Águas
residuais são um recurso subestimado que não deveríamos desperdiçar, diz estudo
do PNUMA
O tratamento de águas
residuais está provando ser um bom investimento, já que exemplos de todo o
mundo mostram que os benefícios vão além da saúde humana, como a prestação de
irrigação para a silvicultura e indústria, o biogás, água doméstica, calor,
eletricidade e fertilizante.
Um novo livro
eletrônico, lançado hoje pela organização WaterLex e o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), intitulado “Boas Práticas para a regulação
do tratamento de águas residuais: legislação, políticas e norma”, detalha
exemplos de sucesso na conversão das águas residuais para o lucro.
Em 30 bilhões de
dólares por ano, os custos de investimento no tratamento de águas residuais são
altos porque as oportunidades de lucro são perdidas. Na América do Norte, por
exemplo, 75% das águas residuais são tratados, mas apenas 3,8% é reutilizado,
enquanto em países de baixa renda apenas uma média de 8% é tratada.
O livro desafia a
imagem negativa das plantas de águas residuais, citando o exemplo de Melbourne,
onde a maior instalação de tratamento é também uma reserva natural protegida
pela Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas. A cidade trata mais da metade do
seu esgoto – 500 milhões de metros cúbicos ao dia - aproveitando os processos
naturais que ocorrem em um sistema de lagoas de 11 mil hectares. Metano, que é
o subproduto deste método, é preso e usado para produzir eletricidade, ajudando
a mitigar a mudança do clima e reduzir o odor.
O estudo também mostra
como os sistemas legais podem influenciar a qualidade e a acessibilidade da
água. Por exemplo, o direito humano ao meio ambiente saudável, explicitamente
garantido pelas constituições de 177 países, tem contribuído para a limpeza da
Bacia do Rio Argentino Matanza-Riachuelo.
O rio, que flui através
de Buenos Aires, estava sendo poluído por esgoto doméstico não tratado e
efluentes das mais de 3 mil indústrias da cidade - o que representa 24% do PIB
do país -, resultando em taxas de mortalidade infantil duas vezes maiores do
que em províncias vizinhas. A Suprema Corte da Argentina ordenou a criação de
um conselho multisetor de supervisão da sociedade civil que já garantiu a
remoção de 70 mil toneladas de lixo do rio e 243.000 m³ de lixeiras.
O livro também explora
os diferentes tipos de tratamento de esgoto, como o sistema combinado de planta
e cooperativas na Finlândia, onde cidades contam com plantas autossuficientes
em calor e 50% autossuficientes em eletricidade, enquanto comunidades rurais
remotas instalam cooperativas para trataras águas residuais.
A planta As-Samra na
Jordânia, que produz água para agricultura, é 95% autossuficiente em biogás.
Singapura, que importa atualmente 40% da água, está explorando soluções
inovadoras de tratamento para atingir a meta de independência de água até 2060.
Depois de mais de dois anos de testes, tem agora instaladas 4 plantas de
recuperação de água, processando 547,200 m³ por dia.
O livro eletrônico,
divulgado em Estocolmo como parte das comemorações da Semana Mundial da Água, é
uma resposta dentro do prazo para a diminuição de um terço da biodiversidade
dos rios, lagos e terras úmidas causada pela deterioração da qualidade da água.
Recomenda-se uma reação integrada ao problema, com uma consideração especial
para o meio ambiente urbano, já que a projeção é de que a população de
habitantes ultrapasse os 6 bilhões nos próximos 40 anos. Atualmente, cerca de
90% do fluxo de águas residuais não tratados são gerados em áreas costeiras
densamente povoadas. (web.unep.org)
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