Ricardo
Abramovay assevera que precisamos de inovações sustentáveis.
Crítico
do alarmismo, o professor Ricardo Abramovay defende divulgação de boas práticas
ambientais para sensibilizar população. Em entrevista a Renato Grandelle afirma
que “em qualquer setor, as empresas precisam conversar cada vez mais com os
cientistas e ser sensíveis às mudanças das preferências dos consumidores”
Parece
impossível discutir o futuro do planeta sem cair no pessimismo. As mudanças
climáticas são tão flagrantes que teriam provocado o início de um novo período
geológico.
A
indústria ainda não consegue adaptar toda a sua cadeia de produção a práticas
sustentáveis. O economista Ricardo Abramovay, da Universidade de São Paulo
(USP) prefere não olhar para o abismo.
Existem
estudos mostrando que até 80% do noticiário relacionado às mudanças climáticas
é alarmista. Não é culpa dos meios de comunicação porque, quando alguém abre o
jornal, as catástrofes chamam mais atenção. Então, é natural que ganhem mais ênfase.
É
importante ressaltar que as ameaças não são inventadas. De fato vivemos uma
situação preocupante. No entanto, acredito que, se quisermos sensibilizar a
população, é importante expor exemplos e conquistas que permitam dizer que,
apesar dos problemas, há condições de organizar a vida.
Indagado
sobre quais são as consequências da comunicação baseada em catástrofes, arguiu,
“se as pessoas têm a expectativa de que a vida vai piorar, elas acreditam que é
melhor aproveitar enquanto há tempo. Você sabe o que está acontecendo, mas nada
faz a respeito, porque não haverá um prejuízo imediato. Acredito que, se os
gases de efeito estufa tivessem cor, nunca chegaríamos a esta situação. As
pessoas se revoltariam contra a poluição. Infelizmente a destruição do sistema
climático não é visível”.
Indagado
porque tantos relatórios científicos também adotam um tom alarmista, mas ainda
não convenceram os governos a estabelecer um acordo global assevera “a
capacidade de comunicação da ciência é muito pequena. Aliás, ela parece avessa
à comunicação. O discurso é hermético. Os relatórios são difíceis de
compreender”.
Perguntado sobre onde os ambientalistas erram em
seu discurso, manifesta que “um exemplo é o setor de transportes, hoje baseado
em carros particulares, movidos a combustíveis fósseis. O discurso
ambientalista convencional é “você não pode ter o automóvel que tanto almeja,
porque ele é poluente”. Isso induz a uma reação, como assim? Agora que eu quero
(e posso), você me vem com esta história?”. O ideal é dizer: “Este carro não
vai trazer o bem-estar que você quer”. Enquanto isso, devemos investir
seriamente no transporte coletivo”.
Provocado a se manifestar sobre o setor energético, onde também há exagero quando se fala sobre a possibilidade de racionamentos no futuro, argumentou “nos Estados Unidos, alguns anos atrás, achava-se que seria necessário reduzir o uso de equipamentos elétricos e eletrônicos que são indispensáveis. O uso de tecnologias como a energia solar por um preço cada vez mais barato muda completamente este negócio. Mostra que a redução das emissões derivadas do consumo de energia não se traduz em mal-estar para as pessoas. Temos técnicas para assegurar que as mudanças exigidas à sociedade pelo aquecimento global sejam menos traumáticas do que pensávamos recentemente”.
Provocado a se manifestar sobre o setor energético, onde também há exagero quando se fala sobre a possibilidade de racionamentos no futuro, argumentou “nos Estados Unidos, alguns anos atrás, achava-se que seria necessário reduzir o uso de equipamentos elétricos e eletrônicos que são indispensáveis. O uso de tecnologias como a energia solar por um preço cada vez mais barato muda completamente este negócio. Mostra que a redução das emissões derivadas do consumo de energia não se traduz em mal-estar para as pessoas. Temos técnicas para assegurar que as mudanças exigidas à sociedade pelo aquecimento global sejam menos traumáticas do que pensávamos recentemente”.
Perguntado
se acreditava que a crise hídrica tivesse sido uma lição para a sociedade sobre
a fragilidade do fornecimento de energia, aduziu “a ocorrência dos eventos
climáticos extremos coloca a sociedade em um clima de incerteza totalmente
inédito. Não podemos dizer que fenômenos como este ocorrerão, por exemplo, a
cada dez anos. Não há uma frequência correta. Falta uma campanha para mostrar à
população que economizar energia continua sendo muito importante, mesmo com os
avanços tecnológicos”.
