A humanidade tem degradado a biocapacidade da Terra e alterado as
condições climáticas do Planeta gerando uma situação, cada vez mais grave, de
caos ambiental, sendo que a desordem na governança global agrava a crise
ecológica e dificulta a implementação de soluções para retirar o mundo da rota
do precipício.
O artigo “Disarray in Global Governance and Climate Change Chaos”, de
Martine e Alves, publicado na Revista Brasileira de Estudos de População
(REBEP), em agosto de 2019, analisa a trajetória da mudança climática e as
limitações dos esforços em andamento para lidar com ela, discute os riscos
ambientais decorrentes das fragilidades da globalização e da desgovernança
global e, finalmente, considera os caminhos e os descaminhos para a resolução
do trilema atual para lidar com os problemas econômicos, sociais e ambientais.
O crescimento das atividades antrópicas (para satisfazer as necessidades
de alimentação, educação, saúde, moradia, etc.), aumenta a emissão de gases de
efeito estufa (GEE) e aceleram o aquecimento global. A utopia do
desenvolvimento sustentável – socialmente justo, economicamente inclusivo e
ambientalmente responsável – tem se tornado uma distopia. O enriquecimento
humano tem ocorrido às custas do empobrecimento da natureza. Existe uma relação
inversa entre o crescimento da produção econômica mundial e o déficit ecológico
global, conforme mostra o gráfico abaixo (Martine e Alves, 2019):
A década de 1990 pressagiou
uma possível fase brilhante na governança global, com a queda do Muro de Berlim
servindo de pano de fundo para o surgimento de uma nova ordem global. As Nações
Unidas lideraram uma busca por consenso internacional por meio de uma série de
Conferências sobre questões vitais que vão desde população e direitos humanos
até a sustentabilidade ambiental. Enquanto isso, os princípios liberais,
inspirados pelo Consenso de Washington, prometiam elevado crescimento econômico
e importantes benefícios sociais para a população mundial. Um quarto de século
depois, as perspectivas de prosperidade, democracia e harmonia global
diminuíram drasticamente.
De fato, a crise ecológica
tem se agravado, enquanto as soluções propostas pela governança global tem
fracassado ou tem sido insuficientes para reverter o caos ambiental. A ONU
continua a representar a personificação do multilateralismo, mas sua
legitimidade tem sido enfraquecida diante do crescimento do nacionalismo e dos
interesses corporativos.
A Agenda 2030 da ONU – Acordo
de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – embora sejam
iniciativas meritórias, são insuficientes e ineficazes para resolver os problemas
estruturais gerados pelo paradigma hegemônico do desenvolvimento e do
crescimento econômico ilimitado, degradador das bases ecológicas do Planeta.
É urgente ir além das
iniciativas atuais e realizar discussões sérias sobre as causas estruturais da
crise ecológica gerada por nossa civilização e pelo modo de produção e consumo
das sociedades em geral, em especial aquelas viciadas no “consumicídio”.
O artigo “Desordem na
governança global e o caos nas mudanças climáticas” (em inglês) pode ser
acessado no link abaixo:
MARTINE, G. ALVES, JED. “Disarray in Global Governance and Climate
Change Chaos”, R. bras. Est. Pop., v.36, 1-30, e0075, 2019 https://www.rebep.org.br/revista/article/view/1317/1001
Resumo: https://www.rebep.org.br/revista/article/view/1317
Os cientistas alertam para o
fato de que a atividade humana no Antropoceno está provocando a transgressão de
vários limites planetários. A equação população, meio ambiente e
desenvolvimento ficou insolúvel. Este artigo revisa a trajetória das mudanças
climáticas, discute as limitações dos esforços atuais para lidar com elas e
analisa a atual crise na governança global, além de refletir sobre os riscos
que esse imbróglio político apresenta para o nosso futuro ambiental. As
respostas globais são ineficazes devido à deterioração do multilaterismo e à
promoção generalizada do crescimento econômico insustentável baseado no
consumismo. O descontentamento com as consequências da globalização
desestabilizou a governança nacional e, no processo, corroeu ainda mais as
perspectivas de uma governança global eficaz para enfrentar crises sociais,
políticas e ambientais simbióticas. A frustração com a globalização está
proporcionando aos populistas uma plataforma para atrair eleitores com esquemas
ingênuos que incluem o negacionismo. Ao mesmo tempo, uma nova divisão do poder
econômico, político e científico está surgindo com a Belt and Road Initiative
da China. Discutem-se caminhos potenciais e obstáculos para o multilaterismo na
tentativa de resolver esse dilema. A fé cega na tecnologia, o negacionismo e a
difusão da cultura de consumo dificultam os esforços multilaterais contra as
ameaças ambientais.
Os 500 dias para o “caos
climático”.
Infelizmente, parece que
eleitores, instituições e políticas só se ajustarão depois que a intensificação
dos desastres climáticos forçar uma mudança radical de mentalidade. (ecodebate)
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