Relatório pré-Habitat
III define modelo atual de urbanização como insustentável
A ONU publicou um completo relatório como parte da preparação para a Nova
Agenda Urbana, a ser construída em outubro na Conferência das Nações Unidas
sobre Assentamentos Humanos (Habitat III) em Quito, no Equador, em que deixa claro: “O modelo
atual de urbanização é insustentável em muitos aspectos. Muitas cidades pelo
mundo estão grosseiramente despreparadas para os desafios associados à
urbanização”. As áreas urbanas passaram por intensas modificações desde a
última Habitat, que ocorreu em 1996, em Istambul, Turquia. O estudo, a versão
inaugural do Relatório Global das Cidades 2016, mostra que, até 2030, dois terços da população global
devem viver em cidades, que serão responsáveis por produzir até 80% do Produto
Interno Bruto (PIB) global.
O relatório defende
que a urbanização é a melhor forma existente de o mundo alcançar os objetivos
de desenvolvimento sustentável. “A urbanização é um vínculo visível, e muitas
vezes invisível, que articula no espaço urbano quase todos os tipos de resposta
que tem a ver com os Objetivos da Agenda de Desenvolvimento Sustentável. Se a
urbanização é bem feita, bem planejada, é muito possível que vários outros
objetivos de desenvolvimento sustentável possam ser realizados, e o contrário
pode também acontecer. As cidades são, sem dúvida, uma fonte muito importante
de redução de crises que tem a ver com as questões internacionais em geral”,
explicou Eduardo Moreno, diretor de Pesquisa e Formação da ONU em entrevista à
rádio da entidade.
Moreno também falou
um pouco sobre a evolução das cidades do Brasil: “Quase todas as cidades
brasileiras são hoje mais igualitárias do que eram há 20 anos, o que coloca o
Brasil nos 25% das cidades do mundo que estão tendendo a reduzir desigualdades
e abrir mais oportunidades. O Brasil também reduziu em cerca de 25% a população
morando em favelas (nos
últimos 20 anos)”, contou.
Ao todo, são dez
capítulos que discutem as duas décadas entre a Habitat II e a Habitat III, que
ocorre neste ano. A urbanização sustentável é vista como uma oportunidade de
avanço social e econômico para o mundo, sustentada por princípios como
resiliência, justiça, governança, planejamento, inclusão, segurança entre
outros.
No último capítulo,
que fala da Nova Agenda Urbana – veja o posicionamento do WRI sobre ela – o relatório faz uma alusão de que vivemos um
momento como o de Galileu: “A Terra não é plana. É urbana. Se não reconhecermos
que as moradias à beira da estrada estão relacionadas ao local em que vivemos,
vamos todos sofrer, e desnecessariamente”. O relatório completo está
disponível aqui.
Veja um resumo dos
10 capítulos:
Da Habitat II à
Habitat III: 20 anos de desenvolvimento urbano
No capítulo
inicial, a publicação constrói um panorama das últimas duas décadas de
urbanização pelo mundo e das transformações que ocorrem nas cidades desde a
última Habitat, em 1996. São elencados alguns desafios que persistiram nesse
período: crescimento das áreas urbanas, mudanças no padrão de família, aumento
de moradias informais e favelas, os desafios de prover serviços nas cidades,
mudanças climáticas, exclusão e aumento da desigualdade, insegurança e a
explosão da migração internacional.
Urbanização como
uma força de transformação
Avaliar os últimos
20 anos de desenvolvimento revela uma transformação global em que as cidades
estão no centro de tudo. Essa mesma força deve ajudar agora, que é preciso
fazer uma virada em direção ao desenvolvimento sustentável. As cidades devem
liderar esse processo, e assim vão contribuir para solucionar outros desafios como
a pobreza, a desigualdade, o desemprego, a degradação ambiental e as mudanças
climáticas. Para que as mudanças sejam positivas, é preciso uma urbanização
sustentável e planejada, que envolve a organização espacial das cidades, sua
capacidade de lidar com riscos ambientais e de se conectar através da
tecnologia.
