Existe
atualmente a banalização da expressão “geronticídio”, como se houvesse um
processo de eliminação da população idosa pela pandemia da covid-19. Contudo, o
número de mortes pelo novo coronavírus está abaixo de 500 mil no mundo e menos
de 50 mil no Brasil e o número de idosos no mundo é de 1 bilhão de pessoas e no
Brasil de 30 milhões de pessoas. As dimensões são completamente diferentes.
Na
verdade, uma das características mais marcantes da atual dinâmica demográfica
mundial é o processo de envelhecimento populacional, isto é, o aumento do
número absoluto e do percentual de idosos no conjunto da população, que ocorre
desde 1950, mas, principalmente, ao longo do século XXI. Estas tendências,
fundamentalmente, não serão alteradas pela pandemia da covid-19.
O
gráfico abaixo mostra o crescimento absoluto (barras e eixo esquerdo) e o
crescimento percentual (linhas e eixo direito) dos idosos em três categorias:
60 anos e mais, 65 anos e mais e 80 anos e mais. Nota-se que o crescimento
registrado e projetado é impressionante no período de 150 anos, mas o ritmo do
envelhecimento na segunda metade do século XX, que ainda se dava de forma
lenta, se transformou em crescimento acelerado ao longo do século XXI, conforme
dados da Divisão de População da ONU.
A
tabela abaixo apresenta os números do gráfico para alguns anos selecionados.
Observa-se que a população total era de 2,5 bilhões de habitantes em 1950,
passou para 7,8 bilhões em 2020 e deve alcançar 10,9 bilhões de habitantes em
2100. O crescimento absoluto foi de 4,3 vezes em 150 anos. Mas se o crescimento
da população mundial foi elevado, muito maior foi o crescimento da população
idosa.
O
número de idosos de 60 anos e mais era de 202 milhões em 1950, passou para 1,1
bilhão em 2020 e deve alcançar 3,1 bilhões em 2100. O crescimento absoluto foi
de 15,2 vezes. Em termos relativos a população idosa de 60 anos e mais
representava 8% do total de habitantes de 1950, passou para 13,5% em 2020 e
deve atingir 28,2% em 2100 (um aumento de 3,5 vezes no percentual de 1950 para
2100).
O
número de idosos de 65 anos e mais era de 129 milhões em 1950, passou para 422
milhões em 2020 e deve alcançar 2,5 bilhões em 2100. O crescimento absoluto foi
de 19,1 vezes. Em termos relativos, a população idosa de 65 anos e mais
representava 5,1% do total de habitantes de 1950, passou para 6,5% em 2020 e
deve atingir 22,6% em 2100 (um aumento de 4,5 vezes no percentual de 1950 para
2100).
O
número de idosos de 80 anos e mais era de 14 milhões em 1950, passou para 72
milhões em 2020 e deve alcançar 881 milhões em 2100. O crescimento absoluto foi
de 61,7 vezes. Em termos relativos, a população idosa de 80 anos e mais
representava somente 0,6% do total de habitantes de 1950, passou para 1,9% em
2020 e deve atingir 8,1% em 2100 (um aumento de 14,4 vezes no percentual de
1950 para 2100).
O
caso brasileiro não é muito diferente da tendência global, mas o processo de
envelhecimento populacional no Brasil é ainda mais rápido, conforme pode ser
comparado no gráfico abaixo, que apresenta percentuais de idosos bem acima dos
percentuais globais.
A
tabela abaixo apresenta os números do gráfico, com dados do Brasil, para alguns
anos selecionados. Observa-se que a população brasileira total era de 54
milhões de habitantes em 1950, passou para 213 milhões em 2020, devendo
alcançar 229 milhões em 2050 e depois cair para 181 milhões de habitantes em
2100. O crescimento absoluto foi de 3,3 vezes em 150 anos (menor do que os 4,3
vezes do crescimento da população mundial).
Mas
se o crescimento da população brasileira total foi elevado, o aumento da
população idosa do Brasil tem sido muito mais intenso do que no cenário global.
O número de brasileiros idosos de 60 anos e mais era de 2,6 milhões em 1950,
passou para 29,9 milhões em 2020 e deve alcançar 72,4 milhões em 2100. O
crescimento absoluto foi de 27,6 vezes. Em termos relativos a população idosa
de 60 anos e mais representava 4,9% do total de habitantes de 1950, passou para
14% em 2020 e deve atingir o impressionante percentual de 40,1% em 2100 (um
aumento de 8,2 vezes no peso relativo entre 1950 e 2100).
O
número de brasileiros idosos de 65 anos e mais era de somente 1,6 milhão em
1950, passou para 9,2 milhões em 2020 e deve alcançar 61,5 milhões em 2100. O
crescimento absoluto está estimado em 38,3 vezes. Em termos relativos, a
população idosa de 65 anos e mais representava 3% do total de habitantes de
1950, passou para 9,6% em 2020 e deve atingir mais de um terço (34,6%) em 2100
(um aumento de 11,5 vezes no percentual de 1950 para 2100).
O
número de brasileiros idosos de 80 anos e mais era de 153 mil em 1950, passou
para 4,2 milhões em 2020 e deve alcançar 28,2 milhões em 2100. O crescimento
absoluto foi de espetaculares 184,8 vezes em 150 anos. Em termos relativos, a
população idosa de 80 anos e mais representava somente 0,3% do total de
habitantes de 1950, passou para 2% em 2020 e deve atingir 15,6% em 2100 (um
aumento de impressionantes 55,2 vezes no percentual de 1950 para 2100).
É
importante destacar que o número total de brasileiros vai atingir o pico
populacional de 229,6 milhões de habitantes em 2045, conforme a revisão 2019
das projeções da ONU. Mas o número absoluto de idosos vai continuar crescendo, sendo
que o pico de idosos de 60 anos e mais (79,2 milhões de pessoas) e de 65 anos e
mais (65,9 milhões) será alcançado em 2075. O pico de idosos de 80 anos e mais
(28,5 milhões) será alcançado somente em 2085. Nas duas últimas décadas do
século XXI o número absoluto de idosos vai diminuir. Todavia, o percentual de
idosos vai continuar subindo, trazendo novos desafios e novas oportunidades.
Todos
estes dados mostram que o futuro do século XXI será grisalho, ou seja, o
percentual de idosos no mundo e no Brasil alcançará cifras recordes, nunca, nem
de perto, vistas na história da humanidade. As economias mundiais e nacionais,
incontestavelmente, terão que lidar com uma estrutura etária desfavorável do
ponto de vista da produtividade e as diferentes nações terão que se preparar
para as consequências de uma alta razão de dependência demográfica. Portanto, a
despeito dos traumas pessoais e de muitas famílias que sofrem com a pandemia,
não existe o perigo de um geronticídio nem no Brasil e nem no mundo. (ecodebate)
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