Começou em 17/10/16 a Terceira
Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano
Sustentável – HABITAT III. Será a primeira Conferência Global desde o início da
Agenda Pós-2015 na ONU. É uma oportunidade para debater os desafios da
urbanização e os problemas econômicos, sociais e ambientais do mundo.
Como
mostra o site da ONU, a Conferência HABITAT I ocorreu em Vancouver, em 1976,
quando os governos começaram a reconhecer a necessidade de assentamentos
humanos sustentáveis diante do rápido crescimento das cidades. Os compromissos
assumidos em Vancouver foram confirmados 20 anos depois na conferência HABITAT
II, ocorrida em Istambul. Quarenta anos depois de Vancouver e 20 anos depois de
Istambul, há consenso de que houve avanço, mas também cresceram os problemas a
serem enfrentados.
O
gráfico acima mostra que a população total do mundo era de 2,5 bilhões de
habitantes, sendo que 746 milhões moravam nas cidades. Em 2015 a população
mundial passou para 7,4 bilhões de pessoas, sendo 3,96 bilhões de pessoas no
meio urbano. Para 2050, a projeção da Divisão de População da ONU aponta para
uma população total de 9,7 bilhões, sendo 6,4 bilhões de pessoas nas cidades.
Ou seja, a população urbana em 1950 era menos de um terço (29,6%), passou para
mais da metade em 2015 (53,8%) e deve chegar próximo a dois terços (65,2%) em
2050. O crescimento da população urbana será de quase 9 vezes em 100 anos.
O
renomado demógrafo George Martine (2007), um dos maiores estudiosos da
transição urbana no mundo, considera que a urbanização pode e deve ser uma
força para a melhoria do bem-estar da população e que a concentração urbana, em
geral, traz mais ganhos do que a dispersão horizontal nas cidades e no campo.
Ele coordenou a elaboração do relatório do UNFPA, “Desencadeando o Potencial do
Crescimento Urbano” (Martine, 2007), onde chama a atenção para a
inevitabilidade do crescimento das cidades e para as potencialidades que os
aglomerados urbanos podem trazer para a erradicação da pobreza e para a maior
eficiência no uso da energia e dos recursos naturais.
De
fato, desde o início da Revolução Industrial e Energética, a urbanização tem
sido a grande força impulsionadora do desenvolvimento, da redução da pobreza,
da transição demográfica e dos avanços das políticas de bem-estar. Mas
evidentemente, há cidades e há “amontoados urbanos”. Há cidades com alto nível
de vida, boas condições de mobilidade espacial e grande mobilidade social
ascendente. Mas também há cidades onde predominam os problemas, as favelas e a
pobreza. A falta de saneamento básico, a poluição, os lixões e os resíduos
sólidos são grandes desafios a serem enfrentados nos países em desenvolvimento.
Mas
o grande desafio que as cidades vão enfrentar nas próximas décadas virá do
aquecimento global e da elevação do nível do mar. Grandes cidades do mundo
estão no litoral e na foz de grandes rios, como Xangai, Londres, Lagos, Recife,
etc. A subida dos oceanos pode inundar grandes áreas destas cidades, obrigando
o deslocamento de centenas de milhões de pessoas e afetando a vida de outros
bilhões de habitantes que dependem da infraestrutura de portos e aeroportos das
zonas costeiras.
Infelizmente,
a maioria dos países não tem reconhecido a gravidade do problema do avanço do
mar e dos fenômenos climáticos extremos que vão potencializar os estragos das
tempestades, tormentas, ciclones, etc. O furacão Matthew que atingiu várias
ilhas do Caribe (matando mais de mil pessoas no Haiti) e a costa leste dos
Estados Unidos (gerando grandes prejuízos materiais), neste mês de outubro de
2016, foi apenas um alerta sobre a fúria da natureza provocada pelo efeito
estufa decorrente das emissões de gases gerados pelas atividades antrópicas.
Segundo
relatório do Banco Mundial (2016), nos 30 anos entre 1976-1985 e 2005-2014, os
danos causados por desastres naturais aumentou dez vezes, custando agora mais
de US$ 140 bilhões por ano (média ao longo do período de 10 anos). Enquanto
isso, o número de pessoas afetadas no mundo passou de 60 milhões por ano para
mais de 170 milhões.
Mas
se os desastres aumentaram nos últimos 30 anos eles tendem a ficar piores nas
próximas décadas. O mesmo relatório do Banco Mundial afirma que a população que
será afetada pelas mudanças climáticas alcançará a cifra de 1,3 bilhão de
pessoas em sério risco e causará prejuízos de US$ 158 trilhões em ativos em
perigo de inundação, até 2050.
A
Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano
Sustentável (HABITAT III) deveria tratar estes problemas como uma prioridade
absoluta. Porém, como mostra artigo de Amy Lieberman (14/10/2016), no jornal
The Guardian, a Conferência carece de uma plataforma internacional para
enfrentar a ameaça do aquecimento global. Os países-membros da ONU, com exceção
de Tuvalu, Maldivas e outras ilhas do Pacífico ou do Caribe não estão
totalmente preparados para enfrentar esta discussão e suas consequências.
Mas diante da gravidade das ameaças climáticas e
da possibilidade de grandes cidades ficarem debaixo d’água, é possível que os
participantes da Habitat III consigam estabelecer uma agenda para lidar com o
avanço do nível do mar. A ética da responsabilidade exige um posicionamento
firme da comunidade internacional. (ecodebate)
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