O destino da
habitação
Transformar nossas
cidades em “cidades do futuro” vai depender se a habitação será direcionada a
edifícios decentes ou mais abrigos informais e insustentáveis. A habitação
determina o relacionamento entre todas as pessoas e o espaço urbano. Aí se
escondem graus de exclusão e inclusão na vida cívica, assim como
socioeconômica, que fazem parte da essência da dinâmica urbana. O destino das
cidades está diretamente ligado ao que será feito na área de habitação, e uma
virada na direção do desenvolvimento sustentável depende muito de como vamos
lidar com isso.
O alargamento das
divisões urbanas
A história mostra
que as cidades são berço da inovação, onde grupos de diferentes origens
coexistem e novas experiências democráticas emergem. Populações hoje excluídas
precisam começar a fazer parte das decisões. Ao comportar grandes aglomerações
de pessoas, as cidades “forçam” uma união entre diferentes classes sociais,
religiões, etnias, nacionalidades e orientações sexuais. Elas devem estar na
ponta do respeito pelas diferenças.
Sustentabilidade
ambiental
O desenvolvimento
urbano permite que comunidades expandam o espaço disponível mesmo com o uso da
terra parecendo cada vez mais finito. Esse aparente paradoxo é um grande
desafio para a sustentabilidade ambiental. Isso mostra o poder da urbanização,
para além da maior verticalidade e densidade das cidades.
Governança urbana e
legislação
Boas leis
municipais permitem a ordem e a previsibilidade do desenvolvimento urbano por
muitas perspectivas, como espacial, social, econômica e ambiental. Elas
contribuem para ganhos econômicos, investimentos e geração de riqueza. As
qualidades das moradias e da participação por meio da governança afetam a qualidade
de vida de milhões de pessoas. As escolhas feitas em relação aos assentamentos
têm efeitos positivos ou negativos tangíveis sobre a justiça social, a
governança, as tomadas de decisão democráticas, o desenvolvimento econômico, a
defesa dos direitos fundamentais e a transparência.
Uma cidade que
planeja: reinventando o planejamento urbano
A urbanização
avançou tanto que tem influência sobre resultados econômicos, redução da
pobreza e bem-estar social. Por outro lado, a falta de planejamento implica
poluição, engarrafamentos, segregação, espraiamento, entre outras
consequências. Desde a Habitat II, um crescimento populacional sem precedentes
desafia os governos. A ONU entende que, para a agenda da Habitat avançar, será
preciso mudar a forma como se faz o planejamento urbano pelo mundo atualmente.
De acordo com o relatório, um bom planejamento urbano envolve a opinião de
residentes, empregadores e funcionários, investidores e líderes eleitos. É
preciso integrar infraestrutura com o uso do solo, a cultura, os recursos
naturais e a educação.
A mudança de
dinâmica nas economias urbanas
A economia das
cidades é centrada nas pessoas. Esse capital individual converge e se combina
de muitas maneiras, e essa produtividade beneficia a todos. Essas dinâmicas
devem alimentar serviços de saúde, educação, atendimento ao cidadão,
preservação do ambiente e das instituições.
Princípios da Nova
Agenda Urbana
As cidades são a
plataforma para uma mudança global e local neste século. Assim, a urbanização
deve estar no centro de uma nova agenda global de desenvolvimento. Cerca de 80%
de todo o crescimento futuro é esperado para ocorrer nas cidades até 2030,
então, diz o relatório, não é exagero pensar que o crescimento econômico de
países inteiros, regiões e do mundo ocorrerá nas cidades.
A Nova Agenda
Urbana
Desequilíbrios
insustentáveis entre geografia, ecologia, economia, a sociedade e as
instituições estão fazendo o futuro de muitas cidades pouco promissor. O
crescimento demográfico e espacial rápido, a expansão da economia e da pegada
ambiental das cidades criaram uma dinâmica que as instituições públicas não são
capazes de gerir de forma eficaz. O fracasso na política urbana é visível e tem
impactos devastadores para as pessoas nas cidades. Esse modelo atual se provou
insustentável e é preciso deixá-lo no passado (thecityfixbrasil).
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