As
exigências do mundo urbano fizeram com que o tratamento da água passasse a ser
uma política pública de saúde. Governos foram obrigados a melhorar e expandir
os serviços de saneamento no início do século XX porque a qualidade da água
consumida pelas populações de algumas cidades estavam aquém do aceitável de
acordo com as autoridades sanitárias da época. Grande parte deste processo
deve-se ao avanço da Ciência que resultou na conclusão de que existia uma
relação entre algumas doenças e o consumo de águas contaminadas. O tratamento
da água buscava garantir a diminuição destas doenças transmitidas por bactérias
para as populações consumidoras.
Mesmo
com o avanço no tratamento da água, todos nós sabemos que nem sempre (mais
frequente do que desejamos) a nossa água é bem tratada. Resta a muitas
pessoas pagar por uma água que acreditam ser pura, a exemplo da água mineral
engarrafada. A crença na pureza da água engarrafada alimenta a venda deste
“produto” por empresas brasileiras e, nos últimos anos por multinacionais,
gerando muito lucro com este comércio, embora o aumento exponencial do seu
consumo contribua para o avanço da exploração desenfreada das suas fontes.
O
hábito de beber água engarrafada popularizou-se muito recentemente em parte
pelo medo de que a água que abastece as nossas casas esteja contaminada pela
falta de um tratamento adequado e seja impura. Por estarem armazenadas no
subsolo, há uma crença de que as águas minerais estão protegidas. Mas seria
isso verdade com relação aos agrotóxicos que penetram nos lençóis freáticos,
por exemplo? Entretanto, como bem mostra o vídeo A História da Água Engarrafada, os
consumidores podem, em alguns casos, estar consumindo uma água não tão pura
como imaginam. Em outros casos, a água engarrafada não é mineral e sim água
adicionada de sais. Temos ainda as águas gaseificadas artificialmente,
resultado de um processo industrial, diferente da água com gás natural.
Os
brasileiros estão entre os dez maiores consumidores deste “produto” em mundo
que engarrafa mais de 300 bilhões de litros de água por ano. É um negócio que
movimenta muito dinheiro e é bastante lucrativo. Como não ser lucrativo um
“produto” que já vem pronto para o consumo e basta ser embalado e transportado
para o local da venda?
Razões
para consumir menos água engarrafada
Nos
países nórdicos o consumo de água mineral caiu em parte porque foi constado que
a qualidade da água da torneira é superior à engarrafada e estudos mostraram o
desperdício de recursos naturais, entre outros, com o seu transporte da fonte
até chegar aos consumidores (Pietila et al, 2013). Além disso, o descarte das garrafas plásticas
utilizadas para o seu engarrafamento é uma verdadeira praga para os rios e os
oceanos, sem contar que muitas das garrafas descartadas nos países do
norte do globo vão parar nos lixões de países de outros continentes (Barlow,
2009). A cidade de Londres planeja instalar fontes de água pela cidade para
evitar o consumo de água engarrafada e o descarte de plástico no meio ambiente.
Apenas a questão dos plásticos que poluem o planeta já valeria como um bom
motivo para consumir água engarrafada apenas quando não houvesse outra opção.
Além dos motivos já elencados acima, muitas vezes um litro de água mineral
custa mais do que um litro de gasolina. Motivações como essa fizeram surgir no
Canadá o movimento Ban the Bottle para
desencorajar o consumo de água engarrafa e no Brasil há um sítio eletrônico
chamado Água na Jarra que
incentiva o consumo de água tratada não engarrafada em eventos e restaurantes.
Mercado
que movimenta milhões no mundo, a água engarrafada entrou no rol de produtos
muito rentáveis para grandes empresas. No caso brasileiro, este mercado é
dominado ainda por muitas empresas locais, mas a tendência é que as grandes
empresas comecem a abocanhá-lo. Mas por que o interesse das multinacionais pelas
nossas águas minerais? Com o avanço do conhecimento científico sobre os
malefícios dos refrigerantes e outras bebidas industrializadas, muitas pessoas
voltaram-se para o consumo dos chás ou das águas minerais como uma opção mais
saudável e isso afetou o faturamento das indústrias dos ramos de refrigerantes.
O novo foco é a venda de água mineral e chás, já que a venda de seus produtos
açucarados como os refrigerantes estão em queda em todo mundo dado a epidemia
de obesidade. O passo mais lógico do ponto de vista mercadológico para as
empresas do ramo das bebidas foi adentrar em um mercado em ascensão e é
exatamente isso que elas estão fazendo.
As
garrafas de plástico não são sustentáveis.
A
chegada das grandes empresas na exploração das fontes de água mineral também
traz o medo do descompromisso com o meio ambiente. O caso mais famoso até agora
no Brasil foi o das fontes das águas minerais de São Lourenço, em Minas Gerais,
concedidas para exploração à Nestlé nos anos noventa. O conflito entre moradores
daquele município mineiro e a multinacional suíça revelou que algo novo estava
acontecendo no mercado das águas minerais nacionais. A Nestlé é acusada por
moradores daquele município de causar dano ambiental porque algumas fontes
secaram com a exploração exaustiva feita pela empresa, segundo alguns moradores
da cidade.
Mas
não é apenas em São Lourenço que há conflitos envolvendo a exploração de água
mineral em Minas Gerais. Organização sociais reclamam que o Governador do
Estado, Fernando Pimentel, está tentando privatizar a CODEMIG –Companhia de Desenvolvimento Econômico de
Minas Gerais – e
as populações de algumas cidades do sul de Minasdenunciam que pode acontecer com as fontes de águas minerais daqueles
municípios o mesmo que aconteceu em São Lourenço, já que a proposta do
governador petista é repassar 49% das ações da CODEMIG para investidores
privados e isso pode influenciar as decisões sobre concessões para a inciativa
privada explorar as fontes de águas minerais daquelas
localidades, fato já consumado em Caxambu e Cambuquira recentemente quando
estas tiveram algumas de suas fontes concedidas por 15 anos (podendo ser
renovadas por mais 15 anos) para empresas privadas. Araxá, Lambari e Contendas também estão na fila da CODEMIG
para o mesmo processo. Vale destacar aqui o valor terapêutico dessas águas.
Estas cidades são visitadas durante todo o ano por turistas que querem beber ou
aproveitar os banhos receitados como terapias para a cura de várias doença.
Muitas
águas engarrafadas contêm toxinas.
O
medo de muitos que se opõem a exploração das nossas águas minerais por grandes
empresas é que se repita o que já aconteceu com tantas outras das nossas
riquezas naturais como o Pau-Brasil e o ouro, para citar dois exemplos. Como de
praxe, empresas vem, lucram, exploram a exaustão e vão embora. É um ciclo
vicioso que não para e move a roda da fortuna parando sempre no mesmo lugar, e
este nunca é o dos mais pobres. Algumas coisas que podemos fazer para começar a
mudar esta situação é começar a denunciar a exploração desenfreadas das nossas
águas minerais. Porém, o mais importante e urgente é parar de consumir água
engarrafada, fazendo com que ela seja comprada apenas quando estritamente
necessária. Muitas pessoas têm as suas garrafas permanentes que carregam com
água filtrada quando estão na rua, no trabalho ou em eventos. Agindo assim
estaremos protegendo as nossas águas e deixando uma herança que não tem preço
para as gerações futuras. (ecodebate)
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