Descarte de resíduos e
proteção dos oceanos em tempos de pandemia COVID-19.
Oceanos em 2050 vão ter mais
plástico do que peixes, alerta Fórum de Davos.
A pandemia de coronavírus
(COVID-19), anunciada em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), ficará marcada por consequências ainda difíceis de mensurar. Inclusive
para a saúde dos oceanos. O cenário é de incertezas e o afastamento social
recomendado pelas autoridades sanitárias tem se transformado em um período de
reflexão e mudança de hábito para a população.
Um dos principais problemas
que já existia mesmo antes desta crise mundial, mas que pode ser agravado, diz
respeito à poluição marinha, especialmente pelo descarte inadequado do lixo. “A
partir do momento em que descartamos os resíduos, eles iniciam um percurso de
destino incerto”, afirma a engenheira Sílvia Astolpho, mestre em saúde pública
e especialista em gestão ambiental.
Esse percurso pode ser feito
inclusive por resíduos descartados em cidades bem distantes do mar. “Plásticos
não coletados e tratados de forma inadequada são carregados pelas águas das
chuvas e pela ação do vento aos canais de drenagem de uma bacia, que capta
essas águas conduzindo-as ao mar”, exemplifica Sílvia.
Cerca de 80% dos resíduos
encontrados nos oceanos têm origem nas cidades.
As consequências são inúmeras
tanto nos aspectos sanitários quanto ambientais de uma maneira geral. Os
impactos desses resíduos na contaminação e redução de recursos naturais causam
prejuízos imensuráveis. “Se a própria atividade humana estiver restringindo a
capacidade de renovação desses recursos, o que suportará nossa existência?”,
questiona a pesquisadora.
O aumento de resíduos plásticos
no mar, de todos os tipos e tamanhos, por exemplo, prejudica diretamente as
espécies. Elas interagem com o plástico basicamente de duas formas: a ingestão
dos resíduos e o “emaranhamento”. A ingestão de plástico, ou microplástico, já
é observada em todos os níveis da cadeia alimentar, desde o zooplâncton até
animais maiores, inclusive os peixes que consumimos.
O impacto ambiental do
descarte inadequado de plástico afeta ainda o contexto atual que vivemos: o
novo coronavírus – causador da COVID-19 -permanece vivo por até três dias no
plástico, conforme informa Sílvia Astolpho. Impedir que esse material se torne
um vetor de contaminação é fundamental para combater a pandemia. E essa
interrupção, defende Sílvia Astolpho, deve ser sustentável do ponto de vista
ambiental. “A interrupção de um ciclo desencadeia novas medidas de controle que
repercutirão por outros ciclos em propagação”.
Poluição marinha
continua
A poluição marinha por
plásticos continua, mesmo com a pandemia de coronavírus, porque o uso de descartáveis
aumentou. Dentre os hábitos que mudaram com a pandemia, está o aumento nos
pedidos de deliveries – e com isso, mais circulação de embalagens de isopor,
por exemplo, que é um material sem circularidade e sem mercado de reciclagem.
Portanto, o plástico segue
sendo um problema, e as empresas continuam sem oferecer embalagens
alternativas, ou com materiais alternativos aos consumidores.
Os mesmos cuidados podem ser
tomados no ambiente doméstico. “Lidar com a realidade trazida pelo vírus
significa regrar-se diante da adoção de um ‘protocolo domiciliar’ de higiene,
atuando na prevenção do contágio, que poderá valer tanto para o COVID-19 quanto
para tantas outras infecções”, afirma Sílvia Astolpho.
A pesquisadora alerta que as
condutas adotadas dentro de casa também devem praticar a sustentabilidade
ambiental, sob a pena de repassar condições adversas a outras cadeias e onerar
o meio ambiente, restringindo seus serviços. “O ato de ficar em casa, em
isolamento social, tem permitido reorientar e reafirmar hábitos de asseio e
higiene, regular ou desregular a alimentação, dentre tantas outras coisas,
permitindo uma análise bastante crítica de nossas escolhas do cotidiano”, diz a
pesquisadora.
Apesar das mudanças nos
sistemas de coleta de lixo anunciadas em várias cidades para reduzir a
exposição dos trabalhadores como forma de combater o COVID-19, ainda existem
muitos funcionários de empresas de limpeza e catadores sendo expostos à
contaminação por meio do lixo.
Medidas de isolamento
aumentam a quantidade de lixo doméstico e hospitalar.
“É preciso que governos e
indústrias adotem medidas para reduzir o volume de lixo descartado,
principalmente de materiais que podem levar a contaminação. Isso protegerá
tanto a sociedade do coronavírus quanto os oceanos da poluição que impacta os
ecossistemas marinhos”, afirma Lara Iwanicki, engenheira ambiental e cientista
marinha da Oceana no Brasil. (ecodebate)
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