A
taxa de fecundidade total (TFT) nos Estados Unidos (EUA) estava em torno de 7
filhos por mulher nas primeiras décadas depois da Independência do país (em
1776). Mas ela caiu ao longo do século XIX e chegou ao nível mais baixo da
série histórica (em torno de 2 filhos por mulher) durante a grande depressão
dos anos de 1930. Com o fim da Segunda Guerra e com o boom econômico que se
seguiu a TFT chegou ao redor de 3,5 filhos por mulher entre 1950 e 1965.
Mas
a TFT voltou a cair e chegou a 2 filhos por mulher no quinquênio 1970-75 e a
1,77 filho por mulher no quinquênio 1975-80 (menor nível em toda a história
americana). Nos anos seguintes houve uma ligeira recuperação e a TFT ficou em
torno de 2 filhos por mulher entre 1990 e 2010. Mas com a recessão de 2008/09,
a TFT ficou em 1,88 filhos por mulher, no quinquênio 2010-15. A Divisão de
População da ONU estima que a TFT vai aumentar ligeiramente no restante do
século, conforme mostra o gráfico abaixo, permanecendo em torno de 2 filhos por
mulher.
Contudo,
o futuro pode não repetir o passado e os EUA podem estar iniciando uma Era de
baixa fecundidade. Dados do CDC (Centers for Disease Control and Prevention)
mostram que a taxa de fecundidade geral (número de nascimentos por 1000
mulheres de 15-44 anos) dos EUA continua caindo mesmo em 2017 e 2018, que foram
anos de grande desempenho econômico. A tabela abaixo mostra que a taxa de
fecundidade geral caiu de 62,5 no primeiro quadrimestre de 2016 para 59,8 no
segundo quadrimestre de 2018 (o nível mais baixo da história).
As
taxas específicas, conforme o gráfico abaixo, mostram que a fecundidade
continua caindo nas idades de 15 a 29 anos. Entre as adolescentes (15-19 anos)
a taxa caiu de 21,8 no primeiro quadrimestre de 2016 para 18,1 no segundo quadrimestre
de 2018. No mesmo período, entre as jovens de 20-24 anos a queda foi de 76,2
para 69,8 e entre as mulheres de 25-29 anos a redução foi de 103,7 para 96,7
nascimentos para cada 1000 mulheres.
No
grupo 20-34 anos a queda foi bem menor, passando de 102,0 para 100,1 entre o
primeiro quadrimestre de 2016 para o segundo quadrimestre de 2018. Isto quer
dizer que a cúspide da fecundidade passou da coorte de 25-29 anos para 30-34
anos. Ou seja, está havendo um envelhecimento da estrutura por idade da fecundidade.
Isto fica claro ao verificar que entre as idades de 35 a 44 anos também houve
ligeiro aumento da taxa de fecundidade geral.
O gráfico abaixo deixa mais claro o processo de envelhecimento da
estrutura etária da fecundidade. Nota-se que no grupo adolescente (15-19 anos)
a taxa específica de fecundidade estava acima de 50 por mil em 1990 e caiu para
menos de 20 por mil em 2017. Os grupos etários acima de 30 anos apresentaram
taxas crescentes, enquanto os grupos etários com menos de 30 anos apresentaram
taxas declinantes. No início da década de 1990, as maiores taxas estavam nos
grupos 20-24 e 25-29 anos, mas em 2017 a cúspide ficou no grupo 30-34 anos.
Estudos
e pesquisas recentes mostram que a fecundidade nos EUA deve continuar
diminuindo, pois cresce o número de pessoas que não desejam ter filhos. Artigo
de Frejka (2017) mostra que o número de mulheres no final do período
reprodutivo sem filho (childless) subiu de cerca de 7% no início da década de
1970 para cerca de 15% na primeira década do século XXI. Pesquisa do Instituto
PEW mostra que 71% das pessoas com menos de 50 anos e com filhos nos EUA não
querem ter novas crianças e, entre os adultos sem filhos, na mesma faixa
etária, 37% dizem que não esperam jamais formar uma prole (serão
childlessness).
Tudo
indica que a projeção da ONU está superestimada e dificilmente a TFT ficará em
torno de 2 filhos por mulher ao longo do século XX. O mais provável é uma
fecundidade abaixo de 1,8 filhos por mulher nas próximas décadas. (ecodebate)
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