Brasil
pode demorar 65 anos para reduzir desperdício de água.
“A grande
questão é que hoje não há uma evolução no indicador de redução de desperdício
de água. A evolução é muito lenta, e por isso a nossa projeção é de que demore
tanto tempo para se reduzir o índice de desperdício”, diz o consultor do
Instituto Trata Brasil.
O
índice de desperdício de água potável no Brasil é de 37% durante o processo de
distribuição, valor que equivale a seis Sistemas da Cantareira, segundo
pesquisa realizada recentemente pelo Instituto Trata Brasil. A perda de água
causada por conta de vazamentos, pelo uso de hidrômetros adulterados, por
ligações clandestinas e pela manutenção inadequada das redes pode ser resumida
a dois fatores: “falta de gestão e falta de manutenção”, afirma Pedro Scazufca
na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone.
“Onde
há perdas físicas, é necessário fazer uma troca adequada das redes, além da
manutenção, verificando se existem vazamentos. Em relação às perdas comerciais,
é necessário fazer uma troca adequada dos hidrômetros, substituí-los
constantemente, ter um parque de hidrômetros com uma idade de no máximo cinco
anos, para que haja uma medição correta de quanta água está chegando nas casas
das pessoas”, explica.
De
acordo com Scazufca, apesar de os dados do desperdício de água serem “muito
elevados”, a redução do desperdício de 37% para 15% deve ser atingida somente
em 2080. “Basicamente este é o motivo: estamos evoluindo de maneira muito
lenta, embora tenhamos algumas cidades que fogem à regra, a exemplo de Limeira
e Campinas, que têm índices menores de desperdício. Em geral, as cidades não
estão evoluindo. Em aproximadamente dez capitais brasileiras há perdas maiores
do que 50%”. Entre as cidades em que há maior desperdício, destacam-se as da
região Norte e Nordeste. Em Manaus, por exemplo, os indicadores registram 75%
de desperdício.
Pedro
Scazufca é mestre em Economia pelo Instituto de Pesquisas Econômicas da
Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo – USP e
bacharel em Economia pela Faculdade de Economia e Administração da USP. É um
dos organizadores do livro A Economia do Saneamento no Brasil. Atualmente
também atua como consultor do Instituto Trata Brasil.
IHU
On-Line - Segundo estudo do Instituto Trata Brasil, o desperdício de
água no país equivale a seis Cantareiras. Qual é o significado desse valor?
Pedro
Scazufca - Os dados do desperdício de água são muito elevados; a média de
desperdício no Brasil é de 37% e já esperávamos realmente um resultado ruim, um
resultado que mostra o desperdício em termos de perdas físicas, causado
basicamente por vazamentos, mas também perdas comerciais, que são os famosos
“gatos”, ou seja, há muitas ligações clandestinas e hidrômetros adulterados.
Em
relação às perdas físicas, basicamente elas dependem de uma manutenção inadequada
da rede, e as redes são muito antigas. Então, por conta de essas redes serem
antigas e não terem a manutenção adequada, ocorrem os vazamentos. Em relação às
perdas comerciais, esse é um problema que existe por conta do comportamento
inadequado dos cidadãos, infelizmente, que fazem ligações clandestinas ou fazem
adulterações no hidrômetro para que ele meça um valor menor de água do que o
que está sendo consumido.
IHU
On-Line - Como é possível resolver esses problemas que geram
desperdício?
Pedro
Scazufca - Na verdade existe um problema de gestão e outro de falta de
manutenção. Onde há perdas físicas, é necessário fazer uma troca adequada das
redes, além da manutenção, verificando se existem vazamentos. Em relação às
perdas comerciais, é necessário fazer uma troca adequada dos hidrômetros,
substituí-los constantemente, ter um parque de hidrômetros com uma idade de no
máximo cinco anos, para que haja uma medição correta de quanta água está
chegando na casa das pessoas.
IHU
On-Line - A estimativa do Trata Brasil é de que o país alcance um nível
de desperdício de 15% em 2080. Por que a expectativa é de que isso ocorra
somente num prazo tão distante?
Pedro
Scazufca - A grande questão é que hoje não há uma evolução no indicador de
redução de desperdício de água. A evolução é muito lenta, e por isso a nossa
projeção é de que demore tanto tempo para se reduzir o índice de desperdício.
Basicamente este é o motivo: estamos evoluindo de maneira muito lenta, embora
tenhamos algumas cidades que fogem à regra, a exemplo de Limeira e Campinas,
que têm índices menores de desperdício. Em geral, as cidades não estão
evoluindo. Em aproximadamente dez capitais brasileiras, há perdas maiores do
que 50%.
IHU
On-Line - Em quais regiões há maiores evidências de desperdício de água?
Pedro
Scazufca - Pelas informações que foram verificadas, a região Norte é onde
existem maiores perdas de água, seguida da região Nordeste.
IHU
On-Line - Segundo o Instituto, o desperdício anual de água equivale a
R$ 8 bilhões que deixam de retornar ao saneamento básico. Que investimentos
poderiam ser feitos com esse valor?
Pedro
Scazufca - Essa estimativa de R$ 8 bilhões de reais é o total perdido, mas,
como você falou, a meta é diminuir o índice de desperdício de água de 37% para
chegar a aproximadamente 15%. Assim, não é possível reverter tudo isso, mas se
deste valor de R$ 8 bilhões conseguíssemos reverter uns R$ 5 bilhões, estimamos
que será necessário, por ano, investimentos da ordem de R$ 15 a 16 bilhões para
que seja universalizado o saneamento até o ano de 2033, que é a meta do Plano
Nacional de Saneamento.
IHU
On-Line - Que medidas poderiam ajudar a reduzir o desperdício de água
na rede de distribuição? Trata-se de investimento em tecnologia, melhoramento
da gestão?
Pedro
Scazufca - A gestão do Saneamento é feita pelas prestadoras de serviço e por
cada município. Essas prestadoras podem ser companhias estaduais, que atendem
hoje cerca de 70% da população; há também companhias municipais, que atendem
cerca de 20% das operações. Então, por exemplo, em São Paulo, a Sabesp é uma
companhia estadual que atende 365 municípios, mas em Campinas, por outro lado,
o serviço é feito por uma empresa municipal. Há também empresas privadas, que
atendem cerca de 10% da população; por exemplo, em São Paulo, há o caso de
Limeira, onde é uma empresa privada que faz a prestação de serviço. Assim, são
essas prestadoras de serviço que têm a obrigação de fazer a gestão e de
melhorar essa gestão.
IHU
On-Line - Há um comparativo no sentido de verificar se os locais em que
há maior desperdício de água são atendidos por empresas estatais ou privadas?
Pedro
Scazufca - Na verdade, os resultados aos quais chegamos mostram que temos tanto
empresas privadas quanto empresas municipais ou estaduais onde há casos de
sucesso. Dessa forma, não dá para atribuir a responsabilidade somente ao setor
privado ou somente ao setor público, por exemplo. Agora, o que sabemos e o que
acompanhamos é que há, sim, casos de municípios que iniciaram uma gestão
privada e tiveram um sucesso de reduzir as perdas; isso realmente observamos.
(ecodebate)
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