GUEDES,
(2015) detalha os conceitos de desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade,
que não são homogêneos, variando da relação com três dimensões ou pilares, o
econômico, o ambiental e o social, com diversas dimensões, como a inserção do
aspecto cultural como variável a considerar.
A
percepção de que não há uma homogeneidade nos dois conceitos favorece uma
percepção mais crítica da realidade.
A
diversidade de entendimentos permite a compreensão dos vários discursos em
torno destes conceitos, situação que possibilita uma análise crítica da
sociedade.
A
problemática que envolve a sustentabilidade assumiu papel central na reflexão
em torno das dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram
para garantir equidade e articular as relações entre o global e o local
(JACOBI, 1999, p. 175).
Neste
sentido, foi proposto o conceito de “Desenvolvimento Sustentável”, que envolve
ideias de pacto intergeracional e perspectiva de longo prazo. “por
desenvolvimento sustentável entende-se o desenvolvimento que satisfaz as
necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras para
satisfazerem as suas próprias necessidades” (CMMD, 1991, p. 9).
A
proposição do Desenvolvimento Sustentável nos anos 1980 deve-se a um processo
de mudança nas concepções de modelos de desenvolvimento.
O
cenário criado pela percepção da crise ambiental nas décadas de 1960 e 1970
gerou uma série de respostas, como a publicação do livro “Primavera silenciosa”
(título original “Silent Spring”) por Rachel Carson, em 1962 e a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em
1972, e a publicação do relatório “Limites do Crescimento”.
“Poderíamos
dizer que a ideia de desenvolvimento durável foi encampada pelo conceito de
desenvolvimento sustentável e está fortemente associada a este conceito no
debate que se estende durante os anos 90 e permanecem em pauta até agora”
(SCOTTO, CARVALHO e GUIMARÃES, 2009, p. 26).
Segundo
SCOTTO, CARVALHO e GUIMARÃES (2009, p. 8), “a noção de desenvolvimento
sustentável e a própria ideia de sustentabilidade são, mais do que conceitos
homogêneos e bem delimitados, campos de disputa sobre diferentes concepções de
sociedade”. Segundo GUEDES (2015), há uma questão de ideologia por detrás
dos discursos, que pode se tornar objeto de estudo da análise do discurso e de
outras áreas do conhecimento.
A
situação é que a discussão acerca do desenvolvimento sustentável passou a
apontar para uma tríade envolvendo os meios social, ambiental e econômico, o
chamado triângulo da sustentabilidade (em inglês, “triple bottom line”).
O
“triple bottom line” foi criado pelo consultor britânico John ELKINGTON em 1997
e refere-se à necessidade de uma gestão empresarial voltada a suas três
dimensões, em que inglês começam pela letra “p”: “profit”, “people” e “planet”.
“A
verdade, contudo, é que em 1992 essa bizarra parábola dos ‘três pilares’ nem
sequer havia sido inventada. Ela só começou a ser difundida a partir de 1997, e
no contexto das empresas, não das nações” (VEIGA, 2013, p. 108).
Nada
permite inferir da leitura do “Relatório Brundtland” (ou Nosso Futuro Comum,
referenciado aqui como CMMD (1991)) que o desenvolvimento sustentável teria
apenas três dimensões.
Ainda
temos que essa noção poderia ter sido manchada pela metáfora mecânica de
“pilares” a serem “equilibrados”. Ao contrário: nas raras vezes em que o
relatório usa o termo “dimensões”, apresenta longas listas, e que terminam com
significativas “etc.” (VEIGA, 2013, p. 109-110).
Assim,
este conceito do triângulo nasceu no mundo empresarial e manteve-se limitado a
uma visão simplista da realidade.
Segundo SCOTTO, CARVALHO e
GUIMARÃES (2009, p. 35 e 36):
Embora
pretenda ter uma ação abrangente e global, o desenvolvimento sustentável é um
conceito elaborado dentro da esfera de um pensamento orientado pela lógica
econômica e com esta referência pensa a sociedade. A via de internalização dos
custos ambientais, seja na forma de condicionantes ambientais nas relações
internacionais ou ainda na forma de internalização de custos nos produtos
finais, segue o modelo de sociedade de mercado.
O
conceito de desenvolvimento sustentável tem alimentado muitas propostas que
apontam para novos mecanismos de mercado como solução para condicionar a
produção à capacidade de suporte dos recursos naturais (…). Mas a questão que
permanece em aberto é se estes mecanismos serão capazes de reorientar a lógica
mercantil da sociedade ocidental de consumo, sendo efetivamente um freio à
degradação ambiental, ou se estaríamos apenas vendo surgir um novo tipo de
mercado verde.
Por
outro lado, em contraposição ao triângulo da sustentabilidade, a discussão da
sustentabilidade envolve outras dimensões, além dos 3 pilares. De acordo com o
posicionamento de IGNACY SACHS (2002), há pelo menos 8 dimensões da
sustentabilidade (eram 5 em 1993 (SACHS, 1993), mas atualmente ele trabalha com
8 SACHS, (2002), LAMIM-GUEDES e INOCÊNCIO (2013)).
Do
desenvolvimento sustentável à sociedade sustentável:
A
discussão que se dava no âmbito da sociedade civil via muitos limites no
conceito de desenvolvimento sustentável, destacando a precariedade, a ambiguidade
deste conceito que reforçava a ideia de desenvolvimento sem enfrentar suas
principais contradições. O fato do desenvolvimento sustentável se apresentar
com estas características tornava-o de fácil assimilação por setores da
sociedade que tem termos de projeto políticos eram adversários históricos, como
por exemplo, ambientalistas e empresários. (…) a principal contradição apontada
era de que o desenvolvimento sustentável buscava conciliar economia e ecologia
sem romper com os pressupostos do modelo de desenvolvimento que estava na
origem da crise social e ambiental.
Um
dos deslocamentos importantes que, ao longo dos anos 90, se podem observar
neste debate é da noção de desenvolvimento sustentável para a ideia de
sociedade sustentável. (ecodebate)
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