Há
12 mil anos, no início do Holoceno, a população mundial era de apenas 4 milhões
de habitantes (menos do que a população atual da cidade do Rio de Janeiro) e as
taxas de mortalidade eram muito elevadas. Neste contexto, qualquer crescimento
populacional era comemorado como uma vitória. Ao longo dos séculos, os povos
passaram a comemorar o aumento do número de habitantes, como uma conquista
sobre as forças incontroláveis da natureza. De certa forma, o crescimento
populacional passou a fazer parte do “DNA” das sociedades.
Mas
o quadro começou a mudar quando a população global chegou a 3 bilhões de
habitantes em 1960 e a 4 milhões em 1974. O peso das atividades econômicas do
ser humano ultrapassou a capacidade de carga da Terra. Ao invés da natureza
ameaçar a humanidade foi a humanidade que passou a ameaçar a natureza. Mesmo
assim, o crescimento da população continuou aumentando e chegou a 6 bilhões em
1999 e deve alcançar 8 bilhões de habitantes em 2023. A humanidade gastou cerca
de 200 mil anos para chegar a 4 bilhões de habitantes, mas houve um aumento de
outros 4 bilhões de pessoas nos últimos 50 anos. Desde o início da Revolução
Industrial e Energética, a presença humana aumenta em todos os cantos do mundo,
enquanto diminui a biodiversidade e a vida selvagem.
Mesmo
com todos os sinais de colapso ambiental, há quem continue defendendo o
crescimento populacional. O economista neoliberal, Julian Simon (1932-1998),
que era um negacionista do clima e fundamentalista de mercado (foi um dos
fundadores do movimento free-market
environment), costumava repetir: “quanto mais gente melhor”. Ele fez
escola e há uma proliferação de autores pronatalistas, até mesmo nos Estados
Unidos (EUA).
O
demógrafo Joseph Chamie, publicou um artigo em 2013, no site Yale Global,
propondo que os EUA se tornem o país mais populoso do globo até 2100, com uma
população de 1,6 bilhão de habitantes, montante maior do que as estimativas
para a China e a Índia. Ignorando todas as dificuldades sociais e ambientais
dos EUA, Chamie defendeu o engrandecimento da América, mesmo antes de Donald
Trump.
Os
jornalistas canadenses Darrell Bricker e John Ibbitson lançaram o livro “Empty
Planet: The Shock of Global Population Decline” (2019), onde contestam as
previsões da Divisão de População da ONU que apontam que a população mundial
vai continuar crescendo (mesmo que em ritmo menor) ao longo do século XXI,
devendo alcançar cerca de 11 bilhões de habitantes em 2100.
De fato, o livro “Empty Planet” faz um alarmismo com a possibilidade de um decrescimento da população e assume uma postura pronatalista antropocêntrica e ecocida. Os autores reforçam o mito sobre a possibilidade de um crescimento populacional e econômico ilimitado (“Growthism”), embora maior crescimento populacional tem gerado menos qualidade de vida ambiental e pode levar a um colapso ecológico.
O novo manifesto a favor do “Big is beautiful” é o livro “One Billion Americans: The Case for thinking bigger”, do jornalista Norte-americano Matthew Yglesias, que defende o aumento da população para que o país possa competir com o 1,4 bilhão de chineses e manter a hegemonia americana no mundo. É a ideia do aumento da população para o engrandecimento da população.
Porém, os EUA possuem um déficit ambiental crescente entre 1961 e 2016. Com uma população de mais de 300 milhões de habitantes, os EUA tinha um déficit ambiental de 61% em 1961 e dobrou para 123% em 2016. Evidentemente, o déficit ambiental americano aumentaria muito se a população do país chegasse a 1 bilhão de habitantes.
Kurt Cobb (06/092020) diz: “Estou cada vez mais surpreso com a capacidade de pessoas inteligentes de ignorar completamente as ameaças desestabilizadoras sistêmicas das mudanças climáticas e do esgotamento do solo, água, pesca, energia e metais importantes e fingir que a sociedade global avançará ao longo de linhas de tendência ininterruptas extrapoladas do passado. O caminho para 1 bilhão de americanos, ao que parece, não é caminho algum. É uma fantasia que só se torna plausível se ignorarmos todos os índices de deterioração da saúde planetária”.
No Antropoceno o
mundo caminha para um colapso ambiental. Ao invés do crescimento populacional,
o mundo precisa de decrescimento demoeconômico.
Com menos gente, com redução do PIB e com
regeneração dos ecossistemas, o mundo ainda poderá ter condições de evitar um
colapso sistêmico global e civilizacional. A redução da população dos EUA e a
diminuição da pegada ecológica americana é um condição necessária para o
equilíbrio homeostático do Planeta. (ecodebate)
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