Planejamento de Alckmin.
50 dias após inauguração de
obra, rio seca e Sabesp não tem como captar água.
Quase 50 dias após a inauguração, o rio onde a
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) investiu R$ 28,9
milhões em uma transposição para "garantir o abastecimento hídrico durante
o período seco" e socorrer o Sistema Alto Tietê está sem água.
O objetivo da obra emergencial era levar 1 mil litros
por segundo do Guaió para a Represa Taiaçupeba, em Suzano, onde fica a estação
de tratamento, "beneficiando diretamente mais de 300 mil moradores"
da Grande São Paulo. Mas, por causa da estiagem no local, a operação não foi
iniciada.
"Não há água para retirar do rio", admitiu o
superintendente de Produção da Sabesp, Marco Antônio Lopez Barros, durante
apresentação sobre as obras emergenciais da empresa para o Comitê da Bacia do
Alto Tietê, em 13/08/15. Segundo ele, a obra do Rio Guaió ainda está em fase de
"pré-operação".
No dia seguinte, a reportagem do jornal O Estado de S.
Paulo visitou as instalações e constatou que as bombas que foram ligadas
pessoalmente pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em um evento para a
imprensa no dia 29 de junho estavam desligadas.
Na ocasião, o tucano afirmou que estava
"entregando a primeira das três obras importantíssimas para garantir o
abastecimento hídrico durante o período seco", que vai de abril a
setembro. As outras duas são a ampliação da capacidade de produção do Sistema
Guarapiranga em 1 mil l/s, inaugurada em 20 de julho, mas também em
"pré-operação", e a transposição de 4 mil l/s da Billings para a
Taiaçupeba, que está três meses atrasada e só deve entrar em operação em
outubro.
"Já era sabido que no período de estiagem não
teria essa vazão que eles anunciaram. Com essa seca no Alto Tietê, então, o
Guaió não tem nem metade dessa água", afirma o engenheiro José Roberto
Kachel, ex-funcionário da Sabesp e integrante do comitê do Alto Tietê. Ele já
havia alertado para esse risco em março. Para Kachel, a obra no rio não vai
resolver o problema da região. "Venderam para a população que iam bombear continuamente
mil litros por segundo, mas não estão bombeando nada", diz o engenheiro.
Adutora
O Guaió é um pequeno rio que nasce em Mauá, no ABC, e
deságua no Rio Tietê, no limite de Poá com Suzano, após percorrer 20
quilômetros. A Sabesp construiu 9 quilômetros de adutoras para levar água dele
até o Ribeirão dos Moraes, um córrego que termina no Rio Taiaçupeba-Mirim,
afluente da Represa Taiaçupeba, onde está a estação de tratamento do Sistema
Alto Tietê.
Hoje, o manancial que abastece 4,5 milhões de pessoas
na porção leste da Grande São Paulo é o que está mais próximo do colapso, com
apenas 15,9% da capacidade.
À época da inauguração, a Sabesp afirmou em nota que a
obra era "essencial para garantir o abastecimento da população no período
de estiagem, que vai até o fim de setembro". Desde a entrega da estrutura,
porém, o Alto Tietê perdeu 25,6 bilhões de litros, ou 4,5% da capacidade. Em
14/08, por exemplo, a entrada total de água na Represa Taiaçupeba foi de apenas
660 litros por segundo, abaixo dos 1 mil l/s prometidos.
Agora, a Sabesp afirma que as obras emergenciais
"foram concebidas para aumentar a resiliência do sistema produtor de água,
ou seja, para captar água onde estiver chovendo e armazenar onde for
possível". Segundo a companhia, "por causa disso, as estruturas não
funcionam a toda carga todo tempo". A empresa afirma que "a previsão
de retirada do Guaió para o Alto Tietê, conforme a outorga, é de uma média
anual de até 1 mil l/s", mas "isso não significa que a vazão se
mantenha constante nesse valor".
A reportagem questionou a razão de a transposição do
Guaió ainda estar em fase de pré-operação quase 50 dias após a inauguração e
qual o volume diário retirado do rio para abastecer o Alto Tietê, mas a Sabesp
não respondeu. (yahoo)
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