O
aquecimento global é uma realidade cada vez mais impactante. Uma elevação de 50
cm nas águas do mar terá efeitos danosos na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, que é a maior e mais complexa aglomeração urbana da zona costeira
brasileira, com mais de 12 milhões de habitantes. Os problemas já se acumulam e
derrubada de um trecho da ciclovia Tim Maia, no dia 21/04/2016, é apenas um
exemplo.
Mas
se as previsões mais recentes dos cientistas se confirmarem e o nível do mar
subir entre 1,8 metros (6 pés) a 2,1 metros (7 pés) até o ano 2100 (Alves,
30/11/2016), então grande parte da cidade do Rio de Janeiro vai ficar debaixo
d’água e as áreas de areia das principais praias das cidades – como Copacabana,
Ipanema, Leblon, Barra da Tijuca, etc. – vão desaparecer (primeiro na maré alta
e depois na maré baixa) engolidas pelas ondas e o avanço das águas salgadas.
A
ocupação demoeconômica da cidade do Rio de Janeiro se propagou pelas três
baixadas litorâneas: a baixada da Guanabara, a de Jacarepaguá e a de Sepetiba,
que são delimitadas pelas elevações de três maciços costeiros: o maciço da
Tijuca, o da Pedra Branca e o do Gericinó-Medanha. A combinação de montanhas
com a elevação do nível do mar torna as áreas baixas da cidade muito
vulneráveis às inundações e enchentes. Se o nível do mar subir não haverá como
escoar as águas das chuvas e tempestades.
A
região oeste da cidade do Rio de Janeiro deve ser a mais afetada pelos
resultados das mudanças climáticas. Toda a Baia de Sepetiba e área que vai de
Grumari até a Barra da Tijuca deve ficar coberta de d’água (na preia-mar e nas
marés de sigízia) se o nível do mar subir mais do que 1 metro. Os prejuízos
econômicos serão colossais.
Assim,
grande parte da zona norte da cidade do Rio de Janeiro também pode ficar
debaixo d’água e a enorme poluição da Baia da Guanabara vai se voltar contra a
população mais pobre e os poluidores. A ilha do Fundão, que abriga a UFRJ, e
até os aeroportos do Santos Dumont e do Galeão também devem ficar debaixo
d’água ou ter suas operações paralisadas nos momentos de ressaca e elevação das
ondas.
As
cidades de Duque de Caxias, Guapimirim e São Gonçalo (com milhões de
habitantes) serão as mais afetadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro
(RMRJ). Todo o sistema de transporte pode ficar paralisado e as rodovias
ficarem fora de circulação afetando a mobilidade urbana e afetando gravemente
as atividades econômicas da RMRJ.
É
claro que este processo de naufrágio de amplas áreas da região metropolitana e
o fim das principais praias da “cidade maravilhosa” vai acontecer de forma
lenta, contínua e progressiva. Primeiro o mar deve ocupar as partes de areia
das praias, inviabilizando a sua utilização nos momentos de maré alta. Quanto
mais subir o nível do mar, mais difícil será o escoamento das águas da chuva
nos momentos de temporais que são frequentes no verão carioca.
Mas
os desastres já estão acontecendo. Duas pessoas morreram quando um trecho da
ciclovia Tim Maia foi derrubado pela fúria das ondas, no feriado de Tiradentes,
em 21/04/16. Em 29/10/16 a translação do mar destruiu um trecho do calçadão do
Leblon e invadiu a avenida Delfim Moreira, levando areia e entulho até a
calçada dos prédios, gerando prejuízos nas garagens dos edifícios de um dos
bairros mais ricos da cidade. A estrutura do Mirante do Leblon foi atingida e
danificada.
Nos
momentos de turbulência climática (ventos fortes, ressaca e chuva forte), a
inundação das principais ruas da cidade podem paralisar todas as atividades
econômicas e causar grande prejuízo patrimonial e humano. Mas em vez de se
preparar para os riscos futuros, a Prefeitura do Rio apostou na gentrificação
do Porto Maravilha. A maior parte das obras olímpicas e dos bilhões de Reais
gastos na revitalização do centro do Rio poderá ficar debaixo d’água. O futuro
do Museu do Amanhã pode ficar submerso.
A
praia de Copacabana é um símbolo da cidade do Rio de Janeiro. A “Princesinha do
Mar” pode ficar inundada nos momentos de maré alta, até meados do século XXI e
desaparecer totalmente até o início do século XXII. Para evitar a inundação da
avenida Atlântica pode ser que a prefeitura erga um muro para conter o avanço
do mar. Mas isto vai significar a ruptura entre a cidade e o oceano, mostrando
uma cidade apartada e afastada de sua base natural. Seria um “apartheid
geográfico”, com a população sem a sua maior e mais democrática área de lazer.
O
fim da praia de Copacabana significaria dizer que os cariocas não terão o
“maior réveillon do mundo”. O Rio de Janeiro é uma cidade que depende do setor
de serviços e que conta com o fluxo de turistas para manter a sua economia.
Portanto, sem as praias do Leme ao Pontal a “Cidade Maravilhosa” pode sucumbir
e terá grande dificuldade para se reinventar.
Estudo
da Firjan, mostra que o tempo que as pessoas perdem atualmente para ir e vir do
trabalho na Região Metropolitana do Rio de Janeiro gera um prejuízo de R$ 24,3
bilhões. O levantamento considera como o custo do deslocamento de três milhões
de moradores que levam mais de 30 minutos no trajeto de ida e volta para o
trabalho afeta a produção. Em média, cada um gasta 2 horas e 21 minutos por dia.
Imaginem a imobilidade urbana quando a avenida Brasil, o aterro do Flamengo, a
avenida Atlântica, avenida Lúcio Costa e tantas outras vias ficarem debaixo
d’água!
Este
é o cenário mais provável se o aquecimento global não for revertido e se o
mundo não for além das propostas aprovadas no Acordo de Paris, da COP-21.
Artigo de Nicola Jones, no site e360 Yale, coloca com clareza as tendências
mais recentes. Ela começa dizendo que 99% do gelo de água doce do planeta está
preso nas calotas da Antártica e da Groenlândia e que o degelo, especialmente
desta última, poderá fazer o nível do mar aumentar 1,8 metros (6 pés) no século
XXI e muito mais no século XXII. Isto é suficiente para colocar o litoral do
Rio debaixo d’água.
Mas
antes mesmo do aumento significativo do nível do mar, as inundações tendem a
ficar cada vez mais constante, como nesta foto de enchente em frente ao
Copacabana Palace.
Poucos
dias antes das Olimpíadas de 2016, a ressaca invadiu o calçadão de Copacabana,
como pode ser visto nas fotos e nos links dos vídeos das referências abaixo.
Esta situação, no futuro, tenderá a se repetir várias vezes por ano e poderá
chegar a algumas vezes por mês dependendo do ritmo de subida do mar. Seria o
começo do fim.
No
atual ritmo, grandes cidades do mundo, e até nações insulares, vão desaparecer
ou serem amplamente afetadas. Assim, é bom aproveitar o réveillon de 2016, mas
tendo consciência de que a existência do réveillon das futuras gerações, em
Copacabana, pode estar com os dias contados e em grande perigo. (ecodebate)
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