorgas, preservação das fontes, rios, bacias hidrográficas, matas ciliares, banhados, além de controlar os desperdícios durante a distribuição pós-tratamento.
Em 2015, a Agência Nacional das Águas – ANA prevê que 55% das cidades brasileiras terão problemas de abastecimento, não apenas em suas áreas urbanas, mas também rurais, dificultando a produção agropecuária e de alimentos localmente, com impactos regionais e nacionais importantes, inclusive com a inviabilização produtiva de muitas culturas e atividades e suas consequências imediatas, extensíveis ao tempo e processos de desenvolvimento. O desperdício médio de água tratada durante sua distribuição é calculado em 37% no país, principalmente por ausência de manutenção da infraestrutura e investimentos em tecnologias adequadas, por exemplo, o uso de softwares para controle dos volumes de entrada e saída, inclusive nas outorgas aos setores produtivos.
Embora o uso doméstico seja minoritário com aproximadamente 6% – agropecuária 70% e indústrias 24% – no Brasil o nível de consumo médio é alto com 165 litros/habitante/dia. Estudos indicam que 100 litros seriam suficientes. Ou seja, são necessárias políticas públicas, responsabilidade coletiva e educação ambiental para minimizar os problemas diretos e indiretos relacionados à disponibilidade da água.
Mas e o Rio Grande do Sul, está isento ou menos vulnerável a esta realidade brasileira e mundial? Reportagem do jornal Zero Hora de 30/08/2014 afirma que o RS apresenta um dos maiores desequilíbrios entre oferta e demanda de água, principalmente na metade sul, além de problemas relacionados com a qualidade na região metropolitana, de acordo com estudos da Agência Nacional de Águas – ANA que divide o Brasil em 12 regiões hidrográficas, estando duas – Uruguai e Atlântico Sul – no território gaúcho. A do Uruguai tem 32% dos trechos dos mananciais que a compõem considerados em situação crítica e na do Atlântico Sul 35%. Apenas duas regiões hidrográficas, no semiárido nordestino, são consideradas mais frágeis do que as gaúchas.
Entre os dez rios mais poluídos do Brasil, três estão no RS: Sinos, Gravataí e Caí. Na Região da Campanha, o rio Santa Maria também apresenta problemas de poluição e diminuição de sua vazão, fenômeno que se repete em várias outras bacias hidrográficas. Captação de água para irrigação em grande escala, assoreamento de rios e riachos naturais e destruição de fontes por atividades econômicas de monoculturas extensivas, além da ausência de tratamento dos esgotos domésticos e industriais são os principais agravantes desta situação.
Portanto, o RS precisa ficar alerta e aperfeiçoar o uso, conservação e recuperação dos seus recursos hídricos, garantindo o abastecimento público e em suas atividades econômicas com planejamento de longo prazo e políticas públicas adequadas, fiscalização, fortalecimento dos comitês de bacias hidrográficas, regularidade das outorgas, investimentos da Companhia Riograndense de Saneamento – Corsan em tecnologias, combate aos desperdícios, tratamento dos esgotos, recuperação de mananciais, educação ambiental e capacitação permanente. O RS pode enfrentar os seus possíveis problemas quanto à disponibilidade de água no futuro (não muito distante), mas para isso precisa identificar agora e agir imediatamente. (ecodebate)

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