Poluição atmosférica de
Manaus interfere no equilíbrio do clima e ecossistemas amazônicos.
Poluição
influencia a química de isopreno lançado pela vegetação da Amazônia na
atmosfera, alterando a formação de nuvens e a ocorrência de chuvas.
O
impacto da urbanização de Manaus na floresta amazônica é muito significativo,
pois altera os mecanismos de formação e desenvolvimento de nuvens. E as chuvas
constituem um dos ingredientes mais importante para o funcionamento do
ecossistema amazônico. O alerta é do professor Paulo Artaxo, do Instituto de
Física (IF) da USP, um dos autores do artigo Isoprene
photochemistry over the Amazon rainforest, publicado em 16/05/16 na
revista científica PNAS. “Várias cidades da região amazônica como Santarém
(Pará) e Porto Velho (Rondônia) também estão sofrendo um processo de
crescimento acelerado. É preciso pensar quais consequências essa
urbanização vai trazer para a floresta nas próximas décadas”, adverte.
Artaxo
explica que o isopreno é o gás emitido para a atmosfera pelas plantas em maior
quantidade entre todas as emissões da vegetação da floresta. Ele se transforma
nas partículas que formam os núcleos de condensação de nuvens, e são estes
núcleos que auxiliam na formação das chuvas da região.
O
estudo avaliou quais são as razões de emissão de isopreno para a atmosfera; o
quanto desse gás se transforma em núcleo de condensação de nuvens; e como a
poluição de Manaus afeta o funcionamento natural da floresta ao alterar os
mecanismos de oxidação do isopreno.
Conclusões
O
estudo faz parte do experimento GoAmazon e envolveu, além da USP, cientistas de
diversos polos de pesquisa do mundo: Universidade de Harvard, Brookhaven
National Laboratory, Universidade de Wisconsin-Madison, Universidade da
Califórnia, Instituto de Tecnologia da Califórnia e do Pacific Northwest
National Laboratory, todas do Estados Unidos; e do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia e da Universidade do Estado do Amazonas, no Brasil.
Graças
aos equipamentos sofisticados e às medições feitas em solo e com auxílio de
avião do Departamento de Energia dos Estados Unidos, foi possível quantificar,
com muita precisão, o fluxo de emissão de isopreno. ”Nós observamos que as
razões de emissão são mais elevadas que os valores medidos anteriormente. Esses
resultados alteram a importância da vegetação amazônica e seu impacto no clima
da região”, esclarece Artaxo. O principal equipamento utilizado é o PTR-MS
(sigla em inglês para Proton Transfer Reaction Mass Spectrometry), específico
para medir a concentração de compostos orgânicos voláteis como o isopreno.
O
estudo também obteve dados sobre a fração de isopreno que se transforma em
partículas e qual o efeito delas para nuclear as gotas de nuvens. Para formar
uma nuvem, explica Artaxo, é necessário vapor de água, e uma minúscula
partícula que atue como semente dessas gotas de nuvens para que o vapor possa
se condensar na superfície das partículas. “Sem elas, não se formam gotas de
nuvem e, portanto, nem nuvens ou chuvas”, diz.
Controle climático da Amazônia
Controle climático da Amazônia
De acordo
com Artaxo, até recentemente não se tinha uma ideia exata da fração que vem da
oxidação de isopreno, pois havia somente medições pontuais em algumas torres do
experimento LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera e Atmosfera da
Amazônia). “O avião fez essa medição em uma escala muito grande, em um raio de
200 a 300 quilômetros de Manaus”, relata. Os dados obtidos reforçam a evidência
do controle climático da Amazônia pela própria floresta. “A floresta controla a
quantidade de núcleo de condensação de nuvens na atmosfera. Era uma suspeita
que tínhamos há alguns anos. Este estudo confirmou e quantificou esse impacto.”
A
pesquisa traz ainda dados sobre como a poluição de Manaus influencia a região.
“Descobrimos que determinados compostos, como os óxidos de nitrogênio,
expelidos por automóveis e indústrias, alteram os mecanismos de oxidação de
isopreno. Essa oxidação é crítica para fazer esse isopreno formar novas
partículas”, adverte o pesquisador.
Para
efeitos comparativos, São Paulo tem 7 milhões de automóveis, 10 vezes mais que
Manaus. Mas a capital amazonense está localizada em uma região muito isolada,
no meio da floresta. “Trata-se de uma configuração muito especial. É uma fonte
de poluição pontual completamente distinta do restante do planeta, pois está
isolada por 1.500 quilômetros de florestas em todas as direções. Isso nos
permitiu desenhar o experimento GoAmazon e analisar o impacto dos poluentes
atmosféricos emitidos por automóveis nas emissões naturais da floresta”,
conclui.
(ecodebate)
(ecodebate)
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