Seminário Nacional sobre Mudanças Climáticas clama por
proteção à Mãe Terra
Durante Seminário Nacional do Fórum de Mudanças
Climáticas e Justiça Social (FMCJS), em Brasília, o professor Heitor
Scalambrini (PE) e Zoraide Vilasboas (BA), representantes da Articulação
Anti-nuclear Brasileira, defenderam o uso de energias renováveis e negaram que
a fonte nuclear seja limpa, já que sua cadeia de produção é cara, suja e
perigosa, sendo, portanto, econômica, social e ambientalmente insustentável.
O convite à luta contra a exploração irresponsável dos
recursos naturais do planeta por parte dos capitalistas e suas consequências
sobre as mudanças climáticas é o foco principal da carta final do evento,
promovido pelo FMCJS.
Íntegra da Carta aprovada por mais de 100
participantes do Seminário
PRECISAMOS REESCREVER O FUTURO AGORA!
Viemos de todos os estados brasileiros, do Distrito
Federal, das comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, da agricultura
familiar, das cidades, dos movimentos sociais e populares do campo, das
florestas, das águas e das cidades, todxs violentadxs por projetos
extrativistas e de infraestrutura como hidrelétricas, termoelétricas, energia
eólica e nuclear, transposição de rios, mineração, pecuária, extração de fontes
fósseis (convencionais e não convencionais), expansão da monocultura e do
agronegócio, agrotóxicos, projetos de créditos de carbono, desastres ambientais
que geram migrações forçadas e projetos urbanos que expulsam comunidades. Em
Brasília, no Seminário Nacional do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça
Social, de 25 a 28 de outubro de 2016, refletimos sobre as mudanças climáticas,
socializamos os gritos, nos fortalecemos para enfrentar os megaprojetos
patrocinados pelo sistema capitalista, por meio de corporações e governos que
atentam contra a vida da Mãe Terra, de suas Filhas e Filhos.
Motivados pela espiritualidade dos povos da floresta,
das águas, do campo e das cidades, em uma só voz denunciamos as faces desse
desenvolvimento perverso, que produz o Ecocídio, o Etnocídio e o Genocídio da
Mãe Terra e alimenta o capitalismo financeirizado, globalizado e agressivo.
Denunciamos a falácia da “Economia Verde”, que mercantiliza e privatiza rios,
oceanos, florestas, o ar e a Mãe Terra, expulsando suas filhas e filhos em
favor de projetos que produzem morte cultural, econômica, social e
organizacional de povos e comunidades tradicionais, camponeses e comunidades
urbanas.
Somando-se à voz dos povos originários, a ciência
revelou que chegamos a uma nova época geológica, chamada de ”Antropoceno”.
Nele, a humanidade, com uma responsabilidade bem maior por parte dos mais ricos
e que mais consomem, tornou-se uma força indutora de impactos profundos e
irreversíveis em escala global. Impactos que incluem a 6ª grande extinção de
espécies da história terrestre, um domínio destrutivo sobre a maior parte das
terras e da água doce, a acidificação dos mares, a destruição da camada de
ozônio. Incluem, sobretudo, uma radical mudança do clima da Terra provocada
pelo aumento exponencial da concentração dos gases de efeito estufa pela queima
de combustíveis fósseis, desmatamento, etc. São frutos envenenados de uma
economia da morte.
As mudanças climáticas já aumentaram em 1,2°C a
temperatura do planeta desde o início da era industrial, provocando efeitos
extremos, tais como furacões, secas, tempestades, ondas de calor, elevação
crescente do nível do mar. Ameaçam a vida de milhões de seres humanos e de
outras espécies. É o maior desafio jamais posto diante da humanidade.
Precisamos agir para deter essas mudanças. O causador destas aflições é o modo
capitalista de desenvolvimento, que prioriza o lucro e a acumulação, e não o
atendimento das reais necessidades materiais e imateriais da humanidade, que
confunde desenvolvimento com mero crescimento físico. Estamos perto de esgotar
os bens naturais e é urgente determos a voracidade do crescimento capitalista.
Constatamos que, sem superar o sistema do capital, o Planeta mergulhará no caos
e a vida nas formas conhecidas desaparecerá. Para viver, precisamos de
alimentação boa e saudável, beleza e amor, e não de alimentos e água
contaminados, pobreza e egoísmo. A produção contínua de desigualdades sociais e
a destruição de comunidades humanas e seus modos de reprodução ampliada da vida
tornam o sistema insustentável. De quanto tempo a fração privilegiada da
humanidade vai precisar para descobrir que não se come dinheiro nem se bebe
petróleo?
O predomínio antagônico do homem sobre a mulher e
sobre a Mãe Terra, de nossa espécie sobre as demais, do capital sobre o
trabalho, da riqueza material sobre a não material, da ilusão de que a técnica
resolve tudo, e das corporações sobre os povos da Terra anula o sentido
participativo da democracia. Reconstruir as sociedades humanas de baixo para
cima começa com a organização de comunidades intencionais onde as pessoas vivem
e trabalham. Produzir e consumir localmente; partilhar solidariamente nossos
excedentes; promover saúde coletiva; garantir espaços de mobilidade ativa,
ferrovias para passageiros e cargas, e transporte público includente,
multimodal e de qualidade; assegurar terra para quem dela necessita para viver
e trabalhar; universalizar a permacultura, a agrofloresta e a agroecologia;
acolher os que sofrem as mazelas espalhadas pelo capital; receber refugiados
climáticxs com braços, portas e fronteiras abertas para a partilha; construir
uma economia do suficiente (bens materiais), e da abundância em qualidade de
vida – lazer, comunicação, artes, amizade, amor, felicidade, criando o ambiente
político, social, natural e espiritual propício para que cada pessoa desenvolva
sempre mais plenamente seus potenciais individuais e coletivos – este é o
sentido maior da vida humana.
A economia da vida promove a descentralização do poder
político, econômico e cultural, e a valorização da unicidade (comunidade da
vida que habita a Casa Comum) e da diversidade humana e biológica. Promove o
empoderamento das comunidades para planejarem e implementarem o seu próprio
desenvolvimento de forma autogestionária, solidária, sustentável, e articuladas
entre si em escala sucessiva até o âmbito nacional e global. Com a posse
compartilhada dos bens produtivos e o planejamento participativo superam-se os
riscos da superprodução, do descarte e da especulação; em vez da privatização,
o cuidado e a partilha dos bens comuns. A matriz energética se reerguerá num
modelo descentralizado de produção e consumo da escala comunitária até a
nacional. A educação para a vida ensinará valores e métodos da partilha dos
bens produtivos e da troca solidária, ou doação dos excedentes, da
reciprocidade voluntária, da restauração e da conservação dos ecossistemas.
O futuro escrito pelo capital é de destruição e morte,
mas já está sendo reescrito na sabedoria representada pelos povos originários e
demais comunidades tradicionais, e por outras formas de comunidades
intencionais, como comunidades camponesas, ecovilas e ecocidades. Aprendamos
com eles o modo de vida simples, compartilhado e rico de tradições ancestrais,
o seu cuidado com o meio natural e a sua espiritualidade enraizada na
Mãe-Terra, na perspectiva da construção de sociedades do bem viver! (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário