“Deus
quer evitar o mal, mas não pode fazê-lo? Então não é onipotente.
É
capaz de evitar, mas não quer? Então é malvado.
Deus
pode e quer evitar o mal? Então por que permite a maldade?
Deus
não pode e nem quer evitar o mal? Então por que chamá-lo Deus”-
(Epicuro de Samos, 341-270 a.
C.)
A
secularização pode ser definida como o fenômeno por meio do qual a religião
perde a predominância na determinação das atividades do dia a dia na vida
social e cresce o número de pessoas que se declaram sem religião ou com
desafeição às religiões institucionalizadas.
Nessa
concepção, a América Latina e o Caribe (ALC) tem passado por um aumento da
secularização, pois, além da menor dominação dos símbolos religiosos sobre as
instituições, cresce o número de pessoas que se declaravam sem religião que, na
média da região, estava em torno de 1% em 1970 e chegou a 8% em 2014.
O Uruguai é
o país mais secularizado de todo o continente americano, com 37% da população
se declarando sem religião, sendo 10% de ateus e 3% de agnósticos. A laicidade
tem uma longa tradição no Uruguai. Em 1861, o governo nacionalizou os
cemitérios em todo o país, rompendo o controle que existe pelas igrejas. Logo
depois, o governo proibiu as igrejas de ter papel protagonista na educação
pública ou emitir certificados de casamento. No século XX, uma nova
constituição consagrou a separação entre religião e esfera pública.
O
percentual de pessoas sem religião na República Dominicana e entre a população
hispânica dos EUA ficou empatado em 18%. Em seguida aparece o Chile com 16% de
pessoas sem religião, sendo 2% ateus e 3 agnósticos. El Salvador tinha 12% sem
religião. A Argentina com 11% sem religião, sendo 4 ateus e 1% agnóstico.
Honduras tinha 10% sem religião, sendo1% de agnósticos. Costa Rica com 10% de
sem religião e 1 agnóstico. Brasil com 8% sem religião e 1% agnóstico. O país
menos secularizado era o Paraguai com somente 1% de pessoas sem religião.
No Brasil,
o percentual de cristãos (católicos + evangélicos) caiu de 97%, segundo o censo
demográfico de 1970, para 96% em 1980, para 92% em 1991, para 89% em 2000 e
para 87% no último censo, do IBGE, de 2010. Concomitantemente, o percentual de
pessoas que se declaram sem religião passou de 0,8% em 1970, 1,6% em 1980, 4,7%
em 1991, 7,4% em 2000 e 8,0% em 2010.
As diversas
pesquisas do Instituto Datafolha mostram um crescimento mais acelerado do
percentual de pessoas sem religião no Brasil. Em agosto de 1994 havia 5% de
pessoas sem religiões no país, passou para 7% em abril de 2014 e para 14% em
dezembro de 2016.
Contudo,
este número é muito diferenciado nos municípios. Por exemplo, a cidade de Chuí
no Rio Grande do Sul, quase na divisa com o Uruguai, é onde o percentual de pessoas
sem religião é a mais alta do país, conforme mostra a tabela abaixo. No ano
2000 havia 38,5% de pessoas sem religião em Chuí e este percentual passou para
54,2% em 2010.
Mas há
outras cidades no Brasil com alto percentual de pessoas sem religião: Gaúcha do
Norte, MT, com 40,1%, Álvaro de Carvalho, SP, com 38,4%, Roteiro, AL, com
38,3%, Barra de Santo Antônio, AL, com 35%.
Parece que
os ventos secularizantes vão continuar soprando no Brasil e fazendo com que a
categoria de pessoas que se declaram sem religião cresça em volume. O
percentual de sem religião é maior entre os homens e os jovens que nasceram
depois de 1980. Isto quer dizer que a tendência a uma maior secularização deve
aumentar na medida em que estas gerações mais jovens envelheçam e o Brasil se
torne um país mais plural em termos religiosos.
Além disto,
o Brasil está abaixo da média do Global Index of Religiosity and Atheism (2012)
do WIN-Gallup International, que aponta uma média mundial de 23% para as
pessoas que se declaram sem religião e de 13% para os que se declaram ateus.
Portanto, o aumento da secularização da ALC está indo na direção de se
aproximar da média mundial. Nos EUA o percentual de pessoas sem religião passou
de 7% na década de 1990 para 23% em 2014.
Como mostra
Phil Zuckerman, os países com alto índice de pessoas sem religião, em vez de
serem bastiões de pecado e corrupção (como o direito cristão sugeriu que uma
sociedade sem Deus seria), são países que estão no topo do “índice de
felicidade” e desfrutam de sociedades saudáveis, que possuem algumas das taxas
mais baixas de crimes violentos no mundo.
No caso da
ALC, um sinal da perda de influência da Igreja Católica (mas também das
evangélicas) é que o “sacramento” do casamento religioso é cada vez mais infrequente
na região. Praticamente, em todos os países latino-americanos diminui o
percentual de casamentos religiosos e cresce o percentual de casamentos
consensuais e, também, o número de nascimentos fora do casamento legal. Por
exemplo, segundo o IBGE, no Brasil o percentual de casamentos “civil e
religioso” era de 63,8% em 1980 e caiu para 42,9% em 2010. O percentual de
casamentos “só religioso” era de 8,1% em 1980 e caiu para 3,4% em 2010.
A
prevalência de métodos contraceptivos modernos é muito elevada em toda a ALC e
a Taxa de Fecundidade Total já está próxima do nível de reposição. Os
equivocados ensinamentos da encíclica Humanae Vitae são, cada vez, mais
desrespeitados pelos cristãos. É urgente a necessidade de rever essa encíclica
do Papa Paulo VI que completará 50 anos em 25/07/2018.
Mas como
mostrou Peter Berger, o crescimento da secularização não se dá em função do fim
das religiões, mas sim pelo crescimento do pluralismo.
A
diversificação religiosa e o crescimento do Estado Laico fazem com que diversas
instâncias da sociedade funcionem de acordo com a lógica da ciência e os
critérios lógicos da racionalidade e não em termos de dogmas religiosos. Nesse
sentido, na média da região, a América Latina e Caribe, mesmo com ampla
predominância cristã, está cada vez mais plural e secularizada. (ecodebate)
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