O
senhor também inclui o setor alimentício no rol daqueles que mais demandam
mudanças radicais no relacionamento entre clima, empresas e consumidores.
Manifestou convicto que “a indústria alimentícia é altamente dependente de
insumos químicos.
Ao
mesmo tempo, a explosão da epidemia de obesidade está fazendo com que as
grandes empresas do setor agroalimentar revejam os seus modelos de negócio.
Então,
a forma de vender alimentos é cada vez mais contestada, tanto por organismos
médicos como também pela opinião pública. Em qualquer setor, as empresas
precisam conversar cada vez mais com os cientistas e ser sensíveis às mudanças
das preferências dos consumidores. Do contrário, elas perdem sua legitimidade
social, o que afeta seus lucros”.
Inquirido
se as empresas estão preparadas para este diálogo, desenvolveu manifestações de
que “ainda não. As empresas do século XXI são aquelas que conseguirão se
organizar diante da preferência dos clientes, da rede de fornecedores, de
políticas públicas e da concorrência. Elas sofrem pressões e devem reagir a
elas. Já não investem mais em pesquisas que negam as mudanças climáticas, como
faziam aquelas que exploram combustíveis fósseis”.
Em
continuidade na entrevista, diante da questão que o senhor já escreveu artigos
sobre o Antropoceno, um novo período geológico, o primeiro provocado pelo
homem. Como nossa intervenção sobre o planeta tornou-se tão importante?
Respondeu
que “cerca de 10 mil anos atrás, na Revolução Neolítica, o homem tornou-se uma
força biológica, porque alterou ecossistemas com o surgimento da agricultura”.
Desde então, a temperatura do planeta não sofreu grandes alterações, oscilava
cerca de 1°C. Isso mudou a partir da Revolução Industrial, no fim do século
XVIII, quando começamos a usar combustíveis fósseis.
O
ser humano, em vez de força biológica, converteu-se em uma força geológica. Em
tão pouco tempo, a temperatura já aumentou 0,8°C. Além disso, vivemos uma
explosão populacional. Durante o século XX, passamos de 1,6 bilhão para 6,1
bilhões de pessoas. Pela primeira vez, causamos a chegada de um novo período
geológico. Este é o Antropoceno.
Finalizando, diante do questionamento sobre o que pode ser feito a partir de agora, conclui “o Antropoceno não significa o fim do mundo. A questão é: como transformar o limão em limonada? Levando em consideração as transformações que provocamos sobre a Terra, o que significa uma vida digna? Precisamos aumentar a cooperação das pessoas, mudar a relação com o mundo natural.
Finalizando, diante do questionamento sobre o que pode ser feito a partir de agora, conclui “o Antropoceno não significa o fim do mundo. A questão é: como transformar o limão em limonada? Levando em consideração as transformações que provocamos sobre a Terra, o que significa uma vida digna? Precisamos aumentar a cooperação das pessoas, mudar a relação com o mundo natural.
Isso
deve ser apoiado em revoluções tecnológicas. Precisamos de inovações
sustentáveis, porque já é certo que as temperaturas globais aumentarão de 3° a
6°C até o fim do século. O sistema produtivo precisa ser modificado”.
Aqui
isto frequentemente tem sido denominado nova autopoiese sistêmica, na
interpretação livre da semântica das acepções de Niklas Luhmann e Ulrich Beck,
para um novo arranjo civilizatório.
Nada
foi mais nefasto na civilização humana do que as hecatombes ambientais
produzidas pela falta de liberdade e práticas ambientalmente condenáveis
geradas pela autossuficiência de ditadores socialistas.
Esta
mudança deve começar logo, juntando as lutas singulares, os esforços diários,
os processos de auto-organização e as reformas para retardar a crise, com uma
visão centrada numa mudança de civilização e uma nova sociedade em harmonia com
a natureza.
Não
é preciso esperar catástrofe ecológica ou hecatombe civilizatória para
determinar nova autopoiese sistêmica. Nada foi mais deletério em causar a maior
catástrofe ambiental do planeta do que a falta de liberdade e imprensa livre
dos ditos regimes socialistas.
Mas
esta é a concepção resultante de convicções muito pessoais e personalizadas.
(ecodebate)
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