terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Perdas de solo e água em área de nascente


Perdas de solo e água em área de nascente estratégica para o Sistema Cantareira


O uso e ocupação de áreas de alta declividade favorecem, quase sempre, perdas de solo por erosão que é uma das principais responsáveis pela degradação do solo, com prejuízos à produtividade agrícola e às atividades econômicas relacionadas à agricultura. Esta erosão é causada pela energia cinética da água da chuva gerada pelo impacto das gotas no solo, promovendo a fragmentação dos seus agregados e o transporte das partículas via escoamento superficial.

A retirada da vegetação nativa, notadamente das florestas, para o uso agrícola sem considerar a capacidade de suporte do solo (Freitas et al., 2012), tem como resultado imediata a sua exposição e, consequentemente, sua degradação pela erosão hídrica, ocasionando perdas de partículas/agregados, nutrientes, carbono orgânico (Oliveira et al., 2012), além de reduzir a recarga de água (Lima et al., 2013). O controle da erosão hídrica é umas das principais medidas para a conservação do solo e da água em uma sub-bacias hidrográfica, visando o uso e manejo do solo de forma sustentável.

A sub-bacias do Ribeirão das Posses, localizada no município de Extrema/MG, constitui exemplo de área submetida à retirada de grande parte da vegetação nativa ocorrida a mais de um século, além de ser de grande importância ambiental não só por estar inserida nos altiplanos da Serra da Mantiqueira em local de grande fragilidade, mas também e, principalmente, por fazer parte do conjunto de nascentes que compõe os principais cursos d’água que abastecem o Sistema Cantareira, como também a Bacia do PCJ.

O presente trabalho foi realizado na margem esquerda do Ribeirão das Posses, próximo à nascente principal, a partir de uma sequência com dois tipos de cobertura vegetal (mata nativa e pastagem), envolvendo dois tipos de Cambissolos, dois tipos de Argissolos e dois tipos de Neossolos Litólicos (EMBRAPA, 2013), constituindo assim seis pontos de amostragem e estudo. Nessa topossequência, a cobertura de mata corresponde a 10% da área e o restante (90%) por pastagem.

As perdas de solo e água, avaliadas em um período de chuva entre maio e setembro de 2016, com precipitação acumulada de 251,3mm, e depois projetadas para o ano (por hectare e para toda a bacia – 1.200 ha), considerando a precipitação média da área em torno de 1.447mm (ANA, 2008), foram comparadas entre as diferentes coberturas (mata e pastagem), com o intuito de mostrar que o tipo de uso e ocupação interfere de forma expressiva no ambiente, sobretudo na qualidade do solo e, consequentemente, na sustentabilidade do sistema agrícola existente.

Área de trabalho

Localização e caracterização da área estudada

Área de estudo

O presente trabalho foi desenvolvido na sub-bacia das Posses, Extrema, MG, localizada na porção sul da Serra da Mantiqueira. Apresenta relevo declivoso e bastante movimentado. O uso do solo predominante é pastagem extensiva com ausência de práticas conservacionistas; possui área 1.196,7 ha e se encontra entre as coordenadas 46°14’W e 22°51’S e entre as altitudes de 968 a 1.420 m. Esta sub-bacia está incluída como piloto no Programa Produtor de Água da Agência Nacional das Águas – ANA, o qual visa recuperar bacias hidrográficas com foco nos recursos hídricos (ANA, 2008), sendo a primeira a ter o Projeto Conservador das Águas implantado no município de Extrema, conforme a Lei Municipal n° 2.100/05. A área estudada, localizada na margem esquerda do Ribeirão das Posses, encontra-se entre as coordenadas 22º 52’ 50.65” S e 46º 15’ 32.73” W e 22º 52’ 53,75” S e 46º 15’ 23.77” W e contempla os pontos 1 a 6, como indicados na topossequência (Figura 1).
Figura 1. Localização da área de trabalho com os 6 pontos/locais experimentais.
P1 - 22º52”50.65”S e 46º15’32.73”W;
P2 - 22º52’50.97”S e 46º15’32.05”W;
P3 - 22º52’51.62”S e 46º15’30.65” W;
P4 - 22º52’52.53”S e 46º15’28.37”W;
P5 - 22º52’53.50”S e 46º15’25.36”W;
P6 - 22º52’53.75” S e 46º15’23.77”W.
Esquema experimental
O esquema experimental utilizado foi em parcelas de 1 m2 (calhas tipo Gerlach), com três repetições (R1, R2 e R3) por local ou ponto, considerando seis locais/pontos (P1 a P6), sendo o P1 sob cobertura de mata nativa e os demais pontos (P2 a P6) sob cobertura de pastagem – Brachiaria decumbens (Bd)), com a geração do fatorial: 3 x 6 = 18.
Caracterização dos solos
Os solos foram classificados com base no levantamento realizado por Da Silva et al. (2013), e detalhados em campo pelos autores do presente trabalho, estando representados pela classe dos Cambissolos (CH1 e CH2), Argissolos (PVA1 e PVA2) e Neossolos Litólicos (RL1 e RL2), de acordo com EMBRAPA (2013).
Resultados
Tabela 1. Média anual de perda de água (via enxurrada) e dos solos (sólidos) estudados, por hectare, para toda a Bacia do Ribeirão das Posses.
Considerações finais e recomendações
As perdas totais de solos projetadas por ano por hectare e para toda a bacia não são expressivas (39,79 kg/ha e 47.756 kg para toda a bacia), mas as de água via enxurrada merecem atenção especial (1.528,56 m3/ha e 1.836.276 m3/ano).
Recomenda-se uma reavaliação do manejo da área de pastagem com a sugestão de implantação de terraços em nível, principalmente para minimizar as perdas de água, via enxurrada, que são mais expressivas do que as perdas de solo.
A infiltração mais eficiente da água na área de pastagem contribui não só para o recarregamento do lençol freático, como também interfere de forma positiva no fluxo preferencial em direção ao curso d’água (Ribeirão das Posses), tornando seu volume mais estável/uniforme ao longo do ano. Tal cenário, evidentemente, favorece o aumento da vazão do Rio Jaguarí, refletindo positivamente no aumento da disponibilidade hídrica para o Sistema Cantareira. (ecodebate)

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