Este ano, o incêndio está mais forte do que nunca no
Pantanal, no oeste do Brasil. O mar de chamas já ‘devorou’ vários milhares de
quilômetros quadrados da maior zona úmida do mundo.
A brigada de incêndio e as forças armadas têm lutado
até agora contra o incêndio em vão. A área com status de patrimônio natural
mundial da UNESCO, que realmente requer proteção especial, enfrenta a pior
tragédia ambiental de sua história.
De 1º de janeiro a 31 de agosto de 2020 o instituto
de pesquisas espaciais INPE, responsável pelo monitoramento ambiental por
satélite no Brasil, contabilizou 10.316 focos de incêndio no Pantanal, mais de
três vezes mais do que no mesmo período do ano anterior. Desde o início da
vigilância por satélite, em 1998, o INPE nunca registrou tantos incêndios nessa
região nos primeiros oito meses do ano. No final de abril, as chamas devoraram
uma área de 3.686 km2, que é mais de quatro vezes o tamanho de
Berlim.
Os especialistas presumem que, como em anos
anteriores, a maioria dos incêndios foi deliberadamente iniciada para dar lugar
a pastagens de gado e plantações de soja. “Quem ateia fogo no Pantanal é uma
pessoa”, diz André Luiz Siqueira, da organização local de proteção ambiental
Ecoa. »Os incêndios naturais são gerados por raios, que estão sempre associados
à estação das chuvas. Mas como não choveu no Pantanal, fica claro que o homem é
a causa principal «, explica a bióloga.
O desmatamento e a queimada andam de mãos dadas. Só em abril passado, um tribunal do estado de Mato Grosso do Sul autorizou a empresa agrícola Majora Participações a derrubar 42,5 mil hectares no Pantanal Sul. Mas a extensão da conflagração deste ano sugere outra causa: a possível mudança climática permanente. A zona úmida, que depende das chuvas e das inundações periódicas de seus afluentes do planalto central brasileiro, está passando atualmente por uma das piores estações de seca. De acordo com o Instituto Brasileiro de Pesquisa Agropecuária Embrapa, a estação chuvosa de outubro a março, importante para a bacia do Pantanal, registrou 40% menos chuvas do que a média dos anos anteriores.
O pantanal em chamas.
Além disso, o principal afluente, o Rio Paraguai,
tem tão pouca água este ano como não há quase cinco décadas. No município de
Ladário, no Mato Grosso do Sul, onde os níveis de água são medidos há 120 anos,
o nível de água em junho era de apenas 2,1 metros – 3,5 metros abaixo da média
de longo prazo e o menor valor medido em 47 anos. Um estudo da Universidade
Estadual de Mato Grosso também mostra que o volume de água do Rio Paraguai está
diminuindo a cada ano. Para o diretor de pesquisas Ernandes Oliveira Júnior,
isso é claramente uma consequência das mudanças climáticas. Marcos Rosa,
geógrafo da rede de pesquisa MapBiomas, teme que “esta seja uma nova
normalidade em decorrência das mudanças climáticas provocadas pelo homem, que
estão mudando o ciclo das chuvas,
Já em 2015, seu colega Aguinaldo Silva, da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul em Corumbá, alertava sobre as
consequências potencialmente catastróficas das mudanças climáticas para o
Pantanal. Sua equipe internacional de pesquisadores tem estudado mudanças
ambientais na importante zona úmida desde 2000. “Podemos dizer com alguma
certeza que o clima global está mudando e as temperaturas estão ficando mais
quentes”, disse Silva. »Isso pode ter consequências dramáticas para o ciclo da
água do Pantanal e alterar as enchentes anuais do Rio Paraguai. Podem ocorrer
longos períodos de seca que têm um impacto negativo na flora e na fauna”.
Para ele, porém, a maior ameaça ao Pantanal vem do
planalto e das mudanças no balanço hídrico que ali ocorrem devido ao
desmatamento do Cerrado e à disseminação das monoculturas de soja. “Os rios que
deságuam no Pantanal nascem no Cerrado”, explica o geógrafo Marcos Reis Rosa. O
desmatamento faz com que o solo perca sua proteção, o que torna os rios mais
planos e assoreados. Hidrelétricas e barragens agravaram a situação. De acordo
com dados oficiais, havia 41 usinas hidrelétricas nos afluentes do Pantanal em
2017, e mais de 100 estão em planejamento.
Os pesquisadores concordam que, se as ameaças não cessarem, o Pantanal de 150 mil km2, lar de onças, jacarés e centenas de outras espécies de animais, extremamente rico em espécies, está prestes a entrar em colapso – e em um futuro não muito distante. (ecodebate)
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