Pesquisa do IF/USP mostra que caminhão e ônibus são
responsáveis por metade da poluição do ar em SP.
Estudo em condições reais usou medida de etanol na atmosfera para
diferenciar emissões por tipos de veículos.
Para
Paulo Artaxo, um dos autores do estudo, pelos resultados obtidos, “uma redução
de uso de veículos na cidade de São Paulo, aliada à expansão das linhas de
metrô, por exemplo, é o primeiro e mais eficaz modo de minimizar a poluição na
cidade. Um ótimo custo-benefício pode também ser obtido diminuindo as emissões
de poluentes pelos ônibus”.
Pesquisa
coordenada pelo Instituto de Física (IF) da USP calculou que veículos movidos a
diesel, como caminhões e ônibus, são responsáveis por cerca da metade da
concentração de compostos tóxicos na atmosfera, tais como benzeno, tolueno e
material particulado. É um valor muito alto, segundo os pesquisadores,
considerando-se que ônibus e caminhões representam somente 5% da frota
veicular. A região metropolitana de São Paulo tem mais de 7 milhões de
veículos.
O
trabalho, realizado em condições reais, utilizou a medida da quantidade de
etanol na atmosfera para diferenciar as emissões geradas por veículos leves
(carros e motos), das produzidas por veículos pesados (caminhões e ônibus).
O estudo foi publicado nesta segunda, 16 de julho, na revista Scientific Reports, do
grupo Nature.“A estimativa da emissão
de poluentes de cada tipo de veículo é feita geralmente baseada em valores
medidos em laboratório e multiplicado pelo número de veículos nas ruas”, diz o
professor Paulo Artaxo, do IF, e um dos autores do estudo. O problema dessa
metodologia, segundo ele, é que não leva em conta necessariamente condições
reais de condução e manutenção dos veículos, aspectos “chave” para emissão de
poluentes. O estudo publicado agora foi realizado em condições reais.
“Um dos aspectos inovadores desse estudo foi
utilizar o etanol na atmosfera, emitido somente por carros e motos, para
separar a contribuição real de veículos leves, que emitem etanol, e pesados,
movidos a diesel e que não emitem etanol”, complementa Artaxo.
Outros
estudos ao redor do mundo têm focado no papel do uso de biocombustíveis como
etanol, na redução de emissão de poluentes. “O grande diferencial desta análise
foi o foco não no efeito do etanol em si, mas no seu uso como um traçador de
poluentes, permitindo separar pela primeira vez fontes veiculares distintas”,
explica o pesquisador Joel Ferreira de Brito, líder do estudo e cujo
pós-doutorado no IF levou a esses resultados.
Joel
de Brito, líder do estudo, explica que “o diferencial desta análise foi o
foco não no efeito do etanol em si, mas no seu uso como um traçador de
poluentes, permitindo separar pela primeira vez fontes veiculares distintas”.
Impacto dos poluentes
A
professora Luciana Rizzo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que
também integrou a equipe, ressalta que uma das forças do estudo foi conseguir
incluir um grande conjunto de poluentes, inclusive de reconhecido impacto na
saúde humana e no clima, atualmente não regulamentados. É o caso de partículas
de escalas nanométricas, ozônio, acetaldeído, benzeno, tolueno e o “black
carbon”, composto emitido por combustão e responsável pela fumaça preta que
pode ser observada em escapamentos.
Embora
os veículos pesados representem apenas 5% da frota em circulação, o estudo
demonstra que eles emitem cerca de 30% do monóxido de carbono (CO), entre 40% e
45% do benzeno e do tolueno, e 50% do “black carbon”. Esses resultados
foram obtidos durante três meses de medida no centro de São Paulo, na
primavera, um período relativamente chuvoso e de pouca poluição. “Outros
estudos mais extensos, inclusive no inverno, com acúmulo de poluentes na
atmosfera, deve ampliar nossa compreensão do impacto dos veículos na atmosfera
de São Paulo e na sua população”, afirma Ferreira de Brito.
“Pelos
resultados obtidos, certamente uma redução de uso de veículos na cidade de São
Paulo, aliada à expansão das linhas de metrô, por exemplo, é o primeiro e mais
eficaz modo de minimizar a poluição na cidade. Um ótimo custo-benefício pode
também ser obtido diminuindo as emissões de poluentes pelos ônibus”, ressalta o
pesquisador. O professor Artaxo aponta que na Europa são utilizados filtros que
eliminam 95% das emissões dos veículos a diesel, inclusive os ônibus. “É muito
importante que estas novas tecnologias, que são baratas e podem ser adotadas a
curto prazo, sejam efetivamente implementadas em São Paulo e nas grandes
cidades brasileiras”, diz.
Para
Luciana Rizzo, integrante da equipe, uma das forças do estudo foi conseguir
incluir um grande conjunto de poluentes, inclusive de reconhecido impacto na
saúde humana e no clima, atualmente não regulamentados.
O
artigo Disentangling vehicular emission
impact in urban air pollution using etanol as a tracer, publicado em 16/07/2018 pela revista Scientific Reports, do grupo Nature. Ferreira de Brito é o
autor correspondente, e teve um pós-doutorado financiado pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). (ecodebate)
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